“Dai pois a César o que é de César,
e a Deus o que é de Deus”. Esta é a resposta que Jesus dá aos fariseus que
enviaram seus discípulos e partidários de Herodes com a intenção de “apanhar
Jesus em alguma palavra”. A sentença de Jesus é o centro dos ensinamentos da
liturgia dominical (Isaías 45,1.4-6; Salmo95, 1 Tessalonicenses 1,1-5 e Mateus
22,15-21). No passar dos anos ela recebeu várias interpretações. O texto
bíblico mostra que resposta de Jesus indica duas realidades distintas, mas não
distantes.
Os enviados dos fariseus, ao se
dirigirem a Jesus reconhecem: “Mestre, sabemos que és verdadeiro e que, de
fato, ensinas o caminho de Deus”. É uma afirmação preciosa e verdadeira. Jesus
é sincero e ensina o caminho de Deus segundo a verdade. Ele mesmo é o caminho
que somos chamados a percorrer. “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”, assim
Jesus se apresenta (João 14,6). Neste domingo celebramos o Dia Mundial das
Missões e os evangelizadores são os primeiros a percorrerem este Caminho, que é
Cristo. Também anunciam e convidam para percorrerem o caminho de Deus.
Os enviados perguntam: “É lícito ou
não pagar imposto a César?” Jesus responde com realismo e deixou bem claro que
seus seguidores viveriam no mundo. Reconhece o poder de César e a sua
autonomia. Nesta condição são cidadãos corresponsáveis pela construção da
sociedade fundada no bem comum. São cidadãos de direitos e deveres, também
naquilo que se refere ao pagamento de impostos. É legítima a organização das
pessoas em países, como são legítimas as autoridades que as governam. O rosto
do imperador na moeda indica o contexto, a localização temporal e o poder da
autoridade civil.
Na resposta, Jesus afirma que deve
ser dado a “Deus o que é de Deus”. Um autor anônimo do começo do cristianismo
escreve: “A imagem de Deus não está gravada no ouro, mas no gênero humano. A
moeda de César é ouro, a de Deus é a humanidade … Portanto, concede a tua
riqueza material a César, mas conserva para Deus a inocência singular da tua
consciência, onde Deus é contemplado… Com efeito, César pediu que a sua
imagem fosse gravada em cada moeda, mas Deus escolheu o homem, que Ele criou,
para refletir a sua Glória”.
A moeda apresentada a Jesus, com o
rosto de César, indica que oficialmente ela pertence ao imperador. O homem, no
qual está gravada a imagem de Deus, é devedor de Deus. O poder do Estado tem
limites invioláveis, mas Jesus não apoio teocracias. Jesus afirma o senhorio de
Deus explicitado nas parábolas sobre o Reino de Deus. O cristão vivendo no mundo
deve alertar para todos os regimes ou pessoas ou estruturas que impeçam ao
homem viverem dignamente, serem “imagem de Deus” na liberdade e na justiça. Portanto,
“dar a Deus o que é Deus e a César o que é César” aponta duas realidades
distintas, mas não distantes.
Na esteira do mês missionário o
exemplo de São Paulo precisa ser recordado. Depois de anunciar o Evangelho aos
Tessalonicenses lhes escreve uma carta. Ele diz que não se evangeliza sozinho,
de maneira isolada. Ele cita Silvano e Timóteo como colaboradores diretos, além
de outros. Logo a seguir acrescenta que o anúncio deve ser precedido e
acompanhado com muita oração. “Damos graças a Deus por todos vós, lembrando-vos
sempre em nossas orações”. O apóstolo está ciente que os membros da comunidade
não foram escolhidos por ele, mas por Deus: “sois do número dos escolhidos”. Paulo
conclui com um ensinamento muito precioso: “O nosso evangelho não chegou até
vós somente por meio de palavras, mas também mediante a força que é o Espírito
Santo; e isso, com toda a abundância”.
Dom Rodolfo Luís Weber -Arcebispo de
Passo Fundo