Ao anoitecer, voltava para casa um montanhês que vivia cortando pedras. Depois de mais um dia de intenso trabalho, sentia-se exausto e sem forças. Ao passar diante de uma loja, avistou um comerciante gordo, aparentando tranquilidade.
– Bom mesmo é ser comerciante – pensou.
Ouviu, então, uma voz que lhe disse:
– Então você será um comerciante.
Em pouco tempo ele também engordou atrás de um balcão. Seus negócios iam bem e até sobrava tempo para ficar na porta observando as pessoas que passavam. Um dia viu passar um mandarim, numa linda carruagem.
– Bom mesmo é ser mandarim – pensou.
Fez-se ouvir uma voz que dizia:
– Então você será um mandarim.
Sua vida passou a ser muito agitada. Vestido com trajes de seda, seguia por todos os lados, segundo as ordens do Filho do Sol, o imperador. Mesmo satisfeito com a nova vida, pensou:
– Bom mesmo é ser Filho do Sol.
E no ar apareceu a mesma voz de sempre:
– Então você vai ser Filho do Sol.
Ao andar pelo reino, o novo imperador sentia-se castigado pelos ardentes raios do sol.
– Bom mesmo é ser o sol.
E novamente ouviu-se a poderosa voz:
– Então você será o sol.
No meio do céu, o sol brilhava esplendidamente, cheio de raios incandescentes, poderoso e invencível.
Mas uma nuvem apareceu à sua frente e o escondeu totalmente. A nuvem demonstrou ser mais forte do que o sol.
– Bom mesmo é ser nuvem – continuou a refletir o homem.
– Então você será uma nuvem – completou a misteriosa voz de sempre.
Agora transformado em nuvem, passeava tranquilamente pelo céu, quando um vento forte a empurrou para longe, dissipando-a.
– Bom mesmo é ser vento.
– Então você será vento – foi a resposta.
Andou loucamente dissipando nuvens, arrastando árvores, destelhando casas e causando prejuízos por toda a parte. Mas quando chegou à montanha, nada conseguiu fazer. Ela continuava firme e invencível. A montanha era mais forte do que o vento.
– Bom mesmo é ser montanha – matutou.
– Então você será montanha – disse-lhe a mesma voz.
Certo dia ouviu um barulho misterioso que vinha das encostas da montanha. Parou para escutar aquele martelar constante. Os insistentes golpes continuavam regulares, derrubando rochas que se desprendiam de suas encostas.
– Será que existe alguém mais forte do que a montanha? Quem será?
Olhou atentamente e viu um homem que martelava as pedras da montanha. Então lembrou-se de que ele também quebrava pedras. Pensou:
– Eu era mais forte e não sabia.
A voz invisível não mais se fez ouvir. O homem voltou a ser o que era antes. Passou a martelar a pedra da montanha com sua velha picareta.
(Lenda japonesa)