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“Jesus subiu a montanha para rezar”

Dom Rodolfo Luís Weber - Arcebispo de Passo Fundo

A liturgia do segundo domingo da quaresma relata a transfiguração do Senhor. (Gênesis 15,5-12.17-18, salmo 26, Filipenses 3,17-4.1 e Lucas 9,28-36). “Jesus levou consigo Pedro, João e Tiago, e subiu à montanha para rezar. Enquanto rezava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou branca e brilhante”. Rezar fazia parte da rotina de Jesus, especialmente no alvorecer do dia e depois do pôr-do-sol, e por vezes rezava durante toda noite. No dia da transfiguração leva consigo Pedro, Tiago e João que testemunham aquele mistério luminoso da revelação de Jesus. Os sentimentos deles vão da admiração ao medo. 

O evangelista ressalta que Jesus se transfigurou “enquanto rezava”. Revela uma experiência profunda de relação com Deus Pai. Um pouco antes ele tinha anunciado aos apóstolos que seria morto e depois iria ressuscitar. Antecipa para eles a glória que viria, mas passando pela cruz. No diálogo íntimo com o Pai, Jesus não sai da história e nem evita cumprir a missão que veio realizar, porém, une-se a vontade do Pai para cumprir a missão recebida. 

A atitude de Jesus deixa um ensinamento muito importante: a primazia da oração. Ela não é um acessório, uma opção, mas questão de vida e de morte. Jesus rezava e quem quiser ser discípulo dele, necessita rezar. O tempo da quaresma exorta para reservar um tempo justo para a oração pessoal e comunitária. A oração não afasta o orante das realidades do mundo e das responsabilidades, mas leva a assumi-las, confiando no amor fiel e inesgotável do Senhor. 

Vivemos a quaresma com a Campanha da Fraternidade que tem por tema: Fraternidade e Ecologia integral e por lema: “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). Podemos abordar o tema da Campanha da Fraternidade de variadas formas, entre elas, em forma de oração de contemplação, de louvor e de súplica.

No sétimo dia da criação, “Deus concluiu toda obra que fizera … repousou … abençoou o sétimo dia e o santificou” (Gn 2,2-3). A obra da criação fica completa com o repouso, a bênção e a santificação. Estas palavras da Escritura nos convidam a rezar a criação na forma de contemplação. Contemplar é fixar o olhar em Deus, renunciar ao “eu” e purificar o coração de outros interesses. É fazer o que um camponês fazia em Ars, na França, quando entrava na igreja para rezar: “Eu olho para ele e ele olha para mim”. Podemos parafrasear esta afirmação dizendo: “Eu olho para todas as criaturas e elas olham para mim”, “nelas vejo Deus olhando para mim e eu para ele”. É uma forma de oração para curar o desejo de usufruir de forma interesseira e utilitária a criação. 

Rezar em forma de louvor através do hino musicado da Campanha da Fraternidade, eleva o espírito ao Pai. Canta o hino: 1. O Cristo-Deus se fez humano nesta terra, e às criaturas deu valor e atenção. A vida plena, que no mundo já se espera, ganha sentido com a nossa redenção. Refrão: Ao entregar o Paraíso ao ser humano, Deus contemplou sua beleza e seus dons. Louvado seja nosso Pai, o Criador: “Deus viu que tudo, tudo era muito bom!” 2. No universo tudo está interligado; nele vivemos e, com todos, somos um. Nesta quaresma, à conversão, somos chamados: cuidemos todos desta Casa, que é comum. 

A oração da Campanha da Fraternidade suplica: “Ó Deus, nosso Pai, ao contemplar o trabalho de tuas mãos, vistes que tudo era muito bom! O nosso pecado, porém, feriu a beleza de tua obra, e hoje experimentamos suas consequências. / Por Jesus, teu Filho e nosso Irmão humildemente te pedimos: dá-nos, nesta Quaresma, a graça do sincero arrependimento e da conversão de nossas atitudes. / Que o teu Espírito Santo reacenda em nós a consciência da missão que de ti recebemos, cultivar e guardar a criação no cuidado e no respeito à vida. / Faz de nós, ó Deus, promotores da solidariedade e da justiça. Enquanto peregrinos, habitamos e construímos nossa Casa Comum, na esperança de um dia sermos acolhidos na Casa que preparaste para nós no Céu. Amém. 

Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo 

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