“Ter um filho na UTI Neonatal é viver não somente um dia de cada vez, mas sim cada turno. É ter paciência, fé e esperança de que tudo vai dar certo”. As palavras são de Mariana Lyra Ramalho Trigueiro Mendes, médica pediatra residente em Neonatologia no Hospital São Vicente de Paulo, de Passo Fundo. Pouco mais de um ano após dar início a residência, ela viu a rotina mudar. Se antes seu dia a dia era dedicado ao atendimento de bebês prematuros internados no HSVP, há pouco mais de um mês ela frequenta diariamente a UTI Neonatal por outra razão: o nascimento de sua primeira filha, Clarice Maria. “Tive problemas na gravidez desde a sétima semana de gestação. Por conta disso, no mês de junho deste ano me afastei da Residência para ficar de repouso. No dia 14 de outubro, no entanto, minha bolsa rompeu e minha filha nasceu”, recorda Mariana.
Clarice veio ao mundo com 29 semanas, pesando 1 kg e 295 gramas. Desse dia em diante, Mariana, acompanhada do marido João Otávio Polese Marcelli, passou a experienciar a rotina da UTI Neonatal de outra forma, agora como mãe. “Quando a neonatologia me escolheu, fui apresentada a um mundo diferente de todos os outros que existem na medicina. Aprendi a me comunicar com o olhar e com as pontas dos dedos, a transformar meu mundo tão grande em uma incubadora tão pequena, a qual acolhe grandes preciosidades sedentas de muito cuidado, amor, sabedoria, entre tantos outros requisitos. Hoje estou vivendo mais uma grande, árdua e desafiadora experiência, de estar ao lado dessa mesma incubadora, porém não só mais como médica e sim como mãe, ao lado do maior presente que Deus poderia ter me dado, minha filha”, relata.
Hoje a bebê está com 1 kg e 770 gramas e deve permanecer internada até o mês de dezembro. “Assim como tantos outros bebês, minha filha também veio concluir sua gestação nesse lar chamado UTI Neonatal. E eu, Mariana, continuo a transformar meu amor e minha ciência através das pontas dos dedos e do meu olhar”, conclui.
Mês da Prematuridade
Clarice Maria é uma dos 930 bebês que nascem antes das 37 semanas de gestação todos os dias no Brasil, o que representa 340 mil nascimentos prematuros por ano. No HSVP, cerca de 450 bebês prematuros passam pela UTI Neonatal anualmente, sendo que 70% são vindos de outras cidades da região.
A médica pediatra responsável pelo Ambulatório dos Prematuros egressos de UTI Neonatal, Dra. Wania Cechin, afirma que diversos fatores podem contribuir para a prematuridade. “Gravidez na adolescência, ausência de pré-natal, doenças relacionadas à gestação e desinformação fazem com que os índices no Brasil permaneçam altos. Por isso, quanto mais pessoas sensibilizarmos, mais chances temos de mudar essa realidade”, ressalta.
A fim de alertar a sociedade sobre o alto número de partos prematuros e promover ações de conscientização acerca do assunto, durante todo este mês é realizada a campanha Novembro Roxo, cor que simboliza a sensibilidade e individualidade dos bebês prematuros. Neste ano, o movimento traz como tema “Pequenas ações, grande impacto: contato pele a pele imediato para todos os bebês, em todos os lugares”.