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Escutar

Dom Rodolfo Luís Weber - Arcebispo de Passo Fundo

Sonhos, projetos, mil e um compromissos imprimem um ritmo frenético em nossa vida. Ocupamo-nos de tantas coisas gerando confusão entre o que é prioridade, o que é essencial e o que é secundário. As palavras de Jesus são um alerta: “Marta, Marta! Tu te ocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será retirada” (Gênesis 18,1-10, Salmo 14, Colossenses 1,24-28 e Lucas 10,38-42). Que coisa é necessário? E que não será retirado? Qual meio deve ser usado para fazer o discernimento entre o essencial e o secundário?

Maria é elogiada porque “sentou-se aos pés do Senhor, e escutava a sua palavra”. “A escuta precede, alimenta e sustenta todas as escolhas religiosas e humanas. Maria se torna, agora, o modelo do verdadeiro discípulo que celebra a permanência e a necessidade da Palavra de Jesus no âmbito de todas as realidades contingentes. A escuta na fé e na adesão torna fecundos o tempo e o espaço e todo tipo de compromisso humano”. (Cardeal G. Ravasi). Maria sentada aos pés de Jesus é a imagem perfeita de quem deseja aprender, discernir e deixar-se orientar para tomar decisões. Tudo começa com a disposição de escutar.

O Sínodo sobre sinodalidade concluído em 2024 proporcionou para a Igreja e para todas as pessoas de boa vontade uma ampla reflexão sobre os temas do diálogo, escuta, conversa, num contexto de polarizações, polêmicas, fanatismos. Inclusive oferece um método denominado “Conversa no Espírito” inspirado em Santo Inácio de Loyola. O livro “Conversa no Espírito”, com prefácio do Papa Francisco, ajuda a compreender e aprofundar o tema.  

Nas relações mútuas estamos muito acostumados a debater, discutir, polarizar. É necessário mudar a metodologia usando mais o diálogo, a conversa e a escuta. Recordo algumas frases do livro citado: “Precisamos é uma maneira de ouvir e uma maneira de falar que nos ajude a acolher a ação do Espírito na Igreja e em nossas vidas. Uma atitude de acolhida e reverência brota no interior de cada um em direção aos outros. Duas habilidades ou práticas básicas compõem a conversa no Espírito: a escuta ativa e a fala intencional. Na escuta ativa, acolhe-se e se ouve cada um como é e no que diz. Trata-se se escutar empaticamente, sempre tentando compreender e acolher o que os outros dizem, o que querem dizer, ou que experimentaram interiormente, que, frequentemente, só se consegue expressar de maneira desajeitada. A escuta necessária … além de aberta, é vulnerável. Trata-se de elaborar o que ouvimos dos outros, o que nos moveu interiormente” (p.52).

A conversa deve ser intencional. “Falar intencionalmente requer ter-se escutado ativamente e, de alguma forma, ter discernido o que experimentou. Isso significa sair do amor próprio, querer e interesse, buscando compartilhar despojadamente o que se acredita ser um dom do Espírito para o tema que ocupa a conversa e o discernimento. Ainda que despojado e discernido, o que cada um compartilha é o que vê e sente. Por isso é intencional” (p.55)

O elogio que Jesus faz a Maria e a advertência a Marta ilumina todas as relações familiares e sociais. Como está o diálogo, a conversa e a escuta no ambiente familiar: do casal, dos pais com filhos e dos filhos com pais, entre parentes, no ambiente de trabalho? A escuta, o diálogo, a conversa são essenciais ou secundários para nós? Creio que seja a melhor parte que não será tirada, a qual Jesus estava se referindo. A metodologia da “conversa no Espírito” também é indicada para todos os cristãos em todas as situações. Ser cristão é viver todas as realidades conduzidos pelo Espírito de Deus. Ele nos conduz a escolher a “melhor parte”.

Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo

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