A vida de um artista é muitas vezes marcada por altos e baixos, desafios e superações. Mas, para Marcio Meneghell, ator e comediante, essa trajetória ganhou um novo significado após um episódio traumático que quase o levou. No dia 3 de novembro, uma crise de asma severa o levou à UTI, onde ficou entubado e, por pouco, não perdeu a vida. Esse momento de quase morte provocou uma reflexão profunda sobre o que realmente importa, trazendo à tona a urgência de viver com intensidade e de se entregar ao que mais ama: a arte.
Em nossa conversa, Marcio compartilha com sinceridade não apenas a sua paixão pela comédia e pelo teatro, mas também as lições preciosas que aprendeu ao longo dos anos, tanto na vida profissional quanto pessoal. Ele fala sobre os desafios que enfrentou, os mentores que o inspiraram e a mudança de perspectiva que teve após essa experiência extrema. Uma jornada de superação, onde a arte e a reflexão sobre a vida caminham lado a lado.
Marcio Meneghell explicou que sua trajetória artística começou de maneira inesperada.
“Na verdade, minha história é bastante comum, como a de qualquer outra pessoa que acabou fazendo arte. Foi meio que por acaso. Minha vida não tinha nada a ver com teatro, com arte, nem com nada disso. Eu tenho formação em Direito, e o teatro era uma possibilidade distante, para ser bem sincero”, contou ele.
Mas tudo mudou em uma brincadeira de escola.
“Um belo dia, numa brincadeira de colégio, resolvemos fazer algo que estava em alta na época, no meu caso, escolher o Professor Raimundo. Mas tudo isso foi para matar a aula. Eu estava entediado e falei para a professora de Educação Artística: ‘Vamos fazer algo diferente!’ Ela perguntou o que, e eu sugeri fazer um teatro. Ela me respondeu: ‘Tem alguma coisa pronta?’ Eu disse que não, e ela respondeu: ‘Então, pega a turma e vai ensaiar para a próxima aula, porque vocês vão apresentar.’ Eu disse: ‘Perfeito!’ E chamei todos os meus para sair da sala”, relembrou.
A apresentação foi um grande sucesso, e ele acabou se apaixonando pela arte.
Desafios enfrentados ao longo da trajetória profissional
Para ele, o trabalho artístico é desafiador o tempo todo. Mas Marcio também lembrou de um desafio muito específico e marcante em sua carreira.
“Um dos maiores desafios da minha carreira aconteceu no dia em que me chamaram para fazer um teste para o Zorro Total. Foi completamente inesperado. Eu estava em casa, sem esperar nada, quando meu amigo e irmão, Caíque Luna, que infelizmente nos deixou dois anos atrás, me ligou. Ele disse: ‘Olha, o Sherman, diretor do Zorro Total, quer te conhecer. Vem para cá!'”
Marcio confessou que ficou assustado ao receber a notícia.
“Eu pensei: Bom, se estou aqui, não é por acaso. Alguma coisa me trouxe até esse momento. Respirei fundo, mantive a calma, e lembrei dos meus personagens. E, graças a Deus, me saí bem. Exatamente uma semana depois, já me chamaram para fazer parte do programa.”
Momento que mudou a forma como enxerga sua profissão
Marcio falou sobre como um grave acidente de trânsito em 2004 mudou sua visão sobre a vida e a arte.
“Bem, essa terceira pergunta é bem complexa. À primeira vista, parece simples, mas na verdade não é. Em 2004, eu sofri um acidente de trânsito muito sério, e isso me levou a uma experiência que mudou minha visão de muitas coisas. Fiquei praticamente dois meses e meio no hospital. Enfim, foi algo horrível, traumatizante…”, relatou ele.
A experiência de quase morte o fez refletir profundamente sobre o que ele queria transmitir ao público.
“E aí eu pensei: ‘Claro, vou continuar fazendo comédia, porque comédia é a minha essência, levar felicidade para as pessoas é a minha essência.’ Mas, a partir de então, decidi que queria fazer isso de uma forma mais reflexiva. Queria levar mais do que risadas, queria também proporcionar reflexão”, explicou.
A partir daquele momento, ele passou a fazer espetáculos mais reflexivos e a trabalhar com autores como Fernanda Montenegro, Machado de Assis e Guimarães Rosa, que falam essencialmente sobre a vida, sobre o ser humano.
Se pudesse voltar no tempo, que conselho daria a si mesmo?
“Pois bem, se eu pudesse voltar no tempo e dar um conselho a mim mesmo, não saberia exatamente o que dizer. Mas talvez eu teria arriscado mais. Sabe, teria ousado mais, porque, às vezes, a gente se prende muito na arte e acaba se limitando. Eu demorei, por exemplo, para ir para o Rio de Janeiro. Eu deveria ter ido muito antes”, revelou.
Ele explicou que teve convites para se mudar para o Rio, mas resistiu a eles.
“Já tinham me chamado para ir há uns 15 anos atrás, mas eu fiquei relutando, dizendo que não era para mim, que preferia ficar com o meu teatro aqui”, disse ele.
Se não estivesse na profissão que escolheu, o que imagina que estaria fazendo agora?
“Então, Carol, eu não sei. É uma coisa quase inconcebível, parece meio doido, mas é realmente difícil me imaginar fazendo outra coisa. Eu não consigo, sabe? Para você exercer qualquer profissão, seja ela qual for, você tem que gostar, tem que amar o que faz, em primeiro lugar. E, por mais que eu goste de algumas coisas, não existe nada que eu ame, nem 5% do que eu amo fazer teatro, fazer arte, ser artista.”
Como se vê daqui 5 ou 10 anos?
“Pois então, essa é uma pergunta bem significativa para mim. Onde eu me vejo daqui a cinco ou dez anos? E eu vou falar do fundo do meu coração: daqui a cinco ou dez anos, a única coisa que consigo me ver é vivo. Eu gostaria muito de estar vivo, apenas vivo”, revelou.
Marcio compartilhou que, recentemente, passou por uma experiência de quase morte que mudou sua perspectiva de vida.
“Recentemente, aconteceu um episódio que foi bem traumático. No dia 3 de novembro, fui internado, fiquei entubado, direto na UTI. Me encontraram em casa, desacordado, com uma crise de asma severa. E eu juro, eu juro que, se não fosse por mais cinco minutos, o meu corpo demoraria mais cinco minutos para reagir. Se um amigo meu, que mora em frente, não tivesse vindo me ajudar, eu não estaria nem dando essa entrevista”, explicou, visivelmente tocado.
Ele falou sobre o impacto dessa experiência em sua vida e a reflexão que ela gerou.
“Esses dias que passei na UTI me levaram a uma reflexão muito grande. A vida, às vezes, não é nada e, ao mesmo tempo, é tudo. E, para ser tudo, basta estarmos vivos. Porque, se a gente não estiver respirando, não estiver vivo, acho que não é nada. Mas, se tivermos simplesmente vivos, podemos fazer tudo o que quisermos. Não existem barreiras, não existe nada.”
Marcio concluiu com uma visão mais leve sobre o futuro, mas com uma ênfase no valor do presente.
“Então, eu acho que essa experiência, mais uma experiência, já que, a cada 20 anos, parece que eu passo por algo assim, essa experiência traumática de quase morte me levou definitivamente a essa conclusão: eu quero viver intensamente, da melhor forma possível, com as pessoas que eu gosto, sem hipocrisia, fazendo apenas o que eu realmente gosto, nada forçado. Quero ser feliz e gerar felicidade para quem eu estiver por perto, para onde quer que eu vá, e para quem estiver me assistindo nos meus trabalhos, seja no teatro, na TV, seja onde for. É isso.”