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Do Rio Grande ao Pantanal: O NORDESTE TEM PROGRESSO E CULTURA, SIM SENHOR!

O Nordeste brasileiro é terra de contrastes, de resistências e de histórias que desafiam a lógica do esquecimento. Ontem deixamos o Recife rumo a Petrolina, em Pernambuco, percorrendo longas retas de estrada que atravessam o agreste. O cenário que se desenha é de um cerrado seco, pouco propício à agricultura ou à pecuária, mas ainda assim habitado por vidas que se adaptam: as cabras. “Ó cabradapeste”, como diriam os locais. Estão por toda parte – na rodovia, nos pedregulhos e até nos penhascos, como se dessem lições de sobrevivência.

No caminho, paramos diante de uma pequena comunidade. Cerca de dez pessoas aguardavam, sentadas em frente à igreja, antes mesmo das sete da manhã. Engano meu pensar que eram fiéis aguardando uma missa. Na verdade, esperavam a abertura do posto de saúde. Ali, a fé e a esperança se misturam: um gesto silencioso de perseverança cotidiana.

A viagem prosseguiu em meio a serras e chapadas distantes. A monotonia da estrada, sempre uma curva seguida de vinte quilômetros de reta, impõe ao viajante o desafio do cansaço, ainda que o corpo venha descansado da noite anterior. E foi assim que chegamos à primeira transposição do Rio São Francisco.

 

A obra, tão anunciada por governos desde os anos 1990, carrega em si promessas e contradições. Vendeu-se a ideia de que o “Velho Chico” seria o milagre humano do século: levar água a quem não tem, transformar a paisagem do sertão, irrigar lavouras castigadas por um regime de chuvas que mal dura três meses ao ano. No entanto, a realidade no entorno da obra não corresponde ao discurso oficial.

Em uma comunidade indígena próxima, a população luta para manter canos e bombas de imersão improvisados, que garantem o mínimo: água para beber, cozinhar, tomar banho e cuidar das crianças. Caciques, pajés, professores, estudantes e famílias inteiras enfrentam a ameaça de ver o governo estadual retirar o que, para eles, é questão de sobrevivência. Há, sem dúvida, um erro grave nesse enredo.

No fim da tarde, já em Petrolina, uma nova face do Nordeste se revelou. Conheci um gaúcho, vindo da região das Missões, que há 32 anos decidiu fincar raízes no sertão. Dono de uma sorveteria modesta no início, hoje comanda a maior fábrica de sorvetes do Nordeste, produzindo impressionantes 100 toneladas por dia. Uma história de coragem, visão e trabalho árduo — que ainda merece ser contada com calma.

Por ora, seguimos estrada afora. Porque o Nordeste não cabe em um só texto, nem em uma única viagem. Ele pulsa em cada canto, entre o atraso e o progresso, entre a promessa e a luta, entre a tradição e a reinvenção. E o que não falta por aqui é cultura, sim senhor!

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