Dados, levantamentos e projeções sinalizam para o avanço do envelhecimento populacional. Segundo o IBGE, entre 2000 e 2023, a proporção de idosos no Brasil quase duplicou e a média de idade, que no ano passado era de 34,8 anos, será de 51,2 até 2070. Essa realidade exige de todos os setores um olhar atento e as universidades têm um papel fundamental nesse processo. Na Universidade de Passo Fundo (UPF), o Programa de Pós-Graduação em Envelhecimento Humano (PPGEH) desenvolve estudos e pesquisas que têm como foco auxiliar a sociedade a compreender o envelhecimento populacional e propor soluções e caminhos.
Como ações práticas, dentro do Programa diversas pesquisas e estudos abordam o tema. Projetos interdisciplinares investigam desde aspectos biológicos e psicológicos do envelhecimento até questões sociais e políticas públicas. “Por exemplo, estudos sobre a promoção da saúde e prevenção de doenças em idosos; a importância da atividade física e mental; e a análise das políticas de assistência social para a pessoa idosa são algumas das áreas de foco”, comenta o professor Adriano Pasqualotti, pesquisador da Universidade.
Em atividade desde 2009, o PPGEH conta hoje com duas linhas de pesquisa: Gerontecnologia e Aspectos Biopsicossociais do Envelhecimento Humano. Conforme a professora Cleide Moretto, docentes, mestrandos e doutorandos de diferentes áreas do conhecimento analisam questões relacionadas a temas como cuidados paliativos, prevenção de quedas, polifarmácia, doenças crônicas, reabilitação física, saúde mental, tecnologia assistiva, etarismo, violência física e psicológica, aposentadoria e seguridade econômica, entre outros.
A academia como ferramenta social
Os dados e levantamentos que apontam para o envelhecimento populacional exigem dos órgãos públicos e da sociedade civil organizada políticas públicas e estratégias inclusivas para que as pessoas tenham um processo de envelhecimento com qualidade de vida. Conforme Pasqualotti, a Academia desempenha um papel crucial na compreensão do envelhecimento populacional ao conduzir pesquisas que analisam os impactos sociais, econômicos e de saúde dessa mudança demográfica. “Estudos acadêmicos produzem conhecimento que ajudam a formular políticas públicas eficazes, promovem a conscientização sobre as necessidades dos idosos e desenvolvem intervenções para melhorar a qualidade de vida dessa população. Além disso, a academia implementa programas de educação e treinamento voltados para profissionais que trabalham com a população idosa”, ressalta.
Além de estudos e pesquisas, a Universidade também promove o debate e a formação. Neste mês, por exemplo, ocorre o Congresso Internacional de Estudos do Envelhecimento Humano (CIEEH), que em sua sétima edição, reunirá professores, estudantes e pesquisadores nacionais e internacionais. O Programa é responsável, ainda, pela Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano (RBCEH), que publica artigos inéditos de pesquisa e desenvolvimento que representem contribuição efetiva para a área do conhecimento, bem como de temas de interesse nas ciências do envelhecimento humano.
Para o professor Adriano, as pesquisas sobre envelhecimento são essenciais para entender as complexidades desse processo e desenvolver estratégias para enfrentar os desafios associados. “Elas ajudam a identificar fatores de risco e proteção, promovem intervenções baseadas em evidências e informam políticas públicas que visam melhorar a qualidade de vida das pessoas idosas. Além disso, essas pesquisas contribuem para a formação de profissionais capacitados e sensibilizados para as necessidades da população idosa, promovendo um envelhecimento saudável e ativo”, pondera o pesquisador.
Envelhecer com saúde: desafio da sociedade
De acordo com os professores, envelhecer com qualidade envolve uma série de fatores que devem ser cultivados ao longo da vida. Entre os aspectos fundamentais estão:
– Engajamento social: manter relações sociais ativas e participar de atividades comunitárias.
– Educação contínua: buscar aprendizado constante e novas habilidades.
– Planejamento financeiro: garantir uma segurança financeira para a aposentadoria.
– Ambiente seguro e acessível: adaptar o ambiente físico para atender às necessidades que surgem com o envelhecimento.
Conforme Cleide, o envelhecimento humano é um processo. “Começamos a envelhecer desde a nossa concepção. Então, na perspectiva do envelhecimento saudável, é preciso ter presente que investir em ações que incentivem gestações saudáveis, nutrição e desenvolvimento infantil é um vetor para termos adultos saudáveis, não apenas no âmbito físico, mas sobretudo no de saúde mental, e, acima de tudo, é pensar no envelhecimento na perspectiva de curso da vida”, destaca. Essa perspectiva, segundo ela, contempla o papel do indivíduo, da família e do Estado de modo compartilhado.
Ainda de acordo com a professora, identificar que em um período significativo do curso de vida estamos ativos no mercado de trabalho, o modo como nos vinculamos ao trabalho, as características do processo produtivo, como à exposição a ambientes nocivos, por exemplo, irão determinar possíveis consequências em nossa saúde física e mental.
Por isso, em sua visão, concentrar programas e políticas que priorizem o trabalho decente é promover o envelhecimento saudável. Promover a educação, promover a saúde, promover a segurança, promover a qualidade de vida é promover o envelhecimento saudável. “O processo de envelhecimento humano é multifatorial e seu equacionamento requer uma abordagem interdisciplinar, que seja capaz de contemplar os aspectos biológicos, sociais, culturais, educacionais, econômicos, psicológicos, antropológicos, tecnológicos, legais, entre tantos outros, envolvidos”, frisa.
O Brasil passou por uma transição demográfica rápida quando comparado aos países desenvolvidos, por isso, existe o desafio de contemplar uma população envelhecida, fruto da diminuição das taxas de fecundidade e da melhoria das condições de saúde que requer seguridade e cuidado. Cleide Moretto considera ainda que uma pessoa que esteve exposta a ambientes adversos, como o de segurança alimentar, baixa adesão ao exercício físico, terá mais chances de desenvolver doenças crônicas.
O envelhecimento populacional impacta sobremaneira nos sistemas públicos da previdência social e da saúde, em função das demandas características em termos de seguridade econômica, e mesmo de acesso ao atendimento e tratamentos para o público com mais de 60 anos de idade. “As doenças crônicas, a limitação de capacidade funcional e perda de autonomia, inerentes a esta fase do curso de vida, sobrecarregam os serviços de saúde e aumentam os gastos públicos. E o financiamento do gasto depende das condições produtivas e econômicas daquele território. Economias ricas possuem maior capacidade de responder às demandas, sejam públicas ou privadas. Nesse contexto, a boa saúde e a qualidade de vida estão em função da estrutura social, política e econômica de uma sociedade”, avalia a pesquisadora.