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Onde comprar pão?

O tema do pão domina as leituras deste domingo e dos próximos, tendo por referência o capítulo 6 do Evangelho de São João. “Com o mistério que ele contém, porque o pão representa a necessidade do homem e a sua sede de poder, a sua necessidade primária e a sua tentação.

Pelo pão o homem geme e se cansa; luta com a terra e com os seus semelhantes; vende a sua reputação e a sua liberdade. Existe o pão da discórdia e da ignomínia, porque a luta pelo pão – e pelo que este representa – divide os homens em amigos e inimigos, desfrutadores e desfrutados, mas existe também o pão dividido: o pão da fraternidade e da amizade, da fidelidade e da satisfação. O pão negado é ausência de vida e frustração profunda,
privação de amor e de louvor; o pão partilhado é vitória sobre o desespero e canto à vida” (Massimo Grilli).

O evangelista João relata que uma grande multidão estava seguindo Jesus porque via os sinais que ele operava. Subiu ao monte e sentou-se como Mestre. Cada diálogo, cada palavra e cada atitude é um ensinamento fecundo para os discípulos e para toda a humanidade sobre o tema do pão para suprir as necessidades básicas dos seres humanos.

A primeira atitude é envolver os discípulos. Quer que percebam a necessidade da multidão e o ajudam a encontrar uma solução. Pergunta a Filipe: “Onde vamos comprar pão para que eles possam comer?” A resposta de Filipe é baseada no bom senso e no cálculo. “Nem duzentas moedas de prata bastariam para dar um pedaço de pão a cada um”.

Uma moeda de prata era a diária de um trabalhador. Mesmo assim não resolveria o problema, pois
daria apenas um pedaço de pão. O discípulo André também foi procurar uma solução. “Está aqui um menino com cinco pães de cevada e dois peixes. Mas o que é isso para tanta gente?”

A pergunta de Jesus “onde podemos comprar” indica a um mistério que não se fecha em cálculos e na visibilidade. É preciso ir mais além e entrar no mistério de Deus.

A palavra seguinte de Jesus é: “Fazei sentar as pessoas”. Isto faz pensar em organização e planejamento para atender dignamente os necessitados. A solução do problema da fome passa pela administração. Oferecer alimentos a uma multidão desordenada e faminta pode causar sérios problemas, como tantas vezes já se presenciou na história.

A seguir, “Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu-os aos que estavam sentados … e o mesmo fez com os peixes”. Ao dar graças pelos pães e peixes recorda que a produção dos alimentos não é somente fruto do trabalho humano.

Por ocasião da apresentação do pão e vinho na missa o sacerdote reza: “Bendito sejais, Senhor, Deus do universo, pelo pão que recebemos de vossa bondade, fruto da terra e do trabalho humano, que agora vos apresentamos e para nós se vai tornar o pão da vida”. A oração de ação de graças lembra a toda humanidade que para produzir o pão é preciso considerar o universo, isto é, a terra, a chuva, o sol que não foram criados pelas mãos humanas. Todo alimento deve despertar um sentimento de gratidão.

Depois de saciados os discípulos recebem a ordem: “Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca!” Alimento que sobra nas mesas não pode ser considerado como algo descartável. Mais do que nunca temos consciência que os recursos naturais são limitados e devem ser usados com parcimônia.

As pessoas se entusiasmam diante dos fatos que estavam presenciando. “Mas, quando notou que estavam querendo levá-lo pra proclamá-lo rei, Jesus retirou-se, sozinho, para o monte”. Podemos compreender nesta atitude que a solução do problema da fome não tem solução milagrosa. Não se pode esperar simplesmente que o “rei” distribua pão criando dependência e assim controlar os que são beneficiados. A solução envolve a todos.

Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo

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