Tesouros misteriosos aguçam a curiosidade e a imaginação. Tema que inspira livros, filmes, jogos, como também empreendimentos econômicos. Por passatempo e divertimento se organiza a “caça ao tesouro” através de uma série de enigmas e provas a serem superadas para apossar-se do desejado tesouro. O que é um tesouro? Qual é o volume? Qual a quantidade de dinheiro que vale? O tesouro em geral são coisas materiais. É o que está no senso comum. Mas será que só coisas materiais podem ser verdadeiramente tesouros?
A Palavra de Deus deste domingo (1 Reis 3,5.7-12, Salmo 118, Romanos 8, 28-30 e Mateus 13,44-52) fala de tesouros. São parábolas que partem do cotidiano da vida pera conduzir o ouvinte a algo maior que é o Reino de Deus. Fala de tesouros não materiais, mas imateriais e espirituais. Apresenta o misterioso tesouro de Deus e seu o projeto de vida e amor para as pessoas e a humanidade. Jesus revela aos ouvintes a existência deste tesouro, como também desperta neles o desejo de procurá-lo.
O tesouro existe, é real. Alcançá-lo é resultado de busca, de opções a serem feitas que resultam em grande alegria. As parábolas descrevem os passos de quem quer se apossar dele. Precisa “vender”, “comprar”. Antes disso vem a decisão de fazer tudo para chegar ao tesouro. Quando se decide pelo mais importante, as outras coisas se tornam secundárias. Renunciar a elas não se torna um peso, pelo contrário um alívio para focar-se no essencial. O investimento no que se quer é uma ação do tempo presente. Não de perde nada, mas se ganha tudo. A parábola aponta para o próprio Jesus, o maior tesouro que a humanidade já recebeu. Seguir a Cristo, estar com Ele exige uma opção consciente e livre que requer tempo e investimento.
A leitura do primeiro livro dos Reis descobre o tesouro da sabedoria, um bem imaterial e incalculável. Salomão, recém escolhido como rei, é jovem e inexperiente para substituir o pai Davi no governo do povo. Em um ambiente religioso e litúrgico Deus lhe dá a oportunidade de “pedir o que desejar, e eu te darei”. Salomão pede: “Um coração compreensivo, capaz de governar o teu povo e de discernir entre o bem e o mal”. Pediu “sabedoria para praticar a justiça”. Não pediu “vida longa, nem riquezas, nem a morte dos inimigos”.
Salomão pediu “um coração sábio”. O “coração” na bíblia não indica apenas uma parte do corpo, mas sim o âmago da pessoa, a sede das intenções e dos juízos. Podemos dizer, é a consciência da pessoa. Ter “coração sábio” quer dizer ter consciência que sabe ouvir, que é sensível à voz da verdade, e por isso é também capaz de discernir o bem do mal. Salomão pede sabedoria para governar bem.
Na possibilidade de “pedir o que quiser”, Salomão surpreende. Não é o mais comum pedir sabedoria, normalmente é dinheiro, saúde. O seu pedido permitiu que fizesse um governo “justo” e os outros bens viessem por acréscimo. “Ter um coração sábio” é ter um grande tesouro. A sabedoria não se refere somente à dimensão moral de ter uma consciência reta e realizar o bem e evitar mal. A sabedoria abraça quase todos os setores da formação humana em uma espécie de humanismo integral. Temas sociais como justiça, prudência, relação com o próximo, problemas políticos e diplomáticos, filosóficos e teológicos requerem sabedoria. Numa escala de valores a sabedoria saberá ordenar os valores fundamentais e indispensáveis dos que são secundários, com isso as decisões serão baseadas em valores e não em falsos valores que são palha e pó.
Fonte: Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo