Em 2025, celebramos os 10 anos da publicação da encíclica Laudato Si um dos documentos mais emblemáticos do pontificado do Papa Francisco. Lançado em 24 de maio de 2015, esse texto profético marcou profundamente a reflexão ecológica no mundo cristão e além dele, convocando toda a humanidade a uma “conversão ecológica” e ao cuidado com a Casa Comum.
Inspirado no Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis, o Papa uniu fé e ciência, espiritualidade e responsabilidade política, propondo uma ecologia integral que liga o cuidado com o meio ambiente à justiça social, à dignidade humana e à espiritualidade. “Tudo está interligado”, escreveu o Papa – uma frase que se tornou símbolo dessa nova compreensão planetária da crise ambiental.
Dez anos depois, o que mudou?
A Laudato Si teve forte repercussão mundial. Influenciou debates internacionais sobre o clima, como as conferências da ONU (COPs), e inspirou movimentos católicos e inter-religiosos em defesa do meio ambiente. Nas dioceses, paróquias e comunidades, surgiram iniciativas de educação ambiental, reflorestamento, agricultura sustentável, energia limpa e campanhas contra o desperdício e o consumismo.
No entanto, os avanços globais ainda são tímidos diante da gravidade da crise climática e ambiental. Desmatamentos, poluição, mudanças climáticas, perda da biodiversidade e o drama das populações mais vulneráveis continuam a se agravar. Como o próprio Papa reconheceu na exortação Laudate Deum (2023), o mundo ainda não reagiu com a urgência necessária.
O efeito Laudato Si
Mesmo com obstáculos, a Laudato Si gerou uma mudança cultural significativa dentro e fora da Igreja. Formaram-se redes, como o Movimento Laudato Si, que articulam ações concretas e formativas em nível mundial. Muitas instituições católicas passaram a adotar critérios sustentáveis em suas estruturas, e a consciência ecológica cresceu, especialmente entre os jovens e nas pastorais sociais.
Além disso, a encíclica ajudou a reforçar o papel profético da Igreja na defesa da vida em todas as suas dimensões, denunciando com clareza o sistema econômico que sacrifica o planeta e os pobres em nome do lucro.
Uma consequência bem concreta para a Igreja que a encíclica trouxe é o Sínodo para a Amazônia. Sem compreender a Laudato Sí, não é possível compreender o referido Sínodo. É na compreensão que precisamos de uma virada ecológica, que implique em todos os âmbitos da vivência humana que surgiu o Sínodo para a Amazônia. Podemos perguntar que ligação tem a vida eclesial com a mudança social a partir da ecologia? É o seguimento a Jesus Cristo que vê neste lugar que é a Amazônia, não somente a ameaça à biodiversidade, mas a necessidade da defesa também dos povos que lá habitam e são injustiçados, expulsos de suas terras, torturados e assassinados nos conflitos agrários e socioambientais. Dar foco para um lugar em que a defesa dos últimos como compromisso evangélico é a iniciativa da Igreja a fim de que o tema da ecologia integral seja valorizado. Não só os seres humanos que lá habitam precisam de atenção, mas é o todo, começando pelas pessoas, mas passando também pelo meio ambiente que precisa ser cuidado. A Amazônia é um lugar em que a ecologia integral precisa ser debatida e o Sínodo trouxe provocações para que a Igreja encare com mais seriedade este tema.
A profecia de Francisco
A grande profecia da Laudato Si está na convocação a uma nova forma de habitar o mundo: com simplicidade, gratidão e solidariedade. Francisco propõe uma ecologia que nasce do coração e da fé, que reconhece o planeta como dom de Deus e os pobres como irmãos e irmãs. Ele não fala apenas de mudanças técnicas, mas de um novo estilo de vida, onde cuidar da Terra é também cuidar uns dos outros.
Ao completarmos 10 anos dessa encíclica, o chamado permanece atual e urgente. A crise ecológica é, sobretudo, uma crise espiritual. Precisamos mais do que nunca de uma Igreja comprometida com a justiça ecológica, educadora da esperança, promotora de uma vida simples e solidária, e voz profética diante das estruturas de morte que ameaçam nosso futuro comum.
Texto: Elisabete Gambatto / Dalcinei Sacheti
Fonte: Pascom arquidiocesana