As chuvas pesadas, com intensidades de até 150mm em poucas horas e contínuas, nos
últimos meses, estão dizimando as
lavouras de inverno, principalmente, o trigo que é a cultura mais expressiva
nessa época, no Rio Grande do Sul. Tecnicamente,
o trigo já não gosta de muitas chuvas,
explicam os agrônomos, e nesse
ano(2023), elas vieram de forma exagerada, no mês de setembro houve
precipitação de até 600mm, o que tende a
se repetir em outubro. Com excesso de
umidade e falta de insolação, as pestes tomaram contas das lavouras, também de
cevada e aveia. A giberela é a principal doença fúngica registrada, mas até
mesmo outras, menos comuns, brusone e bacteriose, apareceram.
O
agricultor não tem como acessar às
lavouras para fazer o controle das doenças devido ao excesso de umidade. As
máquinas atolam até nas coxilhas. E
diante das intempéries, o resultado esperado,
a eficiência dos produtos químicos ou biológicos, não seriam os mesmos. A consequência, são
lavouras pesteadas. Poucas serão
salvas. O mercado de trigo é seletivo, exige
produto de primeira qualidade, diferente de soja e milho, se não atingir o
nível de qualidade exigido, o produto é
descartado e vai para a indústria de ração.
E o ciclo ainda não terminou. Se
o tempo permanecer como está, com cerca de 70% dos dias chuvosos, o
agricultor não conseguirá condições de solo para colher.
A
realidade atual frustra os produtores rurais. Muitos já são reticentes ao
cultivo desse cereal pela sua suscetibilidade às intempéries e baixo valor de
comercialização. Nesse ano, as duas variáveis convergiram para a frustração da
safra. O preço ao redor de R$ 48,00 a saca
é praticamente a metade do valor de um ano atrás, quando estava na faixa de R$
91,00.
De
janeiro a setembro o Brasil importou 740 mil toneladas da Rússia e 1,7 milhão
de toneladas da Argentina. Isso equivale
a cerca de 10% de uma safra normal brasileira. Reside aí a falta de competitividade
do produto brasileiro. O trigo russo, mesmo enfrentando 30 dias de logística
pelos oceanos, chega aqui mais competitivo. Essa é a prova de que essa cultura
precisa de incentivo oficial. O país, tem solo, que fica ocioso no inverno,
genética de sementes e não consegue
competir. Uma indústria nova chega à região, que é o etanol de cereais de inverno, o que oferece um pouco
de esperança ao setor, mas certamente não será suficiente para inverter essa
situação calamitosa. O Brasil consome
12,5 milhões de toneladas por ano e em condições boas não consegue colher 10
milhões de toneladas. Essa realidade destoa da condição brasileira de ser um
dos celeiros do mundo, o maior produtor de soja, um dos maiores produtores de
milho e de proteína animal, carnes de aves, bovina e suína.
O tempo
não têm sido nada generoso com o produtor gaúcho. Ao contrário, a seca dizimou
as últimas três lavouras de verão, soja e milho e agora destrói a lavoura de
inverno. Até mesmo a aveia, que é uma
espécie de inço, está apodrecendo. Muitos produtores não terão semente para o
próximo plantio, para cobertura de solo ou para pastagens. (Texto e foto: João
Altair/Editora de Agricultura e Pecuária das Rádios Planalto).