“Quem segue o rastro do sol sempre chega a Uruguaiana”. A frase, repetida como um mantra em Por Quem Cantam os Cardeais sintetiza a essência da música nativista: a ligação inquebrável entre o gaúcho e sua terra. Com letra e melodia de João Chagas Leite, a canção é mais do que uma composição — é um manifesto lírico de amor à vida campeira.
Lançada nos anos 1990, a música tornou-se um clássico absoluto do cancioneiro sul-rio-grandense, sendo gravada por diversos intérpretes e presente em festivais e encontros tradicionalistas por todo o estado. O eu lírico, assumidamente campeiro, narra com sensibilidade sua conexão com o chão onde nasceu. O campo, o céu, os pássaros e as cidades são mais do que elementos do ambiente, são referências afetivas, bússolas da alma.
A cidade de Uruguaiana, mencionada com destaque, representa não apenas um destino físico, mas também simbólico, é o ponto de chegada para aqueles que trilham a estrada da tradição, ao lado de outros marcos geográficos, como Alegrete e Itaqui, reforça a ideia de que o gaúcho carrega consigo uma rota emocional marcada pela história, pela cultura e pela saudade.
O cardeal, pássaro típico da região sul, empresta seu canto à canção para traduzir sentimentos humanos, seu canto anuncia a primavera, mas também evoca lembranças, esperança e renascimento. Por isso, torna-se metáfora perfeita da saudade e do desejo de retorno que habita no coração de quem vive longe do campo, mas mantém vivas as raízes.
A simplicidade da letra contrasta com a profundidade de seu significado. A música emociona porque fala do que é essencial: pertencimento, identidade e a beleza de uma vida em harmonia com a natureza. O gaúcho, representado na figura do narrador, é alguém que sabe de onde vem — e, mais do que isso, sabe para onde sempre pode voltar.
Por Quem Cantam os Cardeais é, assim, uma jornada poética pela alma do Rio Grande. Uma canção que ultrapassa o tempo, atravessa gerações e segue emocionando quem carrega o campo no peito.