Ricota, muçarela, burrata, creme de leite e manteiga. Esses produtos, quando originados do leite de vaca, são bastante conhecidos pela população. Mas você sabia que eles podem ser produzidos a partir do leite de búfala?
O mercado, ainda em expansão no Rio Grande do Sul, está sendo intensamente divulgado durante a 47ª Expointer, que ocorre até o próximo domingo (1º/9), no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio. Criadores e representantes da Associação Gaúcha de Criadores de Búfalos (Ascribu) têm diferentes iniciativas para tornar os produtos mais populares, além de desejados.
Na última terça-feira (27), uma carcaça inteira foi assada para os visitantes da feira em frente à Casa do Búfalo, que fica junto à Ascribu, no Pavilhão de Gado de Corte e Ovinos. Já nesta quinta (26), no mesmo espaço, foi a vez de uma parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) realizar a primeira edição da Vitrine do Queijo de Búfala.
Apresentação das etapas da produção de queijo leite de búfala por professoras da UFRGS – Foto: João Pedro Rodrigues / Ascom Expointer
Duas professoras da UFRGS e um grupo de alunos apresentaram as diferentes etapas da produção de queijos. Tudo começa, é claro, com o leite da fêmea, que chama a atenção por ter um tom bem mais branco do que o de vaca, mais amarelado. A partir dele, há a coagulação e a produção de soro, que dá origem aos demais alimentos.
“O mercado do búfalo precisa ser prospectado, no sentido de haver um financiamento ou investimento para que as pessoas tenham o bubalino como alternativa em sua propriedade. Não achamos que deva haver concorrência com os bovinos, pois as características das vacas tornam a produção muito mais intensa, mas que deve haver uma conquista de uma faixa de mercado”, explica a professora e médica veterinária Amanda de Souza da Motta, responsável pelo Laboratório de Microbiologia e Saúde Única da UFRGS, organizadora do evento junto com a professora Márcia Monks Jantzen e com os estudantes.
“Hoje há pouca produção de leite de búfala no Estado, tanto que tudo o que temos é transformado; é difícil encontrar o leite para beber”, complementa.
A apresentação das etapas de produção foi acompanhada por um grupo de alunos de Medicina Veterinária do Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG). Um trio de amigas posicionado na primeira fila aprovou a iniciativa, que contou, ao final, com uma degustação para o público presente.
“Já fui em outras degustações de alimentos e essa foi a que melhor explicou as etapas. É interessante conhecer mais sobre o mercado e perceber que os produtos podiam ser mais disseminados”, disse Yara Mello Fernandes, 20 anos, que estava acompanhada pelas colegas Alana Zanchett, 21, e Bianca Carminatti Casagrande, 22.
Produtores e pessoas que trabalham com a venda dos produtos do búfalo para o consumidor final consideram os alimentos diferenciados, quase uma iguaria. Os derivados do leite, principalmente, são vendidos a um valor bem superior ao do leite da vaca, e são considerados diferenciados e até mais saudáveis.
O leite de búfala é fonte de vitaminas A, B2 e D, e possui teores de colesterol e de sódio mais baixos em relação ao bovino. É mais proteico – 4,06% contra 2,9%, a cada 100g – e possui maior concentração de sólidos totais — 15,5% contra 11,4%. Apesar de conter mais lactose e de não ser indicado para pessoas intolerantes, pode ser consumido por quem tem alergia à proteína do leite da vaca.
“É um produto que tem um valor agregado muito alto, com melhor aproveitamento e menos desconforto gástrico para quem consome. Precisamos de mais produtores para fazer esse mercado crescer. E estamos tentando divulgar também a venda de carne, que ainda encontra um maior desafio de mercado”, conta a presidente da Ascribu, Desireé Möller.
A criadora chama a atenção para o cuidado e para a preocupação com a saúde e a felicidade dos animais, que são estimulados a viverem da melhor forma até o último dia de vida, de acordo com os pilares do bem-estar animal. “Eles têm que viver livres de fome e de sede, livres de doenças, livres de estresse e livres para expressar seu comportamento natural, comendo, bebendo e dormindo na hora que quiserem. Animais estressados, doentes e com fome não engordam, não produzem”, detalha Desireé.
“Os búfalos têm uma fama ruim, mas são animais muito inteligentes, aprendem rápido e, se forem bem manejados, são dóceis e tranquilos. É um animal que dá muito menos custo de medicamentos, porque é muito resistente a doenças”, complementa a zootecnista Vitória Leite Di Domenico, 27, doutoranda da UFRGS e diretora jovem da Ascribu.
E os produtos estão cada vez mais ganhando espaço. A Agroindústria Embutidos Ferreira, de Passo do Sobrado, no Vale do Rio Pardo, participa há duas edições da Expointer vendendo salame de búfalo. O proprietário, William Jochims Rutsatz, 31, diz que, aos poucos, o produto está ficando mais conhecido, e que muitos dos compradores já vão ao local sabendo da oferta.