Em certa propriedade de terreno dobrado, um pinheiro enorme e grosso, no alto do morro, sobressaía entre todas as árvores. Na planície, entre a vegetação mais rala e na terra mais magra, crescia um pinheiro miúdo e fino. Sempre se entreolhavam, mas não se sabia o juízo que um fazia do outro. Depois de um tornado, que arrancou o forte pinheiro lá do alto, e o arremessou ao lado do seu parceiro frágil, na baixada, estabeleceram um diálogo, antes impossível.
– O que aconteceu, meu colega? – inquiriu o pinheiro, que não fora atingido pela ventania.
O agonizante assim se expressou:
– Não resisti em meu lugar de honra. Lá no alto, sempre sofri os ventos adversos, as secas prolongadas, o frio intenso do inverno, o perigo dos raios. E os meus frutos sempre foram os primeiros visados. Eu era visto por todos e nem me importava com os outros, pois me sentia mais forte e poderoso que todos. Agora, resta-me morrer nesta baixada, onde poderia viver feliz.
O companheiro débil, dando-se conta das vantagens que sempre teve, deixou-lhe uma última mensagem:
– Sabe que eu nunca me dei conta dos perigos a que você estava sujeito. Achei que você era feliz e realizado, vendo todos do alto, fazendo sombra para os outros e sendo forte e admirado. Agora vejo como estou seguro aqui, e que posso realizar-me no lugar onde estou.
O poder tem seus opositores. Os ambiciosos, os invejosos, os interesseiros, sempre planejam vencer a quem faz sombra. Mas cada um pode realizar-se com os dons que possui, e no lugar onde se encontra, na planície ou no alto do morro. Para Deus, cada um é tão importante quanto o outro e pode e deve santificar-se no lugar e ambiente onde vive.