“Ó
Deus, que hoje nos concedei a alegria de festejar São Pedro e São Paulo,
concedei à vossa Igreja seguir em tudo os ensinamentos destes Apóstolos que nos
deram as primícias da fé”, assim reza a oração da Coleta da liturgia da Solenidade
dos Apóstolos São Pedro e São Paulo. São celebrados juntos, não por que sua
vida, o martírio, a personalidade, a missão fosse igual, mas representam a
diversidade na unidade. Eles concretizam a catolicidade da Igreja. Representam
fundamentos convergentes na evangelização e na edificação da Igreja. Os textos
bíblicos da liturgia (Atos 12,1-11; Salmo 33(34); 2 Timóteo 4,6-8.17-18; Mateus
16,13-19) acentuam alguns fundamentos comuns a Pedro e Paulo e que compõem a
identidade do verdadeiro apóstolo de Cristo e da Igreja.
Em
primeiro lugar Pedro e Paulo, como todos os apóstolos, são chamados por Cristo.
Várias vezes Jesus Cristo chama Pedro e o confirma na missão: foi chamado
enquanto pescava; quando professa a fé afirmando que “Cristo é o Messias, o Filho
de Deus vivo” Jesus lhe diz: “Tu és Pedro e sobre esta pedra construirei a
minha Igreja”; quando Pedro declara que ama Jesus Cristo ressuscitado recebendo
a missão de “apascentar as minhas ovelhas”. Dos chamados de São Paulo
recordamos o encontro com Cristo quando está indo a Damasco para perseguir os
cristãos (At 9); quando Barnabé parte para Tarso à procura de Paulo e o chama
para ir com ele a Antioquia (At 11,25); o próprio Paulo confessa que foi
“chamado a ser apóstolo de Jesus Cristo, por vontade de Deus” (1Cor 1,1). O
chamado de ambos parte diretamente da vontade de Deus. O chamado e a missão são
por excelência graça, porque é participação na mesma missão de Cristo.
A
segunda característica que une Pedro e Paulo é a perseguição e os sofrimentos
decorrentes da missão. Herodes mandou prender Pedro, depois de ter morto Tiago
à espada. Pedro, na prisão, é “guardado por quatro grupos de soldados, com
quatro soldados cada um”, “preso com duas correntes”. Na 2ª Carta aos Coríntios
11,23-25 Paulo relata os sofrimentos do ministério. “Muitas vezes, vi-me em
perigo de morte. Cinco vezes, recebi dos judeus quarenta açoites menos um. Três
vezes, fui batido com varas. Uma vez, fui apedrejado. Três vezes naufraguei.
Passei uma noite e um dia no alto-mar”. Ao final da missão Pedro é crucificado
e Paulo decapitado em Roma por causa da fidelidade ao chamado e cumprimento da
missão apostólica. Viveram o ministério nas tribulações movidos por uma fé
inquebrantável. Fé que nasceu do chamado recebido e do amor misericordioso de
Deus que experimentaram na vida.
A
terceira marca que orienta a liturgia da Solenidade de São Pedro e São Paulo é
a realidade da Igreja. O livro de Atos registra que “enquanto Pedro era mantido
na prisão, a Igreja rezava continuamente a Deus por ele”. Pedro e Paulo só
podem ser compreendidos na Igreja. Os dois nos fazem olhar para a Igreja. Jesus
livremente decide e diz: “eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra
construirei a minha Igreja”, em outra passagem entrega as chaves para ligar e
desligar. Em Pedro a Igreja fica visível, histórica. Ela aparece na história
envolta em tempestades, perseguições. Na historicidade da Igreja também fica
visível a humanidade e os pecados. O próprio Pedro é retrato disso, pois negou
o Jesus Cristo. Paulo concordava com as perseguições.
Hoje
é dia de pensar na Igreja que fica bem visível na pessoa do Papa Francisco.
Cada pessoa que o procura, seja lideranças de governo, religiosos, crentes ou
não crentes esperam algo do Papa. Talvez até ações que não lhe competem. Diante
desta nobre missão do Papa, não pode faltar da comunidade a atitude dos
primeiros cristãos. “Enquanto Pedro era mantido na prisão, a Igreja rezava
continuamente a Deus por ele! Rezemos pelo Papa e com ele.
Dom
Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo