O mês da Bíblia, proposição da Igreja do Brasil, é oportunidade para aprofundarmos a importância da Sagrada Escritura na missão evangelizadora da Igreja, certamente fundamental porque inspira todo o processo pastoral dando fundamentação e sustentação. Fundamentação como ponto de partida da missão e sustentação porque permite a sua manutenção durante o seu decorrer. A iluminação da missão eclesial não exclui a necessária iluminação da vida pessoal do cristão. Neste caso é significativo refletir um trecho da Carta que o Apóstolo Paulo escreveu a Timóteo, seu discípulo e companheiro de missão.
A carta é uma espécie de testamento espiritual do apóstolo diante da sua provável condenação (Bíblia Pastoral). Fundado na estima que tem pelo discípulo sugere algumas orientações para que fizesse um bom exercício do ministério. No trecho sugerido (cf. 2Tm 3,14-17) Paulo reitera ao jovem Timóteo a importância das Sagradas Escrituras na condução da sua vida de fé.
Primeiramente Paulo lembra a Timóteo a necessidade de permanecer firme no que aprendeu e aceitou como certo, fruto de uma tradição familiar da qual é herdeiro, pois conhece as Sagradas Escrituras deste a infância (2Tm 3, 15). No caso do jovem Timóteo destaca-se o papel da sua mãe Loide e da sua avó Eunice que foram importantes na iniciação na fé do discípulo de Paulo (2Tm 1,5). Paulo assegura ao jovem Timóteo que este conhecimento pode levá-lo à sabedoria que leva à salvação pela fé em Jesus Cristo. É um saber especial, o saber da fé que direciona a pessoa no caminho da salvação, porque é inspirado por Deus mesmo. Ele aponta o caminho para a pessoa chegar a Ele e este tem Jesus como grande referência. Tal caminho se embasa em alguns critérios que seguem segundo o texto:
O primeiro deles é o ensino – “a escritura é útil para ensinar”. O ensino é sustentado na vontade de Deus e indica um caminho a ser seguido segundo o critério e a vontade do Criador. Lembremos que boa parte da missão de Jesus era dedicada ao ensino. O Filho de Deus, pelo ensino, a ajudava seus seguidores no discernimento diante dos fatos da vida e apontava caminhos para seus interlocutores. A Palavra Deus aponta caminhos para os cristãos.
A Palavra de Deus é útil também para refutar – “a escritura é útil para refutar”. Que também significa repelir ou não aceitar algo considerado prejudicial. Ela dá critérios para fazer as boas escolhas em nome dos princípios assumidos ao longo da história da Salvação, nela mesmo contidos, e significativos para o Povo de Deus. Em carta a comunidade dos Tessalonicenses Paulo escrevia a esta comunidade o mesmo princípio com outras palavras: “examinem tudo e fique com o que é bom” (1Tes 5,21), ou sejam façam a boa escolha.
Ela também corrige – “a escritura é útil para corrigir”. O termo vem do latim corrigo-ere, que significa endireitar, pôr direito, melhorar, reformar ou curar. Na caminhada de fé é necessário, frente ao horizonte da salvação, corrigir algumas situações quando que afastam a pessoa do plano salvador de Deus. Novamente a Palavra faz-se o fundamento desse processo como afirma Paulo a Timóteo. Chama-se a atenção para que junto à vontade da correção, a partir da Palavra, cuide-se do jeito, do método. O apóstolo Paulo lembrava à comunidade dos Efésios: “que nenhuma palavra prejudicial saia de vossa boca, sim a palavra que edifica no momento oportuno para fazer o bem aquele que a ouvem” (cf. Ef 4,29). A correção deve edificar, jamais destruir.
A Sagrada Escritura também educa na justiça – “a escritura é útil para educar na justiça”. Vê-se aqui duas expressões consistentes: educação e justiça. Educar significa guiar, orientar, ou também preparar para algo. Paulo lembra a importância fundamental da Sagrada Escritura como guia e orientação do cristão, no caso Timóteo, para algo necessário ao seguidor de Jesus, a justiça. No caso a justiça que emerge do Evangelho. Não se concebe qualquer compreensão de justiça. É justiça divina, que supera e vai além da justiça humana. A educação justiça compreende acolher o sentido da justiça que se funda no amor de Deus que Jesus anunciou.
Os processos descritos por Paulo têm uma finalidade. Ajudar o homem de Deus atingir a perfeição que implica em fidelidade maior ao projeto. Foge à referência à perfeição egoísta e narcisista e aproxima-se da perfeição ligada à fidelidade que Deus mesmo inspira e Jesus pediu aos discípulos: “sede perfeitos como o vosso Pai Celeste é perfeito” (Mt 5,48). Esta condição prepara o discípulo para a missão, a boa obra que o próprio apóstolo levou à frente e da qual não se arrependeu.
O apóstolo Paulo, baseado no carinho que tem para com Timóteo, escreve da prisão uma carta carinhosa. Entre outras recomendações apresenta a leitura das Sagradas Escrituras. Para ele é o caminho seguro pelo qual será possível conduzir sua vida de fé e apostolado.
É também o caminho do cristão nos tempos atuais porque é a Palavra de Deus guiando seus filhos e filhas.
Pe. Ari Antonio dos Reis