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Alarga o espaço da tua tenda: uma sugestão do agir a partir da reflexão da campanha da fraternidade

A caminhada sinodal proposta pela Igreja Católica tem ajudado os cristãos a compreenderem e assumirem as três expressões chaves do Sínodo, a saber, comunhão participação e missão. O caminho sinodal proposto após a etapa de Roma apresenta como referência bíblica o texto do profeta Isaías que convida as pessoas do seu tempo alargar o espaço da tenda para abrigar os caminhantes. A motivação do profeta Isaías se dirigia ao povo que vivia a difícil situação de exílio na Babilônia (586-538 a. C). O profeta recorda ao povo no exílio a experiência do êxodo e da travessia do deserto (século XIII a. C), quando habitava nas tendas e usava estas para reuniões e assembleias. Isaías anuncia ao seu povo a promessa do regresso à terra, às raízes, conduzidos por Deus, sinal de alegria e esperança (Is 52,12).

A referência bíblica do texto do profeta Isaías assinala o desejo do Senhor para a sua Igreja através da experiência da sinodalidade. A sugestão dada ao povo do exílio permanece como motivação para a Igreja hodierna: “alarga o espaço da tua tenda, estende sem medo as lonas que te abrigam, e estica as tuas cordas, fixa bem as tuas estacas” (Is 42,2). Tem-se ainda um caminho a percorrer em vista da consolidação do projeto sinodal o qual exige sobretudo a escuta do Espírito.

A Campanha da Fraternidade deste ano tematizando a “amizade social” a partir do lema “vos sois todos irmãos e irmãs” (cf. Mt 23,8) faz um convite expressivo como sugestão de agir: alargar o espaço da tenda adotando a motivação do caminho sinodal. A amizade social é uma proposta ao encontro, à convivência, à partilha, realizando plenamente a vocação humana. As situações de acirramentos, extremismos e inimizades, especialmente a aporofobia (ódio aos pobres), racismos e tantos outros preconceitos, denunciadas no texto base, serão superadas a partir da compreensão de que todos somos irmãos e irmãs, filhos do mesmo Pai, criados a Sua imagem e semelhança.

A partir dessa condição teológica assume-se a motivação de alargar o espaço da tenda, primeiramente dando a ela condições para que cumpra o seu papel, ou seja: estender as lonas para que protejam aqueles que ainda se encontram fora do espaço e sintam-se chamados a entrar; equilibrar as cordas e mantê-las firmes para que suportem os ventos contrários e as tensões; fixar as estacas para manter a solidez da tenda, porém sem uma rigidez que impeça de serem movidas para outro lugar. São condições necessárias para que a tenda se mantenha em pé. Dadas as condições da existência da tenda, parte-se para os compromissos de agir apontados em três perspectivas: pessoal, comunitária e social.

Na perspectiva pessoal, sugere-se três possíveis iniciativas. A primeira é cultivar uma espiritualidade de comunhão, a mística do encontro, da ternura e da misericórdia. Aprender do Mestre de Nazaré a lidar com as pessoas no seu cotidiano, lembrando que o outro, na sua diferença é fator de enriquecimento e não de ameaça. A segunda consiste em identificar nossas guerras, falsidades, ambições, maquinações (FT 256). Esta sugestão de agir dialoga com a afirmação de Jesus escrita no evangelho de Marcos: é no coração humano que se cultiva situações que afastam as pessoas umas das outras, sinais de impureza (cf. Mc 7, 21-23). Implica em cuidar para que o mal que nasce em nós não cresça e se espalhe aos que estão ao redor. Por fim, sugere-se assumir uma educação para a liberdade e o respeito absolutos às pessoas, considerando as diferenças e diversidades, sem que um padrão de vida seja criado e imposto a todos, indistintamente.

Na perspectiva comunitária, é possível alargar a tenda desmascarando com caridade e de forma pedagógica, atitudes de ódio, exclusão e cancelamento que ocorram na comunidade. Externamente a comunidade pode ser sinal de fraternidade, reconciliação e mediação de conflitos para além do âmbito interno agindo, por exemplo, nas escolas e outros ambientes educativos, sobretudo através da pastoral da educação. As comunidades não são guetos isolados da sociedade, mas têm uma contribuição a dar nos espaços geográficos onde estão inseridas. É uma forma de viver o compromisso missionário constitutivo da fé cristã.

Na perspectiva social parte-se do princípio que a Igreja está na sociedade e age na sociedade. Neste sentido ao agir provocado pela campanha da fraternidade tem também um compromisso social explícito. Segue-se o princípio de que a sociedade não é totalmente cristã em termos quantitativos e em termos de testemunho fiel ao evangelho de Jesus. Esta compreensão implica na necessidade de fomentar a amizade social na sociedade. Demanda desta convicção três iniciativas, a saber. Fomentar a prática da justiça restaurativa que coloca o perdão como caminho para a superação de situações traumáticas de dor e sofrimento das pessoas. Também apoiar instituições de denúncia dos crimes de intolerância tão presentes em nossa sociedade. Intensificar o apoio e fomento de campanhas contra o racismo e outras formas de preconceito.

Acolhamos os princípios bíblicos sugeridos pela campanha da fraternidade: somos criados à imagem e semelhança de Deus (Gn 1,26); somos todos irmãos e irmãs e temos um único Mestre, Jesus (Mt 23,8); e somos guiados pelo Espírito Santo na ação no mundo, (1Cor 12,11) e façamos deles uma inspiração para a nossa ação no mundo assumindo decididamente o compromisso em construir a amizade social, porque Deus criou todos os seres humanos iguais nos direitos, nos deveres e na dignidade, e os chamou a conviver entre si como irmãos (FT 5).

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