DO PLANALTO CENTRAL AO PANTANAL: MEMÓRIAS E CAMINHOS
A despedida de Goiânia
Deixamos Goiânia com a saudade fresca no peito. A hospitalidade dos gaúchos radicados na capital goiana nos marcou de novo. Entre costelões, chimarrão e canto, a tradição se manteve viva, mesmo distante das coxilhas do Sul. O CTG Saudade dos Pagos, sob a liderança do Patrão Miro, reafirmou o que já sabíamos: a cultura gaúcha é raiz que não se arranca, apenas se espalha.
Jataí: promessas e história viva
Logo adiante, a estrada nos levou a Jataí, cidade de pouco mais de 120 mil habitantes, segundo o IBGE, erguida sobre a força do agro. Aqui, o leite, os grãos, o algodão e até o mel têm lugar de destaque — e quem nunca ouviu falar da famosa abelha de Jataí, símbolo local, que produz um mel raro e medicinal?
Mas Jataí não é apenas agro: é também história política. Foi em 04 de abril de 1955 que Juscelino Kubitschek, então candidato à Presidência da República, realizou ali o seu primeiro comício de campanha. Do palanque, prometeu cumprir a Constituição e erguer a nova capital no coração do Brasil. A plateia acreditou. Depois da vitória, cobrou. E JK cumpriu.
A retribuição veio com a construção de uma estrada federal ligando Jataí a Goiânia — mais tarde asfaltada, hoje duplicada e tomada pelo intenso movimento de caminhões. Uma artéria que não apenas conecta cidades, mas que simboliza a confiança de um povo na palavra de um presidente.
A memória preservada
Jataí cuida da sua história, recente, mas valorizada. O lago que embeleza a cidade abriga o Memorial JK, espaço que recorda a ousadia de quem ousou sonhar Brasília. Ali, cultura e memória se entrelaçam, mostrando que mesmo as cidades do interior são guardiãs de capítulos decisivos da história nacional.
Chapadão do Sul: a visão que constrói
Do Goiás, seguimos para o Mato Grosso do Sul. Às 17h30, chegamos a Chapadão do Sul, uma cidade jovem, mas com futuro robusto. Sua origem remonta ao espírito visionário de Júlio Alves Martins, gaúcho de Ijuí, que acreditou no cerrado e ajudou a transformá-lo em terra fértil e próspera.
Chapadão cresceu impulsionada pelo agronegócio, tornando-se referência nacional na produção de soja e milho. Hoje, tem um dos maiores PIBs per capita do Mato Grosso do Sul. Mas a identidade cultural não se perdeu: ali também pulsa um CTG. Fragilizado pela pandemia, ele agora busca se reerguer, sob a inspiração das novas gerações.
No coração da cidade, o legado permanece nas mãos de Julinei Alves Martins, filho do fundador, que se consolidou como empresário bem-sucedido e liderança local. Sua trajetória mostra como o espírito pioneiro pode se transformar em desenvolvimento.
Entre tradição e futuro
De Goiânia a Jataí, de Chapadão ao Pantanal, percorremos não apenas estradas, mas histórias. Cada parada é um encontro com a identidade brasileira: o gaúcho que migra e recria seu chão, o goiano que preserva a memória de JK, o sul-mato-grossense que transforma cerrado em abundância.
Seguimos. O caminho é longo, mas a cultura é a bússola. E enquanto houver estrada, haverá mate, música e memória a serem compartilhados.