A expressão acima está no texto de Lucas (Lc 19,28-40) que ilumina a celebração deste domingo conhecido como o “Domingo de Ramos da Paixão do Senhor”. O texto retrata a chegada de Jesus à cidade de Jerusalém acompanhado dos seus discípulos mais próximos para consumar o Mistério Pascal. O texto de Lucas também está em Mateus (Mt 21,1-11), Marcos (Mc 11, 1-11) e João (Jo 12,12-16), com algumas diferenças de acordo com a perspectiva de cada evangelista. A celebração de domingo, em um primeiro momento, apresenta a entrada do Filho de Deus em Jerusalém. Segue-se a missa com as leituras próprias e proclama-se a narrativa da Paixão do Senhor, a entrega salvadora de Cristo na cruz.
Voltemos a narrativa da chegada de Jesus a Jerusalém. O Evangelista Lucas apresenta o fato como divisor entre dois grandes processos na vida de Jesus na sua peregrinação missionária iniciada na Galileia. Na jornada visitou muitos lugares. Eram os lugares teológicos nos quais o Filho de Deus explicitou em palavras e gestos a proposta do Reino. Desses, destacamos a cidade de Cafarnaum onde Ele permaneceu por muito tempo, ensinando o povo e curando os enfermos. Também visitava outras cidades cumprindo o mandato do Pai. Como forma de estar mais próximo da vida das pessoas Jesus também se fazia presente nas casas e sinagogas, os lugares da convivência e da oração. Era também um atento observador da vida e dos costumes do seu povo. Os caminhos percorridos por Jesus e seu discipulado eram também lugares de encontro e de explicitação do projeto do Reino. Nestes cumpria o mandato delegado pelo Pai, transformando a vida das pessoas (Lc 4,16-20). Era o Filho de Deus visitando a sua gente e fazendo o bem.
Ao tomar a decisão de ir para Jerusalém (Lc 9,51) Jesus decide ir para o centro do poder político e religioso, onde se tomavam as decisões que afetavam a vida do povo. Tinha presente que a cruz estava no seu caminho. Era consequência da missão, das opções que fizera e das quais jamais abdicaria.
Era necessário assumir a cruz com coragem através do serviço aos mais fracos e não buscando o poder ou o prestígio como os discípulos pensavam de forma equivocada. Segundo Jesus: Quem ousasse ser o menor, esse seria grande (cf. Lc 9,48).
Seguindo estes passos e assumindo estes princípios, Jesus chegou a cidade de Jerusalém. Passou antes por duas povoações pequenas, Betânia e Betfagé, distantes cerca de 10 quilômetros de Jerusalém. Lucas dá certa solenidade a última parte da viagem assinalando a simbologia montaria de Jesus. Pela primeira vez vê-se que Ele não caminhou, mas fez uso de uma montaria, um jumentinho, montaria dos pobres, como foi a sua vida, em plena comunhão com os pobres. O jumento é também na tradição oriental o animal da paz. Jesus se apresenta ao seu povo como o príncipe da paz.
Em contraste com a montaria utilizada por Jesus, Pilatos entrava na cidade, por outro lado, montado em cavalo vistoso, assim como seu exército. Estava preparado para a guerra. Ele estava preocupado em vigiar a cidade porque a festa da páscoa judaica era ocasião de tensão em relação à dominação romana. Se Jesus entrou como o “príncipe da paz”, Pilatos entrou disposto a manter a paz, todavia na perspectiva romana, com muita violência.
A acolhida das pessoas a Jesus é calorosa. Para eles Jesus era o rei, o messias esperado e por isso a saudação “bendito o que vem como rei em nome do Senhor” (Lc 19,38). Ele vinha trazer a paz traduzida em vida digna, justa e feliz para todas as pessoas.
Talvez possa soar estranho que na mesma celebração se faça a proclamação da paixão do Senhor Jesus. Possivelmente Jesus ficou uns dias em Jerusalém ensinando no templo interpelando e sendo interpelado pelos seus adversários. Na cidade de Jerusalém o templo era o lugar mais frequentado, um espaço público próprio para o testemunho de Jesus. Em seguida acontece a celebração pascal com o discipulado, a qual fazemos memória na quinta-feira, início do Tríduo Pascal. Segundo a tradição, Jesus passou a madrugada em oração no Getsemani e em seguida foi preso pelos guardas iniciando sua peregrinação do julgamento ao calvário.
O acento na narrativa da paixão assinala que o homem que foi acolhido pelos pobres em Jerusalém, corajosamente enfrentou a cruz, artimanha dos seus adversários, em favor desses pobres e de toda a humanidade. Celebramos a entrada de Jesus em Jerusalém cantando hosanas ao Filho de Davi e fazemos memória da sua paixão morte, compreendendo que Ele nos amou até as últimas consequências e fez do enfrentamento da cruz a possibilidade real da salvação da humanidade.
Pe. Ari Antonio dos Reis