A Câmara Municipal de Passo Fundo, por meio da Comissão Especial de Saúde Pública, realizou, na noite desta quarta-feira (1º), uma Audiência Pública para debater políticas de saúde e os desafios enfrentados por pessoas com diabetes mellitus Tipo 1. O encontro reuniu especialistas, representantes de entidades, familiares e vereadores.
A reunião foi conduzida pela presidente da Comissão, vereadora Ada Cristina Munaretto (PL). A mesa oficial foi composta pelo médico endocrinologista Dr. Pérsio Stobbe, representante do Acampamento das Crianças com Diabetes; pelo médico endocrinologista Dr. Tiago Fritzen; pela representante do Conselho Municipal de Saúde, Angelita Rezende; pela representante do Grupo de Mães de Diabéticos de Passo Fundo, Heloisa Fiori Ciarin; e pela vereadora Regina Costa dos Santos (PDT).
Também participaram da audiência os vereadores Cláudio Luiz Rufa Soldá (Progressistas), Edgar Gomes (PSDB), Eva Valéria Lorenzato (PT), Iriel Sachet (Podemos), Marina Bernardes (PT) e Renato Orlando Tiecher (PL).
Qualificação do debate e construção de políticas públicas
Em sua manifestação, a vereadora Ada destacou a relevância do tema e apresentou dados que demonstram a dimensão do problema no país. Segundo ela, 13 milhões de brasileiros convivem com o diabetes, e o Brasil é o terceiro país do mundo em número de crianças e adolescentes com a doença.
A parlamentar reforçou que a audiência tem o propósito de qualificar o debate e contribuir para a construção de políticas públicas que promovam melhor qualidade de vida às pessoas com diabetes Tipo 1. “É nossa responsabilidade discutir soluções que atendam às necessidades reais dos pacientes e de suas famílias”, afirmou.
O endocrinologista Dr. Pérsio Stobbe chamou atenção para as consequências da falta de acompanhamento adequado. Ele explicou que a expectativa de vida de crianças com diabetes Tipo 1 pode ser reduzida em até 25 anos quando o tratamento não é contínuo e apropriado.
“Se não houver cuidados adequados, dificilmente uma criança diabética chegará aos 50 anos”, alertou, defendendo ações públicas que garantam suporte e acompanhamento especializado.
Já o Dr. Tiago Fritzen defendeu a criação de protocolos com critérios bem definidos para o fornecimento de bombas de insulina e sensores de glicose pelo poder público. Ele ressaltou que esses protocolos devem ser elaborados de forma conjunta entre profissionais da saúde, entidades representativas e o próprio poder público, garantindo critérios justos e maior eficiência no atendimento.
Segundo o especialista, a atuação do poder público é essencial para organizar o fluxo de acesso, reduzir desigualdades e diminuir a judicialização — que, segundo ele, além de gerar custos elevados, muitas vezes não assegura a continuidade do tratamento. “Precisamos de critérios técnicos claros, construídos coletivamente, para assegurar que bombas e sensores cheguem aos pacientes que realmente têm indicação. A judicialização onera o sistema e nem sempre resolve o problema. Por isso, é fundamental que o poder público assuma esse protagonismo”, afirmou.
Relatos reforçam urgência no acesso às tecnologias
A representante do Grupo de Mães de Diabéticos de Passo Fundo, Heloisa Fiori Ciarin, relatou as dificuldades enfrentadas diariamente por pessoas com Diabetes Tipo 1 e suas famílias. Ela compartilhou experiências com convulsões, limitações no trabalho e a necessidade de vigilância constante devido ao risco de hipoglicemias graves.
Heloisa destacou que, apesar de já ter recorrido à Justiça, mantém o tratamento graças a doações para o uso de bomba de insulina e sensores contínuos. Reforçou que o uso dessas tecnologias não é conforto, mas sobrevivência e dignidade humana, evitando hospitalizações, sequelas e mortes.
“O custo do tratamento adequado é muito menor do que o custo humano e financeiro das complicações do diabetes”, defendeu.
Durante as manifestações do público, mães e pacientes relataram episódios de cetoacidose, hipoglicemias severas, internações recorrentes e a constante insegurança provocada pela falta de acesso regular aos insumos necessários. Eles também destacaram como sensores e bombas transformam a qualidade de vida, oferecendo mais segurança, autonomia e prevenção de complicações graves — e defenderam que esses dispositivos sejam disponibilizados pelo sistema de saúde.
A técnica em enfermagem Mariete Scarioti, mãe de uma portadora da doença, sintetizou o sentimento dos demais participantes ao destacar a importância do monitoramento contínuo:
“O uso de sensores de glicose devolve aos portadores de diabetes a sua dignidade e a capacidade de desempenharem suas atividades do dia a dia normalmente, sem precisar esperar a manifestação dos sintomas para então fazer a medição e aplicarem a insulina”, afirmou.
Outro ponto reforçado pelo público foi o apelo para que os parlamentares atentem aos desafios diários enfrentados pelas pessoas com Diabetes Tipo 1. Os participantes ressaltaram a urgência de políticas públicas que garantam acesso contínuo, regular e adequado às tecnologias e aos cuidados indispensáveis ao controle da doença, assegurando mais segurança, autonomia e qualidade de vida aos pacientes.











