O quarto domingo da quaresma é designado como domingo laetare. A antífona de entrada da missa, inspirada nas palavras do profeta Isaías, faz o convite: “Alegra-te, Jerusalém! Reuni-vos, vós que a amais! Cheios de júbilo, exultai de alegria, vós que estais tristes, e sereis saciados nas fontes da vossa consolação”. Qual o motivo da alegria? Um motivo é a proximidade da Páscoa que já faz pregustar a alegria do encontro com Jesus Cristo ressuscitado. Mas o primeiro motivo é a mensagem oferecida pelas leituras bíblicas do domingo (2 Crônicas 36,14-16.19-23, Salmo 136, Efésios 2,4-19 e João 3,14-21). Elas recordam que, apesar da infidelidade humana, somos os destinatários da misericórdia infinita de Deus. Ele ama e busca os seres humanos de forma obstinada.
A luz do amor de Deus resplandece sobre o pecado e os males do mundo. Esta afirmação pode ser uma chave de leitura para os textos bíblicos do domingo. Os elementos essenciais dos textos sublinham que o dualismo bem-mal não é filosófico ou teórico, mas antropológico, isto é, está ligado às escolhas livres feitas pelos homens.
A conclusão do livro das Crônicas apresenta de forma resumida a história do povo de Deus e a interpreta sob o ângulo teológico. “Naqueles dias, todos os chefes dos sacerdotes e o povo multiplicaram suas infidelidades, imitando as práticas abomináveis das nações pagãs”. A escolha feita gerou desequilíbrio, injustiças e resultou na destruição da cidade, do templo e o exílio. A resposta de Deus às infidelidades não é de ira ou vingança, mas de esperança e perdão porque a última palavra de Deus não é a morte mas a vida. Os últimos versículos recordam que Ciro, rei Persa, se torna instrumento de Deus para que o povo possa retornar e reconstruir as cidades e o templo. A providência divina reacende a esperança.
O evangelho apresenta Nicodemos, membro do Sinédrio de Jerusalém, que vai procurar Jesus de noite, por medo. Atraído pelos ensinamentos do mestre Jesus, mas temeroso em se aproximar publicamente devido a opinião dos que eram contrários a Jesus. A conclusão do diálogo é revelador. É a fonte da alegria e da esperança cristã. “Pois Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas, tenha a vida eterna. De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que mundo seja salvo por ele”. Jesus também se apresenta como luz.
A presença de Cristo no mundo é sinal visível do amor de Deus Pai, mas também critério de discernimento entre o bem e o mal, o verdadeiro e o falso, entre a vida e a morte. A escolha diante de Jesus cabe ao homem fazer livremente: crer nele ou não, optar pela luz ou pelas trevas, pela verdade ou falsidade. Jesus não julga, mas são as escolhas humanas que julgam. Cristo antecipa a Nicodemos que será levantado na cruz como um condenado. É um sinal das escolhas humanas erradas que escolhem condenar inocentes. A resposta de Deus novamente não é de vingança ou ódio, mas transforma a cruz em salvação, “para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna”.
São Paulo escrevendo aos cristãos de Éfeso recorda o que Jesus falou a Nicodemos. “Deus é rico em misericórdia. Por causa do grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos por causa das nossas faltas, ele nos deu a vida com Cristo. É por graça que sois salvo”. A maravilhosa salvação, recorda Paulo, não é fruto das mãos humanas, mas é graça, é bondade de Deus.
Os textos bíblicos da liturgia dominical não escondem a realidade do pecado: infidelidade de Israel, mortos por causa dos nossos pecados, o mundo prefere as trevas à luz. Assumir a nossa condição humana de pecadores se torna a porta de entrada do caminho de salvação que Deus nos proporciona em Jesus Cristo. Esta é razão mais profunda da nossa alegria.