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Apenas dou aulas

Nei Alberto Pies, professor, escritor e editor do site.

Repercutimos, nesta coluna semanal, uma interessante crônica do professor, filósofo, escritor e poeta Aleixo da Rosa. Esta crônica é uma das mais visitadas no site e revela, de forma genial, o pouco reconhecimento que a sociedade e os gestores educacionais dão ao trabalho dos professores e professoras. Foi publicada no site www.neipies.com em 29/07/2023.

Sou professor. Licenciado em Filosofia. Plenamente. Também sou acadêmico do curso de Letras. Estudei anos e anos para dar aula.

Infelizmente, é o que sei fazer…

Peço perdão por não saber fazer outra coisa. Sei que, ao ensinar sobre Platão, Aristóteles, Nietzsche e Schopenhauer, sou pior que um terrorista. Se eu falar sobre Karl Marx e sua crítica ao capitalismo, então, sou pior que Mao Tsé-Tung e Pinochet…

Dou aulas.

Não sei pregar um prego à parede. Não apenas porque não me preparei para isso, mas também porque não desejo pregar um prego à parede. No fundo, deve haver algo muito errado comigo.

Acontece que, quando jovem, disseram-me que ser professor era uma profissão importante. Tão importante quanto ser um mecânico ou um advogado. Jovem e tolo, eu acreditei.

Agora estou aí, dando aulas…

Como sou formado em Filosofia, uma disciplina inútil por si só, não me dou muito bem com trabalhos manuais em geral.

Posso, por exemplo, apresentar as principais concepções surgidas ao longo da história sobre o que é FELICIDADE. Sabia que existe uma linha, na Filosofia, que estuda isso? Chama-se EUDAIMONIA. Pois é…

A felicidade, porém, também é inútil. Útil, mesmo, é saber pregar um prego.

Dar aula é inútil. Só dar aula, então… Hoje em dia espera-se que um professor faça de tudo. Só dar aula não dá lucro. Logo, não agrega valor.

É por isso que, na educação atual, os governos enchem professores como eu com tarefas burocráticas, com muitos períodos e muitas crianças para atender por sala — porque somos inúteis. É preciso mesmo que inventem algo para fazermos, para justificar o imposto gasto com nossos salários.

Além de professor, sou escritor. Quer ver ficar pior? Sou poeta. Meu Deus, um um professor-filósofo-escritor-poeta!

Não sou apenas inútil. Sou O inútil entre os inúteis…

Melhor eu ir ali, fazer um cursinho técnico, virar coach, aprender algo útil, antes que eu morra de fome. Preciso mesmo criar vergonha na cara.

Afinal, só sei dar aula…

Sou só professor.

E um escritor medíocre.

FONTE: www.neipies.com/apenas-dou-aulas/

 

Autor: Aleixo da Rosa, autor da crônica “O curioso caso dos alunos que preferiram os livros”: https://www.neipies.com/o-curioso-caso-dos-alunos-que-preferiram-os-livros/

 

 

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