A solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, é o coroamento do ano litúrgico. As leituras bíblicas caracterizam, iluminam e nos fazem compreender a realeza de Cristo. (2 Samuel 5,1-3, Salmo 121, colossenses 1,12-20 e Lucas 23,35-43). O cena central é o Cristo crucificado. O evangelista Lucas destaca que ele está entre dois malfeitores, no lenho onde eram executados os escravos e rodeados de pessoas que o insultavam. Enfim, estava com os pecadores até o momento decisivo da sua vida, como havia afirmado que “veio procurar o que estava perdido” (Lc 19,10).
Na cruz, Jesus prova a solidariedade divina com o mundo dos pecadores. Dali brota a vitória de Deus e a sua gloriosa realeza. Não somente porque Jesus estava entre os maus, mas sobretudo porque venceu as tríplices tentações dos chefes do povo, dos soldados e do malfeitor. Todos tentaram Jesus da mesma forma: “Salva-te a ti mesmo”. Cristo podia salva-se, mas não quis. Ficou solidário com o homem pecador até o final. A morte de Jesus como um delinquente mostra que o amor divino encontra a estrada para chegar ao delinquente. Deus se põe ao lado do homem verdadeiro e do mundo real.
Na cruz, não é Deus que julga os homens. Mas, é Deus que se deixa julgar pelos homens. Responde à violência destrutiva com um novo início, assinalado pelo perdão. Isto significa que o eterno amor de Deus não abandona o homem, nem quando o homem se põe contra Deus. A primeira palavra proferida na cruz é de perdão aos algozes. O malfeitor arrependido suplica: “Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado” Recebe como resposta algo para o presente: “Em verdade eu te digo: ainda hoje estarás comigo no Paraíso”. A vida que nasce da cruz é estar com Cristo, porque onde está Cristo ali está a vida do Reino de Deus.
São Paulo, na Carta aos Colossenses, apresenta características do reino instaurado por Cristo Rei. Convida a render graças por tornar os batizados capazes de participar da luz. Depois, anota as graças recebidas do crucificado: fomos libertados do poder das trevas, recebemos a redenção, o perdão dos pecados, usufruímos da criação, fomos acolhidos na Igreja, que é seu corpo. Cristo “reconciliou consigo todos os seres, os que estão na terra e no céu, realizando a paz pelo sangue de sua cruz”. Por isso, Cristo é o primeiro e o fundamento de toda vida cristã.
O apóstolo expressa uma síntese de verdade e de fé que nos deve deixar admirados. A Igreja tem a missão de oferecer ao mundo o Mistério de Cristo. Aquele que assumiu a vida humana, morto e ressuscitado, constituído Rei do Universo. Isso traz alegria e esperança e, ao mesmo tempo, a responsabilidade de servir a este Rei, testemunhar com a vida e com a palavra o seu senhorio. É preciso anunciar ao mundo a verdade de Cristo, esperança que não decepciona.
No contexto atual, é urgente empenhar-nos em “pacificar” a humanidade para vivermos tempos de paz. No sangue derramado na cruz, Jesus “quis reconciliar consigo todos os seres […] realizando a paz”. Deixar-se governar por Cristo Rei é transformar em fatos os ensinamentos recebidos. No relato do Evangelho, Jesus sofre um conjunto de violências e é tentado a fazer o mesmo, “salva-te a ti mesmo”. Se tivesse retribuído o mal com o mal, multiplicaria a violência e não teria provocado uma transformação profunda na humanidade. As atitudes de Jesus revelam que Deus é amor e a morte de Jesus na cruz é o maior ato de amor de toda a história. Ele inaugura, como reza o prefácio da Missa de Cristo Rei: “um reino da verdade e da vida, reino da santidade e da graça, reino da justiça, do amor e da paz”.
Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo










