Ouvi histórias de homens que, no lombo do cavalo, aprenderam que o campo não perdoa preguiça, mas recompensa quem tem fibra. Vi histórias sobre a geada branca cobrindo a pastagem e, na frente daquele velho fogão a lenha, ouvi meu avô falar sobre o minuano que cortava o rosto até doer. Mesmo assim, ele seguia, porque dizia que a lida nunca espera. Cresci ouvindo os mais velhos falar de honra, de palavra, de bravura, de como o Rio Grande foi forjado em luta e sacrifício. Aprendi que aqui nada veio fácil e, justamente por isso, tudo tem mais valor.
Eu me orgulho de ouvir histórias sobre como o gaúcho é feito de resistência, de homens e mulheres que não se entregam por nada.
Sabe quando o hino diz “sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra” ? Não é só letra bonita: é o retrato da alma de cada gaúcho. Porque as façanhas não estão apenas nas guerras e revoluções, mas também no dia a dia. Estão na mulher que cria os filhos sozinha, com o mundo nas costas; no homem que levanta de madrugada para trabalhar e garantir o sustento em casa; estão no mate que circula entre amigos. Isso também é façanha, porque é prova de que aqui a vida é dura, mas nunca permite que um gaúcho se entregue diante de qualquer dificuldade.
E eu digo com o peito cheio: eu amo este Rio Grande! Amo a cor da nossa bandeira tremulando no céu, amo o cheiro da lenha queimando na simplicidade do fogão, amo o barulho da água do arroio correndo mansa no silêncio da tarde. Amo até o silêncio do campo, que ensina a gente a escutar a si mesmo. Esse amor não se explica, se sente. E é por esse amor que nós seguimos firmes, geração após geração, sem deixar a chama apagar.
Mas confesso que às vezes me preocupo. Será que os mais novos vão lembrar do que significa ser gaúcho? Vão compreender que tradição não é atraso, mas raiz? E raiz não prende: raiz sustenta, mantém firme! Porque tradição é aquilo que dá rumo, é o que nos mostra quem somos quando o mundo tenta nos confundir.
Eu espero que o futuro do Rio Grande siga firme, com homens e mulheres que saibam lutar, mas também saibam perdoar. Que sejam fortes, aguerridos e bravos, mas também justos, como ensina o nosso hino. Que cada nova geração consiga carregar no peito o mesmo orgulho que carregamos, porque ser gaúcho não é apenas nascer aqui: é viver com essa terra entranhada no coração, em qualquer lugar do mundo onde se esteja.
E, um dia, quando meus olhos se fecharem, quero partir com a certeza de que meus netos e bisnetos ainda vão lembrar que não é só no 20 de setembro que celebramos o Rio Grande. Porque ele vive em cada gaúcho que não esquece suas origens, que honra sua história e que sabe que liberdade não se pede: se conquista.
Enquanto houver um gaúcho neste chão, haverá sempre orgulho, bravura e esperança. E eu sei, de alma e coração, que o Rio Grande seguirá de pé, altivo, livre e imortal.