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A continuidade da missão do Senhor

Estamos nos aproximando do final do Tempo Pascal caracterizado pela Ressurreição do Senhor, a vitória da vida sobre a morte. Este tempo de aproximadamente cinquenta dias tem três referências significativas celebradas na liturgia. A primeira é a própria Ressurreição do Senhor Jesus, celebrada na noite da Vigília Pascal. Nesta celebração noticia-se para toda a humanidade que Jesus ressuscitou e que a morte não teve poder sobre Ele.
Decorreram-se algumas semanas e, sobretudo nas primeiras, os textos bíblicos revelam as aparições de Jesus ressuscitado ao grupo dos discípulos para tirá-los do medo, da dispersão e motivá-los a continuar a missão do Senhor. Os quatro evangelistas descrevem estes dias, primeiramente de tensão e depois de alegria e destemor, porque deveriam com convicção anunciar o nome do ressuscitado. Jesus se apresentou de diferentes jeitos para os seguidores revelando-se ressuscitado, como demostravam as marcas no seu corpo e instando-os a darem um passo significativo na fé, testemunhar o seu nome.
No próximo domingo a comunidade cristã celebra a Solenidade da Ascensão do Senhor, a segunda referência do Tempo Pascal. O fato encontra-se descrito nos evangelhos de Lucas e Marcos. Depois de cumprir com êxito a missão e ser acolhido, não como derrotado, mas como vitorioso, Jesus, depois de enviar o grupo para a missão, ascende ao céu. Marcos descreve assim a ascensão: depois de lhes falar, o Senhor Jesus foi elevado ao céu e sentou-se à direita de Deus (Mc 16,19). Lucas, por sua vez, afirma: levou-os em seguida até perto da Betânia. Ali, levantou as mãos e os abençoou. Enquanto abençoava, separou-se deles e foi levado ao céu (Lc 24,50).  Lucas também descreve o mandato no Livro dos Atos dos Apóstolos: e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda Judeia e Samaria, e até os extemos da terra (At 1,8). A missão começaria em território do povo judeu, mas não se restringiria ali. Deveria se expandir até os confins da terra, ou seja, chegar aos diferentes povos e culturas.
A partida de Jesus não significou rompimento com os discípulos. Ele mesmo deixou ao grupo a certeza de que estaria junto até o fim dos tempos (Mt 28,20). A missão a ser continuada não aconteceria distante do Mestre. A fé, o testemunho e a memória dos seguidores dariam concretude a esta presença.
A vinda do Espírito Santo prometido por Jesus constitui o terceiro momento do Tempo Pascal. Jesus havia prometido ao grupo dos discípulos o envio do Espírito Santo que os ajudaria na missão diante do mundo (Lc 11,13; 24;49; Jo 14,16; 16,13; At 1,8).
O evangelista João descreve o fato logo após a ressurreição (Jo 20,22). Lucas no livro dos Atos dos Apóstolos localiza o evento cinquenta dias após a Páscoa (At 2, 1-4). A força do alto, ou o defensor na linguagem joanina deu ao grupo dos discípulos o ânimo e a inspiração para levarem à frente o projeto de Jesus e foi o que aconteceu realmente, primeiramente com o protagonismo dos apóstolos e posteriormente com aqueles que iam aderindo ao projeto (At 6,7), especialmente Paulo de Tarso, o apóstolo Paulo (At   9, 20-22) que deu uma característica universal ao trabalho missionário. A Igreja celebra este fato solenemente compreendendo que ali está o início da missão de todos os que aderem a vida cristã formando a Igreja de Jesus.
Hoje assumimos, na condição de batizados, membros do Povo de Deus, este desafio em diálogo com uma tradição de mais de dois mil anos. O compromisso assumido pelos apóstolos (Mt 28,16-20; Mc 1615-18; Lc 24,47; Jo 20, 21-23), pelos primeiros cristãos (At 2,42-47) e todos os que foram aderindo à proposta de Jesus têm continuidade na missão da Igreja da qual cada batizado é membro. Assim como os apóstolos e primeiros cristãos oferece-se aos interlocutores uma proposta verdadeiramente transformadora capaz de mudar o rumo de suas vidas.  O Papa Francisco relembra este compromisso na Exortação Evangelii Gaudium quando afirma que o amor de Cristo impele a anunciar o Evangelho (EG 9). E cabe aos cristãos anunciá-lo sem excluir ninguém e não como quem impõe uma nova obrigação, mas como quem partilha uma alegria, indica um horizonte estupendo, oferece um banquete apetecível (EG 14). Ele fez a sua parte. Os apóstolos deram a sua contribuição. Os primeiros cristãos, de forma aguerrida se fizeram anunciadores desse evangelho. Assumamos essa tradição que nos enriquece e enriquece a humanidade. A Solenidade da Ascensão do Senhor convida a olhar para o alto. Lá está o Cristo vitorioso.  Convida a olhar também para o nosso chão. Ali temos a tarefa de testemunhar o seu Evangelho. E faremos isso na Sua presença e na força do Espírito Santo.
Impelidos pelo Espírito Santo que nos santifica, como podemos realizar esse testemunho fiel de Jesus Cristo em nossos dias? É missão cristã seguir aquilo que o Bom Mestre ensinou, buscando desempenhar, principalmente no cenário de indiferença e egoísmo em que estamos inseridos, os seus mandamentos, na atenção amorosa para com todos, principalmente com ao mais vulneráveis material e espiritualmente, além de possibilitar que todas as pessoas sejam asseguradas em sua dignidade, marca do Evangelho, pela qual todos são vistos como pessoas, independentemente de seu estado, cor, sexo ou etnia. Jesus pregou um Evangelho de amor e misericórdia (Ef 2,4-5) e partiu novamente para o Pai nos deixando esta missão que, mesmo parecendo simples, exige de nós a abnegação, a doação e o seguimento, contando com a graça, a força do Espírito Santo, que nos impulsiona e nos faz anunciar (Jo 21,21-22).

 

Pe. Ari Antonio dos Reis
Seminarista Jean Gonçalves Vassman
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