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Por que a Psicologia é tão importante na atualidade?

Repercutimos, nesta coluna semanal, ensaio do estudante de psicologia Luís Gustavo Dalchiavon Pies, sobre a importância da psicologia na atualidade. O ensaio faz referência ao filme “Divertida Mente 2”, sucesso nas salas de cinema em todo o Brasil.

Este ensaio foi publicado no site www.neipies.com no dia 20/07/2024.

 

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Vivemos em um mundo que gira num ritmo muito acelerado. Cada vez mais temos prazos, obrigações e metas a serem cumpridas, de maneira cada vez mais rápida. E, ainda assim, quando terminamos de fazer as coisas importantes que precisamos fazer, somente o cansaço prevalece. Parece que perdemos a capacidade de somente aproveitar o tempo, e de ter um dia de descanso e paz na rotina normal, e não somente nos fins de semana (o famoso “sextou”) e nas férias (ou as de inverno, ou as no final de ano).

O filme “Divertida Mente 2”, assim como seu antecessor, aborda questões da mente humana de maneira brilhante, introduzindo diversas emoções, com a emoção nova mais destacada: Ansiedade. A produção da Disney retrata como essa emoção (que, ao longo de nossa evolução como espécie foi muito importante e, mesmo atualmente, existem situações em que ela é necessária) afeta a saúde mental de um ser humano, e como não saber lidar com ela e com as pressões do mundo externo podem afetar a pessoa como um todo, e causar consequências graves para a sua qualidade de vida.

Como destacado em Divertida Mente (em que a personagem Riley tem 14 anos, sendo alguns anos mais velha do que no primeiro filme da saga), quando crescemos, existem cada vez mais pressões, obrigações e exigências do mundo e da sociedade sobre as nossas vidas.

Na adultez, valores como produtividade, lucro, competitividade, individualismo e meritocracia são cada vez mais destacados no nosso modo de viver capitalista. Ao longo dos dias, semanas e meses, a sensação é de que até quando parados, continuamos em movimento, pois não podemos nos dar o direito de descansar e aproveitar um momento de paz verdadeiramente sem nos sentirmos culpados por tal.

Frases como “Trabalhe enquanto eles dormem” ou “Se eu consegui, você também consegue”, dominam as propagandas audiovisuais, como se fossem um incentivo para que os “guerreiros” se engajem numa batalha para derrubar seus adversários a qualquer custo e lutem pelo o que sempre deveria ter sido seu. Esses conceitos estão intrinsecamente relacionados com a meritocracia. Nesse modelo de vida, de acordo com os lemas já citados, somente os mais trabalhadores e preparados teriam para si alguns prêmios como a felicidade, a ascensão financeira e a realização pessoal.

Isso também é muito retratado nas mídias sociais, onde os “Coaches” aparecem cada vez mais com propagandas, propostas de receitas do sucesso ou propondo mudanças de hábito cada vez mais desumanas (geralmente baseadas em teses sem embasamento científico) para que alguém faça uma transformação radical em sua vida e que, somente com essa transformação, a pessoa poderia se considerar realizada e feliz.

Essas situações e a busca incessante por sucesso a todo custo podem levar ao desenvolvimento de transtornos como o de Burnout.

 

A transformação de um indivíduo único em um sujeito neoliberal, que produz todos os dias sem ter tempo para observar suas próprias emoções e subjetividade, acaba por modificar o modo como o indivíduo se enxerga, como ele vê o mundo ao seu redor, alterando continuamente suas relações interpessoais. Essas modificações se expressam diariamente nas nossas rotinas, levando a quadros de sofrimento, infelicidade, sentimentos de inferioridade, além de um distanciamento entre as pessoas, com cada vez menos conexões e laços verdadeiros e vitais entre as pessoas.

Aqueles que não conseguem atingir patamar de perfeição absoluta, por diversas razões, se sentem inferiores, menos capazes, sentindo que deveriam se esforçar mais, se empenhar mais, mesmo que isso não seja verdade, até por que a situação pessoal de cada pessoa não ser igual à da outra.

Além do Burnout, já citado neste ensaio, não são raros os diagnósticos de transtornos de depressão e ansiedade em pessoas que passam por esse tipo de situação, uma vez que as pressões pessoais e sociais que recaem sobre a pessoa muitas vezes se tornam um fardo grande demais para se carregar por conta própria. E, com o apagamento das individualidades e o isolamento das pessoas decorrente desse sistema que enxerga os outros como rivais e não como fontes de apoio, as consequências desse fardo podem se tornar devastadoras para a saúde mental de alguém em sofrimento.

Mais do que nunca, a importância de uma área de conhecimento que enxergue o ser humano como um ser humano, disponibilizando ferramentas para ajudá-lo a superar seus traumas e dificuldades: a Psicologia.

 

Não somos apenas uma máquina de produtividade, ou apenas mais um que tenta sem intervalo bater metas praticamente impossíveis. Somos gente com emoções, com história de vida individual, que tem o direito de ser ouvido, respeitado, amado e, principalmente, de não ser visto somente como número ou estatística em algum banco de dados de produtividade e, sim, como um ser humano digno de descanso e de não ser perfeito em todos os momentos. Afinal, está tudo bem em não estar bem o tempo inteiro.

A Psicologia existe para estar do lado do ser humano, com um caráter de cuidado humanista. Ela existe como fonte de apoio, de escuta, uma área que luta pela humanização das pessoas, pela manutenção de seus direitos, trabalhando em prol da saúde mental e psicológica de todos.

Atualmente, a Psicologia assume também um papel de resistência pelo direito das pessoas serem quem elas são e pelo nosso direito de nos expressarmos, comunicarmos e nos conectarmos uns com os outros de maneira verdadeira. Não precisamos estar produzindo algo o tempo todo como máquinas infalíveis para sermos felizes, dignos de amor, carinho e respeito. Todos nós podemos não ser perfeitos, e está tudo bem! A Psicologia e seus profissionais estão aqui para nos ajudar a descobrir que viver é muito bom”.

FONTE: www.neipies.com/por-que-a-psicologia-e-tao-importante-na-atualidade/

 

Autor: Luís Gustavo Dalchiavon Pies, estudante de Psicologia.

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