A Semana Santa inicia com este convite aos fiéis. “Durante as cinco semanas da Quaresma preparamos o nosso coração pela penitência e obras de caridade. Hoje aqui nos reunimos e iniciamos, com toda a Igreja, a celebração do mistério pascal de nosso Senhor, sua morte e ressurreição. Para consumá-lo, Cristo entrou em Jerusalém, sua cidade. Por isso, celebrando com fé e piedade a memória desta entrada, sigamos os passos de nosso Salvador, para que, associados pela graça à sua cruz, participemos também de sua ressurreição e de sua vida”. O convite recorda a centralidade dos fatos que acontecerão com Jesus Cristo. Também pede que os fiéis sigam os seus passos, se associem à cruz e participem da sua ressurreição e vida. A fecundidade da Semana Santa requer o envolvimento dos fiéis, não como expectadores, mas como discípulos que caminham com o Jesus, seja na cruz, seja na gloriosa ressurreição.
A liturgia deste domingo, denominado de Domingo de Ramos da Paixão do Senhor, celebra a acolhida solene de Jesus em Jerusalém e também recorda o caminho doloroso da condenação e morte de cruz. Porém, o evangelista Marcos registra: “Quando o oficial do exército, que estava bem em frente dele, viu como Jesus havia expirado, disse: “Na verdade, este homem era o Filho de Deus”.
Os quatro evangelistas tem uma maneira própria de apresentar a teologia da cruz. Neste ano, é São Marcos que nos faz olhar para a cruz de Jesus. Seu modo de relatar os fatos é próximo aos acontecimentos e muito realista nos contrastes. Não tem medo de ferir a sensibilidade dos leitores com o escândalo da cruz. São Marcos vai revelando ao poucos a identidade de Jesus. No processo de condenação se evidencia um paradoxo entre identidade de Jesus como Messias, Filho de Deus, rei dos judeus e a sua situação de um homem condenado à morte. Como alguém impotente pode salvar o homem? A inquietação aumenta quando Jesus é provocado “desce agora da cruz, para que vejamos e acreditemos!”.
Dostoievski, grande romancista russo, comentando a provocação feita a Jesus, reflete: “Tu não desceste da cruz quando te gritavam, rindo e zombando: “desce da cruz e acreditemos quem tu és”. Tu não desceste porque, mais uma vez, não querias submeter o homem com milagres e tinhas sede de uma fé livre, não fundada sobre prodígios. Tinhas sede de um amor livre, e não de entusiasmos servis do escravo diante do poder que para sempre o encheu de terror”.
O enigma permanece sobre a cruz e fica ainda maior diante do grito: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?” Parece que os acusadores tinham razão. Jesus está abandonado, sozinho e parece que nem Deus responde. Morre e tudo parece terminado. Inesperadamente acontece uma profissão de fé: “Na verdade, este homem era Filho de Deus”. O oficial encontra uma resposta para iluminar mistério. Reconhece que Jesus é o Messias.
Os fatos que serão celebrados na Semana Santa revelam o caminho misterioso usado por Deus. Nossa racionalidade tem dificuldade de compreender este modo usado para salvar a humanidade. Diante de tudo isto, São Paulo, escrevendo aos Filipenses orienta os fiéis: “Assim, ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, e toda língua proclame; “Jesus Cristo é o Senhor”, para a glória de Deus Pai”.
Diante da cruz de Cristo somos desafiados a dar a nossa resposta: por um lado há a traição de Judas, o ódio dos acusadores, as falsas testemunhas para o condenar a morte e a dispersão dos discípulos. Por outro lado, temos a solidariedade de Cireneu, as mulheres que o acompanham no caminho do calvário, a presença de Maria e João aos pés da cruz, o testemunho de fé do oficial. O fruto das celebrações da Semana Santa deverá ser uma solene profissão de fé em Jesus Cristo Salvador. Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor!