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Campanha da Fraternidade 2025: fraternidade e ecologia integral Deus viu que tudo era muito bom (Gn 1,31)

Pe. Ari Antonio dos Reis

Na quarta-feira de cinzas foi lançada a Campanha da Fraternidade em todo o Brasil apresentando como tema de reflexão a “fraternidade e a ecologia integral”. A Conferência Nacional dos bispos do Brasil – CNBB, enfoca a questão ambiental devido a sua urgência, tendo presente que o debate deve acontecer com serenidade, sem fugir ao diálogo sincero sobre os desafios que a realidade apresenta.

É tradição da Igreja pautar no tempo da quaresma, acolhendo a espiritualidade própria deste período, temas importantes à vida dos cristãos e também significantes para a sociedade. A temática ambiental assume esta perspectiva. Ela é importante. Desde 1979 a Igreja já manifestava esta preocupação quando foi apresentada a campanha para aquele ano com o lema “preserve o que é de todos”. Neste ano apresenta-se como proposta reflexiva o compromisso humano com a ecologia integral. Por ecologia integral compreende-se o cuidado com a natureza e com todos os ambientes nos quais o ser humano vive e se relaciona. Implica em acolher e cuidar dos aspectos estruturantes da vida humana.  Portanto, integra as dimensões ambientais, sociais, culturais, econômicas e espirituais, considerando todas elas importantes na condução da vida humana e seu ambiente.

Sobre o tema, assinala-se que no período de um ano tivemos no Estado dois eventos climáticos de grande impacto na vida do nosso povo. Primeiro o fenômeno das chuvas e as consequentes enchentes em várias regiões; mais recentemente o fenômeno da estiagem de grande impacto na agricultura e na vida urbana. Estes fatos, considerados consequência do aquecimento global, provocam a reflexão sobre a influência do ser humano e o modo de vida adotado como fator que pesa nestes fenômenos.   A preocupação ambiental, em vista de uma ecologia integral, é um desafio do nosso tempo, marcado pela industrialização e por um modo de vida que interfere de forma direta no equilíbrio ambiental.

A Campanha da Fraternidade coloca o tema da ecologia integral para a reflexão dos católicos e cristãos de boa vontade no tempo da Quaresma, que convida à conversão, à mudança de vida. Assumindo o espírito profético sugere a necessidade de olhar o contexto que se vive tendo presente a preocupação ambiental. Segue-se a seguinte premissa a partir da proposição do Papa Francisco apresentada na Carta Encíclica Laudato Si (2015): o Planeta Terra é a nossa “Casa Comum”. Estamos vivendo nesta casa por um tempo. Não seremos eternos neste mundo. Então, pergunta-se, como deixaremos a Casa Comum para as gerações que virão após nós? Estas gerações terão condições de viver nesta Casa? Como exposto acima, a temática se torna mais urgente, e o texto base enfoca isso, pelo fato de já sentirmos as consequências dessas transformações na natureza. Elas têm afetado diretamente as populações mais vulneráveis.

A Campanha busca como iluminação bíblica elementos dos dois primeiros capítulos do livro do Gênesis. Ali estão duas narrativas da criação e delas podemos acolher algumas primícias. Primeiro que o mundo foi criado bom como o lema da campanha explicita: ‘Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). Uma segunda premissa lembra que humanidade é parte da obra criada, não está separada. Está integrada a toda a obra amorosa de Deus e esta integração é graça divina. A terceira premissa acentua a responsabilidade humana pela obra criada. O ser humano tem diante de Deus e da criação uma responsabilidade ímpar como descreve o texto de Gênesis: Deus colocou o ser humano no Jardim do Éden para cultivar e guardar (Gn 2,15). Também tenhamos presente o exposto no Livro do Apocalipse: não prejudiquem a terra, nem o mar, nem as árvores! Vamos antes marcar a fronte dos servos do nosso Deus (Ap 7,3).

Seguida da fundamentação bíblica segundo os dois primeiros capítulos do livro do Gênesis a reflexão apresenta a reflexão eclesial que é pensamento da Igreja. Destacamos o pensamento dos Santos Padres que convidam a acolher e seguir os exemplos da natureza tendo-os como norma de vida. Também apresenta a reflexão dos Papas, desde Leão XIII com a publicação da Carta Encíclica Rerum Novarum (1891) na qual defende a função social da propriedade privada. Os Papas sugerem o cuidado com os bens da criação e sua disposição para todo o ser humano, a serviço do bem comum. Seguindo a tradição dos antecessores que apresentaram preocupação com a questão ambiental, o Papa Francisco escreveu dois documentos com o enfoque na questão ambiental a saber: a Carta Encíclica Laudado Si (2015) e a Exortação Laudate Deum (2023).

A proposição reflexiva leva ao agir. É necessário para cumprirmos com fidelidade o projeto de conversão suscitado neste tempo quaresmal. E o agir pode acontecer em quatro dimensões articuladas: pessoa, família, comunidade e sociedade, cada uma com suas atribuições e responsabilidades.

Possamos neste tempo de quaresma acolher esta proposta de reflexão em vista do respeito e cuidado com a nossa Casa Comum e a sua preservação para que ela possa continuar acolhendo a nossa vida e a vida das gerações futuras. É o apelo da Campanha da Fraternidade.

Pe. Ari Antonio dos Reis

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