Estamos chegando ao final do Ano
Litúrgico e neste período está muito presente o tema da vigilância (Sabedoria
6,12-16, Salmo 62, 1 Tessalonicenses 4,13-18 e Mateus 25,1-3). O Evangelho
deste domingo está inserido, segundo os estudiosos bíblicos, nos “discursos
escatológicos” de Mateus. São uma série de ensinamentos de Jesus referentes às
realidades últimas. As palavras de Jesus, articuladas em parábolas, exortações,
ameaças, despertam diversos sentimentos nas pessoas para alcançarem o objetivo
de viverem uma maior sintonia com a vontade divina.
“O Reino dos Céus é como a história
das dez jovens que pegaram suas lâmpadas de óleo e saíram ao encontro do
noivo”, é a parábola através da qual Jesus alerta para a sentença final: “ficai
vigiando, pois não sabeis qual será o dia, nem a hora”. A comparação o “Reino
de Deus é semelhante” é usado em muitas parábolas para fazer penetrar no
mistério do Reino de Deus. Jesus utiliza as muitas ocasiões que a vida
cotidiana lhe oferece, mas não permanece nelas. Como mestre sábio leva os
interlocutores para horizontes mais amplos e comunica as verdades que os
ouvintes não conhecem e nem perceberiam sozinhos. A palavra de Jesus serve para
abrir horizontes novos, a aprofundar a realidade jamais suficientemente
explorada.
As celebrações de núpcias, como eram
celebradas naquele tempo, servem de moldura para falar do Reino de Deus. Os
personagens principais nas núpcias são os nubentes. As núpcias acontecem
envolvendo outros personagens e rituais. Assim, o centro da parábola é o
próprio Cristo e as dez jovens, que fazem o papel de damas de honra, são todos
os seus discípulos, pois a eles Jesus dirigiu a parábola. Todos os personagens
da parábola são protagonistas e se movimentam para se encontrarem. A hora do encontro
não é exata, mas o encontro é certo. A incerteza desafia à vigilância. Vigiar é
olhar para além, superar a angústia do hoje e navegar no espaço do futuro.
Vigiar é a tensão para encontrar alguém de modo decisivo e definitivo. Vigiar
sempre é encontrar alguém e não coisas. Toda parábola gira em torno do encontro
definitivo das jovens com Cristo para participarem da festa nupcial.
As jovens que esperam o noivo são
iguais e tinham a mesma tarefa a cumprir. “O noivo estava demorando, e todas
elas acabaram cochilando e dormindo”. Mas quando chega o noivo aparece a
diferença entre elas, umas eram “previdentes” e outras “imprevidentes”. Parte
delas havia trazido óleo para abastecerem as lâmpadas e outras não. Não havia
condições para repartir o óleo, pois não seria suficiente para todas, e nem
tempo para comprar. Ser previdente e vigilante faz pensar no amanhã, fugindo da
armadilha de se acomodar no hoje que impede de olhar o amanhã. Sábio é quem não
se deixa prender no contrapé dos eventos, porque sempre está iluminado pela
meta que o guia e o apoia. Para alcançar esta meta pensa nas eventualidades que
podem bloquear o seu caminho e reage adotando medidas adequadas. Não se trata
de pensar apenas algumas estratégias. As jovens estão fornecidas de pequenos vasos.
Bastam pequenas reservas, porém é preciso providenciá-las.
O mês de novembro inicia com a
solenidade de Todos os Santos e de Finados. Falar, rezar, aprofundar a
compreensão e a fé de tudo que envolve o tema da morte e da vida eterna deve
estar presente na rotina da vida humana e cristã. A primeira carta aos
Tessalonicenses oportunamente coloca o tema em pauta. “Irmãos: não queremos
deixar-vos na incerteza a respeito dos mortos, para que não fiqueis tristes
como os outros, que não têm esperança. Se Jesus morreu e ressuscitou – e esta é
a nossa fé – de modo semelhante Deus trará de volta, com Cristo, os que através
dele entraram no sono da morte”. O ensinamento vai ao encontro da parábola do
Evangelho para vivermos vigilantes e sermos reconhecidos por Cristo e participarmos
da festa da vida eterna.
Dom Rodolfo
Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo