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Fazer-se próximo: o exemplo do samaritano Vai e faze a mesma coisa (Lc 10,37)

Pe. Ari Antonio dos Reis

O evangelho sugerido para o 15º Domingo do Tempo Comum (Lc 10,25-37) começa, na primeira parte, com uma pergunta vinda de um mestre da lei. Ele tinha a intenção de pôr Jesus em dificuldade. Questionava sobre as ações que garantiriam a vida eterna, o que poderia fazer. Devido a sua condição via-se que tinha pleno conhecimento da lei. Questionado por Jesus via-se que tinha o mandamento do amor a Deus e ao próximo decorado, na “ponta da língua”, como se costuma dizer. Continuando o diálogo Jesus pediu que fizesse o que tinha decorado, ou seja, colocasse em prática, a letra, a lei que sabia de cor. Entretanto, o homem não ficou satisfeito, talvez querendo continuar o debate em nível de ideias e o confronto com Jesus.

Jesus não fugiu do diálogo, mas deu a ele outra direção. Tirou-o da letra e o entregou ao mundo real.  Contou a história de um homem que ia de Jerusalém a Jericó e foi assaltado, ficando à  beira do caminho ferido e com a vida ameaçada. Aquele homem perdeu tudo e estava perdendo a vida.   Naquele caminho passou um sacerdote. Segundo o texto, ele viu o homem ferido e seguiu adiante pelo outro lado. O mesmo fez um levita. Seguiu adiante pelo outro lado. Aquela cena para eles não foi significante. Não valia a pena parar e adiar o compromisso que os esperava.

Um samaritano seguia pela mesma estrada. Viu o homem ferido. Suas atitudes foram diferentes.  O samaritano sentiu compaixão, que significa sofrer o sofrimento do outro pela atitude de colocar-se no seu lugar. Esta primeira reação delineou todas as outras. Adiou sua viagem, gastou dinheiro, perdeu tempo, envolveu-se.

A partir do “sentir compaixão” ele passou a cuidar do homem que estava com a vida ameaçada. No momento fez o possível. Lucas afirma que: fez curativos, derramando óleo e vinho nas feridas (Lc 10,34). Depois deu outro passo: colocou o homem em seu próprio animal e o levou a uma pensão, onde cuidou dele (Lc 10,34). O samaritano não se desvencilhou do problema, pelo contrário, se envolveu ainda mais, e isso se expressa no que segue: no dia seguinte, pegou duas moedas de prata e entregou-as ao dono da pensão, recomendando: toma conta dele! Quando eu voltar, vou pagar o que tiveres gasto a mais (Lc 10,35). Para ele o cuidado daquela pessoa era o mais importante e não hesitou além de adiar sua viagem, gastar dinheiro com o enfermo.

A compaixão, reação do samaritano desencadeou algo provocador que o mestre lei não conseguia perceber. O samaritano exercitou o cuidado com método e isso se evidenciou nos vários passos, desde o encontro até as recomendações ao dono da pensão. Ele não hesitou em envolver-se com a pessoa ferida porque naquele momento era a necessidade primeira, ou seja, existem urgências que exigem atitude e serenidade para que o mal não seja maior.

O compromisso com o cuidado do homem ferido o fez relativizar o tempo, fato que o sacerdote e o levita não o fizeram, pois continuaram seu caminho. Em uma sociedade onde temos pouco tempo até mesmo para o nosso cuidado pessoal, encontrar tempo para cuidar do outro é atitude profética. Por fim o samaritano, pelo que fez, assumiu uma contraposição ao mestre da lei. O mestre da lei queria um “palavreado”, um debate com Jesus, talvez, sem que pudesse levar a lugar algum. O samaritano, com muitos gestos e poucas palavras explicitou o sentido do amor ao próximo. Fez-se próximo.

Ao final da parábola Jesus não deixa de confrontar o mestre da lei. Primeiro pergunta quem foi o próximo do homem assaltado. Diante da resposta do mestre da lei o manda fazer a mesma coisa (Lc 10, 36-37). Ele precisava de atitudes mais do que elucubrações. Só assim compreenderia o sentido do amor.

A pergunta do mestre da lei “quem é meu próximo” pode ser substituída por uma iniciativa, “fazer-se próximo”. E a oportunidade de fazer-se próximo está nos caminhos da vida nos quais Deus nos colocou. Ele nos colocou nesses caminhos e também colocou aqueles de quem devemos nos aproximar, não segundo a nossa lógica, mas segundo a sua lógica.

Pe. Ari Antonio dos Reis

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