A morte de Mirian Alves Rodrigues dos Santos, de 26 anos, registrada horas após um grave acidente de trânsito na ERS-324, em Passo Fundo, traz à tona um problema antigo e recorrente: as condições críticas da rodovia, especialmente no trecho próximo ao trevo da Caravela. A tragédia não apenas interrompeu de forma precoce a vida de uma jovem, como também reforçou a sensação de insegurança enfrentada diariamente por motoristas e motociclistas que utilizam a via.
Mirian estava na carona de uma motocicleta Suzuki Yes 125, emplacada no município de Nova Hartz, e seguia para a igreja com o companheiro quando ocorreu o acidente, na noite de sexta-feira (26). A motocicleta colidiu frontalmente com um Chevrolet Prisma, com placas de Constantina. A jovem foi socorrida em estado gravíssimo pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), teve as duas pernas amputadas e foi encaminhada ao Hospital de Clínicas de Passo Fundo, mas não resistiu à gravidade dos ferimentos.
De acordo com informações apuradas pela reportagem policial da Rádio Planalto News no local, o automóvel seguia no sentido do trevo da Caravela, enquanto a motocicleta trafegava no sentido oposto. Levantamentos preliminares indicam que o motociclista teria perdido o equilíbrio ao passar por um quebra-molas existente na via, o que resultou na colisão. O ponto onde o acidente aconteceu é citado por diversos usuários da rodovia como mal sinalizado, mal iluminado e de alto risco, especialmente para quem trafega pelo local durante a noite. No automóvel estavam o motorista, a esposa e duas crianças. Nenhum dos ocupantes se feriu.

Rodovia marcada por riscos constantes
A ERS-324 é uma das principais rodovias do norte do Rio Grande do Sul, ligando municípios estratégicos como Passo Fundo, Marau, Casca, Ronda Alta, Vila Maria, entre outros polos regionais. O fluxo intenso de veículos leves, caminhões e motocicletas, aliado à falta de infraestrutura adequada em diversos trechos, transforma a rodovia em um cenário recorrente de acidentes graves.
Moradores do entorno e usuários da via diariamente relatam que o trecho próximo ao trevo da Caravela apresenta buracos, ondulações no asfalto, desníveis e desgaste da pista, o que reduz drasticamente as possibilidades de reação em situações de emergência. Para motociclistas, qualquer irregularidade no pavimento representa risco elevado de queda ou perda de controle.
Outro fator apontado com frequência é a sinalização deficiente. Em vários pontos da ERS-324, a pintura da pista está desgastada, placas de advertência são inexistentes ou insuficientes, e redutores de velocidade não possuem sinalização adequada a uma distância segura. À noite ou em condições de chuva, o risco se torna ainda maior.
Acidentes e mortes se repetem
O histórico da ERS-324 é marcado por acidentes graves e fatais ao longo dos anos. Colisões frontais, saídas de pista e atropelamentos são registrados com frequência. A repetição dessas tragédias reforça a cobrança da população por medidas estruturais efetivas, e não apenas ações pontuais de manutenção.
Moradores da região relataram à reportagem que a rodovia costuma receber atenção apenas após acidentes de grande repercussão. Com o passar do tempo, o impacto diminui, as intervenções cessam e os problemas retornam, abrindo caminho para novas ocorrências.
De quem é a responsabilidade?
A ERS-324 é uma rodovia estadual sob responsabilidade do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (DAER) e, em determinados trechos, da Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR), ambos vinculados à Secretaria de Logística e Transportes do Rio Grande do Sul. Cabe a esses órgãos a manutenção do pavimento, a sinalização, a conservação da pista e a garantia de condições seguras de trafegabilidade.
Embora muitas melhorias tenham sido anunciadas nos últimos anos, usuários da via afirmam que as promessas não acompanharam o aumento do fluxo de veículos nem solucionaram pontos críticos históricos, como a falta de acostamento e a sinalização inadequada em áreas urbanas e de transição.
Uma vida interrompida e um alerta renovado
A morte de Mirian Alves Rodrigues dos Santos causou comoção e indignação em toda a região. Jovem, recém-casada e a caminho de um culto em uma igreja, Mirian se tornou mais uma vítima de um sistema viário que falha em oferecer segurança a quem depende diariamente da rodovia.
Para familiares, amigos e a comunidade, a tragédia representa uma perda irreparável. Para o poder público, fica mais uma vez o alerta e a responsabilidade: a urgência de ações concretas, permanentes e eficazes para que a ERS-324 deixe de ser lembrada apenas por acidentes, feridos e mortes, e passe a cumprir seu papel de ligação regional com segurança e dignidade para todos que trafegam pela via.
Reportagem: Jeferson Vargas
Grupo Planalto de Comunicação













