Neste quarto domingo do mês de agosto, mês vocacional, rezemos pela riqueza da presença dos diferentes ministérios leigos atuantes na missão da Igreja e contribuindo para que esta seja testemunho evangélico no mundo. Assumem a missão a partir de uma amizade profunda com Deus, à qual foram chamados e que, por sua vez, os impele a agir na Igreja e no mundo.
O Documento da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que trata da missão dos leigos, tem como título: “Cristãos leigos e leigas na Igreja e na sociedade, sal da terra e luz do mundo” (cf. Mt 5,13-14), publicado em 2015, e relata os princípios deste compromisso assumido pelos leigos e leigas brasileiros, herdado a partir do Sacramento do Batismo, pelo qual são incorporados a Cristo.
Estes dois espaços de ação dos leigos e leigas são fundamentais para que vivam o discipulado de Jesus Cristo em tempos atuais. Tais espaços não são separados ou isolados entre si, mas estão em plena complementaridade.
A separação acarretaria uma compreensão de fé equivocada e deficitária, segundo os princípios do Concílio Vaticano II, que afirma que a Igreja de Cristo está no mundo e age no mundo, testemunhando o seu Evangelho através de seus discípulos. Afirma isso na Constituição Pastoral Gaudium et Spes: “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração. Porque a sua comunidade é formada por homens que, reunidos em Cristo, são guiados pelo Espírito Santo na sua peregrinação em demanda do reino do Pai, e receberam a mensagem da salvação para a comunicar a todos. Por este motivo, a Igreja sente-se real e intimamente ligada ao gênero humano e à sua história” (GS 1).
O mundo, com suas alegrias, dificuldades e desafios, é o lugar dos leigos e leigas, discípulos de Cristo, proclamarem e testemunharem a sua fé. É o lugar do anúncio do Evangelho. O Documento de Aparecida (2007) assegura esta conexão construída pela fé batismal ao afirmar que os leigos são homens e mulheres da Igreja agindo no coração do mundo, e homens e mulheres do mundo agindo no coração da Igreja (cf. DAp 209). Ou seja, sua ação se dá no seio da Igreja e no coração do mundo.
Na perspectiva dos processos internos da Igreja, no agir ordinário em vista da evangelização, vê-se a importância da presença dos ministérios leigos, fortalecendo e enriquecendo sua missão. A Igreja, sem a presença dos ministérios leigos, é pobre e frágil. Por isso, é motivada a promover cada vez mais os ministérios leigos em vista de seu enriquecimento e fortalecimento. Neste sentido, é conclamada a acolher e formar pessoas para o bom exercício desses ministérios.
As diferentes reflexões do processo sinodal iniciado em 2021, e ainda em vigor, têm assinalado a necessidade de acolher e dar oportunidade para a participação dos leigos nos diferentes setores eclesiais, provocando a escuta, a participação e a amplitude dos processos decisórios.
A condição de batizados dada aos leigos e leigas, incorporados a Cristo, permite também este estatuto e responsabilidade. O Documento final da XVI Assembleia Sinodal lembra este compromisso: “Na comunidade cristã, todos os batizados são enriquecidos com os dons de partilhar, cada um segundo a vocação e a condição de vida. As diversas vocações eclesiais são, de fato, expressões múltiplas e articuladas do único chamado batismal à santidade e à missão” (n. 57). Tal condição sugere aproveitar estas riquezas de dons presentes nas comunidades, a fim de que contribuam no fortalecimento do trabalho eclesial. Isso implica assumir o princípio sinodal da participação e da comunhão.
Os leigos e leigas têm também compromisso evangelizador com a sociedade. Assumir a atitude de ser sal e luz implica agir no mundo segundo a proposta de Jesus. Aliás, o compromisso dos leigos é primordialmente no mundo, onde apresentam a proposta de Jesus, o seu Evangelho. É a índole secular da ministerialidade leiga, agindo verdadeiramente como luz para o mundo. Como afirma o Documento final da XVI Assembleia Sinodal: “ primeira tarefa dos leigos e leigas é permear e transformar as realidades temporais com o espírito do Evangelho” (n. 66), para que fiquem impregnadas do sentido cristão. É o ato de assumir o princípio sinodal da missão.
A celebração da vocação e dos ministérios leigos é também um convite à memória. Implica reconhecer a contribuição que homens e mulheres deram à Igreja, assumindo a missão em diferentes lugares do mundo, muitas vezes em condições adversas.
É um convite à responsabilidade de promover e ampliar processos de participação, para que os leigos verdadeiramente se sintam protagonistas nos processos de evangelização.
É um convite a acolher a inspiração que vem do Espírito Santo. Ele sopra onde quer. Acolhamos seus recados em relação à presença dos leigos e leigas em nossa Igreja.
Sempre lembremos de agradecer este testemunho valioso. São sal e luz!
Pe. Ari Antonio dos Reis