Neste 33º Domingo do Tempo Comum, dia 16 de novembro, a Igreja, presente no mundo, todo celebra o Dia Mundial dos Pobres. O Papa Leão XIV seguindo a tradição do saudoso Papa Francisco escreveu uma bonita mensagem que pode ser acessada integralmente no site do Vaticano intitulada, “Tu és minha esperança”, tendo como referência o salmo 71. Ali está expressa a confiança do salmista em Deus como alento para superar todas as dificuldades decorrentes de uma vida de provações. Ele reconhece o amparo de Deus e o professa. És o meu rochedo e a minha fortaleza (Sl 71,3). Daí deriva a confiança inabalável de que a esperança n’Ele não decepciona como ainda expressa “em ti, Senhor, me refúgio, jamais serei confundido” (Sl 71,1).
A preocupação com os pobres é fundamentada na tradição cristã. Jesus de Nazaré na sua missão iniciada na Galileia colocou-se de forma inequívoca ao lado dos pobres e anunciou já no começo do seu trabalho, que fora ungido para anunciar a boa-nova aos pobres (Lc 4,18). O apóstolo Paulo em carta à comunidade de Corinto assegura a bonita imersão do filho de Deus em nossa realidade de pobreza humana: sendo rico Ele se fez pobre para nos enriquecer com sua pobreza (2 Cor 8,9). O socorro aos pobres foi constitutivo da missão de Jesus.
Os apóstolos de Jesus revelaram grande preocupação com algo constante na vida dos pobres, a mesa vazia. Havia murmurações quanto ao atendimento das pessoas necessitadas explicitado na fragilidade da atenção às mesas das viúvas estrangeiras. Eram viúvas e estrangeiras, portanto com grande fragilidade. A constatação exigiu do grupo a organização para dar conta dessa necessidade e surge a proposição da nomeação de diáconos. Sua missão primordial era o cuidado com os pobres (At 6,1-3). O diácono São Lourenço, no século terceiro, encarregado dos bens da Igreja e do cuidado dos pobres, quando cobrado pelo imperador de Roma para que levasse a ele todos os bens eclesiais levou os pobres porque segundo ele eram o grande tesouro da Igreja, o seu patrimônio.
Trazendo a reflexão para os tempos atuais, constata-se que nos deparamos com grandes contingentes de pobres e com rostos diferenciados, como assegura o Documento de Aparecida no parágrafo 65. O pobre tem um corpo, um rosto e uma história, marcada pela dor sofrimento e exclusão a qual não podemos ser indiferentes porque clama aos céus e à sensibilidade cristã.
A situação de vida de pobre sempre deve gerar inquietação na sociedade. Todavia, há de se ter cuidado com que tipo de inquietação. Existe a inquietação que provoca ações de solidariedade e compromisso e superação das realidades de pobreza. Compreende-se que tal situação é não digna para o ser humano e busca-se a sua superação e também o enfrentamento dos seus fatores geradores. A inquietação sadia provoca a ação e a conversão.
Contudo, existe uma segunda inquietação. Podemos denominar como uma inquietação perversa, que vê a pobreza como um grande problema e os pobres como figuras desprezíveis. Diante desta inquietação procura-se eliminar os pobres e não a pobreza. Ela se aproxima do que alguns sociólogos sugerem como aporofobia (aporos/pobre) e (phobos/medo) que significa medo, aversão, desprezo ou ódio a pessoas pobres. Foi cunhado pela filósofa espanhola Adela Cortina. Tal preconceito tem fundo individual e também político estrutural e vai se delineando na constituição de uma sociedade que se aprofunda na hostilidade aos pobres chegando ao extremo de pregar a sua eliminação. Este caso revela a inquietação perversa quanto à pobreza porque não prioriza a vida e a dignidade humana, mas sim a sua eliminação, porque não atende ao mercado e às regras sociais orquestradas no mundo capitalistas.
O Evangelho de Jesus Cristo é paradigmático quanto ao critério para iluminar esta realidade. Diante da realidade da fome Ele conclama os discípulos, dai-lhes vos mesmos de comer (Mt 14,16), quando eles tendiam para outro caminho Ele mostra naquela mesma situação um caminho viável, a partilha.
O Papa Francisco ao conclamar o dia Mundial do Pobre, que está na sua 8º edição, lembra este compromisso da Igreja, e a sadia inquietação. Sim, os pobres e sua situação difícil de sobrevivência devem ser preocupação constante da Igreja. A mensagem escrita pelo Papa Leão XIV fundada no salmo 71 que assume a prece do salmista e coloca em Deus toda a sua esperança e também lembra à Igreja os seus compromissos com os empobrecidos.
O dia Mundial dos Pobres motiva as comunidades cristãs a esta bonita tarefa que se deriva em duas ações intercaladas, primeiro: assinalar aos pobres a sua predileção de Deus e da Igreja fato que não é modismo passageiro, mas intrínseco à fé cristã. Para a Igreja, escreve o Papa Leão, pobres não são um passatempo para a Igreja, mas sim os irmãos e irmãs mais amados. Esta predileção é canalizada em obras em benefício dos pobres, segundo São Lourenço, o grande tesouro da Igreja. A segunda ação implica em ajudar as pessoas a viverem o conhecimento profundo de Deus. O Papa Leão retoma a Exortação Evangelii Gaudium, de autoria do Papa Francisco, ao escrever que: a pobreza mais grave, a pior discriminação é a falta de cuidado espiritual que os pobres sofrem. Todos têm uma abertura muito grande à força do alto. Demanda daí o compromisso da Igreja em contribuir para saciar também a fome de Deus presente junto ao povo.
Acolhamos, enquanto peregrinos de esperança, os pobres como nossos companheiros de caminhada. Eles nos convertem e mantêm viva a nossa esperança.
Pe. Ari Antonio dos Reis











