O chimarrão vai muito além de uma simples bebida. Presente em encontros, rodas de conversa e momentos cotidianos no Sul do Brasil, ele é um símbolo da cultura gaúcha, cheio de tradição, significados e histórias que atravessam gerações.
A tradição do chimarrão é algo que muitos desconhecem. Embora seja uma bebida comum, poucos se aprofundam em seus significados. No entanto, o chimarrão carrega consigo “regras” e costumes que as gerações mais antigas ainda lembram com carinho e fazem questão de repassar a filhos, netos e conhecidos. Entre esses costumes, estão:
Nomenclatura
O nome original é chimarrão, mas nem todos o chamam assim. Em vez disso, muitos usam expressões como chima, mate ou amargo. Esses são apenas apelidos carinhosos, pois, independentemente do termo usado, todos sabem que se trata do tradicional chimarrão.
Roda de mate
O chimarrão sempre começa a ser servido pelo lado direito, dando prioridade à pessoa mais importante, mais velha ou a uma mulher. Quando alguém “ronca” o chimarrão, ou seja, toma todo o líquido e a bomba emite aquele som característico ao puxar o final, a cuia é devolvida ao cevador (quem prepara o chimarrão). Ele então reabastece e passa o mate ao próximo da roda, sempre seguindo o sentido anti-horário.
Forma correta de entregar o chimarrão
Um detalhe que pode parecer simples, mas faz parte da tradição, é a forma correta de entregar o chimarrão. Deve-se sempre passar a cuia com a bomba voltada para quem vai receber, segurando-a com a mão direita e pela parte de baixo. A pessoa que recebe deve pegar a cuia pela chamada “cintura” da mesma, com a mãe direita, garantindo firmeza e respeito ao gesto.
Ao se falar em chimarrão, é quase inevitável lembrar de um dos causos mais famosos relacionados a essa tradição: o ‘Mate de João Cardoso’. Conheça:
João Cardoso, um velho tropeiro aposentado e solitário, vivia às margens da estrada no Passo Maria Gomes, onde gostava de receber viajantes para prosear. Sempre muito simpático, oferecia sombra, conversa, e claro, um chimarrão. Mas havia um detalhe: o mate nunca chegava.
Assim que o visitante apeava, João puxava conversa. Gritava para o negrinho Nené preparar o mate, mas sempre surgia uma desculpa: a erva estava na mala, não encontravam a chaleira, ou o fogo ainda não estava pronto. Enquanto isso, João se alimentava de histórias e novidades que os andantes traziam, distraindo o convidado com longos causos. No fim, o visitante, cansado da espera e com a garganta seca, acabava indo embora… sem nunca provar o tal chimarrão.
O causo virou expressão popular no Sul: “Isso tá que nem o mate do João Cardoso… nunca chega!” símbolo de promessa feita só pra puxar conversa.
Conclusão
Mais do que uma bebida, o chimarrão representa um modo de viver, de se relacionar e de manter viva uma herança cultural passada de geração em geração. Ele carrega histórias, ensina costumes e aproxima as pessoas pela roda de mate, pela conversa e pelo respeito às tradições. Conhecer suas origens, suas “regras” e até os causos que o envolvem, como o famoso “mate de João Cardoso”, é valorizar um pedaço fundamental da identidade gaúcha. O chimarrão segue firme, quente, amargo e cheio de significado.
Essa matéria foi realizada com informações do livro “ A História do Chimarrão” de Luiz Carlos Barbosa Lessa.