A vossa Palavra
Senhor, é sinal de interesse por nós!
Estamos na última
semana do mês da Bíblia. A proposição da temática bíblica para o mês de
setembro diz respeito à memória de São Jerônimo, assinalada no dia 30 de
setembro, segundo sua grande contribuição ao estudo da Sagrada Escritura
sobretudo pelo esmero em traduzir o Texto Sagrado para a língua latina
(vulgata) o que facilitou missão da Igreja. Por uma questão de zelo pastoral,
no Brasil, a data é celebrada no último domingo do mês de setembro,
oportunidade em que as comunidades cristãs católicas destacam de forma
celebrativa a sua reverência à Palavra
de Deus.
A Constituição Dogmática Dei Verbum promulgada
durante o Concílio Vaticano II afirma que a Igreja sempre venerou as Sagradas
Escrituras como venera o próprio corpo de Cristo (cf. DV 21), e tem como
proposta que: com a leitura e estudo dos livros sagrados, a Palavra de Deus se
difunda e resplandeça e o tesouro da revelação confiado à Igreja encha cada vez
mais os corações dos homens. Assim como a vida da Igreja cresce com a assídua
frequência do mistério eucarístico, assim também é lícito esperar um novo
impulso de vida espiritual, se fizermos crescer a veneração pela Palavra de
Deus, que permanece para sempre (DV 26). Estes compromissos assumidos pelos
padres conciliares ajudam a compreender a importância da Sagrada Escritura nos
processos de anúncio do Evangelho e educação dos cristãos na vida de fé. A
importância dada ao Livro Sagrado se deve à compreensão de que ali está explícito o projeto revelador de
Deus aberto à acolhida do ser humano. Então, ele sugere aos cristãos diferentes
compreensões interligadas. Vejamos.
É possível
compreender a Bíblia como a expressão do amor de Deus a toda a humanidade e
dirigida a toda a humanidade. Em alocução no dia 22 de janeiro Papa Francisco
afirmou que a “Palavra é para todos” e essa intencionalidade de Deus tem o
acento amoroso. Na Palavra Deus espalha seu amor a todos sem distinção. Recorda
ainda o Papa: “a Palavra é um dom dirigido a cada um e, por isso, não podemos
jamais limitar o seu campo de ação, porque aquela, ultrapassando todos os
nossos cálculos, germina de forma espontânea, imprevista e imprevisível,
segundo modalidades e tempos que o Espírito Santo conhece. E se a salvação é
destinada a todos, incluindo os mais distantes e os extraviados, então o
anúncio da Palavra deve tornar-se a principal urgência da comunidade eclesial,
tal como o foi para Jesus” (Papa Francisco).
A Sagrada Escritura é
Deus se comunicando. Ele que se comunicou de diferentes modos ao longo da história
e o faz através da Palavra e encontra sua forma definitiva na vida e missão de
Jesus Cristo (Hb 1,1-4). É significativo quando, na missa a comunidade
celebrante é motivada a preparar-se para acolher a Palavra. Compreende-se que
na pessoa do leitor está Deus se comunicando àquelas pessoas reunidas na fé.
Estas, por sua vez, se dispõem a ouvir atentamente a Palavra proclamada. A
comunicação divina mediada pela Sagrada Escritura, tornada célebre no rito
litúrgico, espera uma resposta da humanidade como um todo e de cada pessoa na
sua subjetividade. Ao respondermos à comunicação amorosa, estamos entrando em
um diálogo substancioso com Aquele que se dispôs a tomar a iniciativa de
comunicar-se em vista da nossa salvação. Ainda na missa nos manifestamos
dizendo que cremos naquele que se revela amorosamente pela Palavra proclamada e
acolhida na fé. Proclamamos a nossa fé em Deus.
A Palavra de Deus
aponta o caminho da salvação. A Constituição Dei Verbum já explicitava esta
vontade divina (cf. DV 1). A humanidade auxiliada pela Igreja encontrará na
Sagrada Escritura um caminho sólido, verdadeiro e perene a ser trilhado em
vista da salvação. Acolher a Palavra implica em acolher os parâmetros desse
caminho salvífico, porque ele é delineado por Deus. O livro do Êxodo descreve a
trajetória do povo hebreu no deserto rumo à terra prometida. Deus guiava esse
povo numa nuvem para guiá-los durante o
dia e numa coluna de fogo para iluminá-los durante a noite (Ex 13,21). Hoje Ele
guia a humanidade pela Sagrada Escritura.
A Palavra de Deus
sugere uma conduta, um caminho a ser percorrido segundo os critérios desejados
por Deus mesmo. O apóstolo Paulo
lembrava este princípio em carta a Timóteo: “tu, porém, permanece firme naquilo
que aprendeste e creste. Sabes de quem aprendeste. E desde a infância conheces
as Sagradas Escrituras e sabes que elas têm o condão de te proporcionar a
sabedoria que conduz à salvação, pela fé em Jesus Cristo. Toda a Escritura é
inspirada por Deus, e útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para
formar na justiça. Por ela, o homem de Deus se torna perfeito, capacitado para
toda boa obra” (2Tm 3,14-17). A Palavra, fruto do bem querer de Deus por toda a
humanidade, sugere um caminho para achegar-se a Ele, o caminho da salvação. É
tarefa dos cristãos acolher humildemente o caminho proposto.
Pe. Ari Antonio dos Reis