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“Quem diz o povo que eu sou?”

Dom Rodolfo Luís Weber - Arcebispo de Passo Fundo

As duas perguntas que Jesus faz são e serão sempre atuais: “Quem diz o povo que eu sou?”, “E vós, quem dizeis que eu sou?” (Zacarias 12,10-11;13,1, Salmo 62, Gálatas 3,26-29 e Lucas 9,18-24). Serão perguntas sempre atuais porque se está falando da pessoa de Jesus Cristo e também são pessoas que dão a resposta. As respostas dos discípulos apontam para as duas dimensões de Jesus Cristo: a sua humanidade e a sua divindade.

Os Evangelhos quando narram a vida de Jesus Cristo não podem ser entendidos como livros de história no sentido atual, mas “foram escritos para que creias que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome (Jo 20,31). Porém, os fatos do Evangelho aconteceram num ambiente vital específico e é a partir deles pode-se falar do Jesus histórico, dos quais destaco três aspectos da sua personalidade.

Os discípulos respondem a Jesus dizendo que o povo o tem como um profeta. Portanto, é alguém que ensina da parte de Deus. O ensinamento dele causava admiração, “pois ensinava como quem tem autoridade, não como os escribas” (Mc 1,22). Desde o momento que Maria e José reencontram o menino Jesus no Templo sentado com os mestres que “ficavam extasiados com sua inteligência e suas respostas” (Lc 2,47), até no julgamento onde Pilatos e Herodes fazem perguntas e querem ouvi-lo, toda trajetória tem as marcas de Mestre. Por vezes, se apresenta mais que um profeta, dizia: “ouvistes o que foi dito…Eu, porém, voz digo”. Não repete os ensinamentos, mas apresenta novos e originais. Além de trazer conteúdos originais, a sua maneira de ensinar era nova e encantava. Como resultado os ouvintes nunca ficavam indiferentes. As palavras se transformavam em fatos: os demônios fogem, as curas acontecem, os corações se abrem levando a fé ou os ouvintes de fecham se opondo a ele.

Jesus como homem livre contagia. “Jesus era assombrosamente livre. Ele era capaz de contradizer declaradamente as ideias, costumes e normas culturais da sociedade em que vivia. […]. Ele tinha a liberdade pessoal de fazer a vontade de Deus sem preocupar-se com aquilo que as outras pessoas pensavam ou diziam.  Ele tinha a liberdade de amar sem reservas, de amar tanto o mais pobre dos pobres como o jovem rico. Os piedosos ficavam escandalizados com o amor e a solicitude que ele demonstrava para com as prostitutas. Os pobres deviam ficar estupefatos com a cordialidade com que ele tratava os odiados cobradores de impostos, que exploravam o povo. O fato de essas pessoas o chamarem de beberrão e comilão não o impedia de comer e beber os alimentos e as bebidas impuras dos pobres. […] A liberdade radical de Jesus tornava-o completamente destemido. Para expulsar os comerciantes […] Jesus não teve medo de ninguém. […] Ele não estava apegado a nada nem a ninguém, nem sequer à sua própria vida ou ao êxito da sua missão. A sua liberdade não tinha limites, porque a sua confiança em Deus também era ilimitada” (Albert Nolan: Jesus hoje: uma espiritualidade de liberdade radical, p. 253-254). O modo de falar e a liberdade do agir de Jesus está bem resumida nesta afirmação dos guardas que foram enviados para o prenderam e não o fizeram: “Nunca alguém falou assim” (Jo 7,46).

Outra atitude de Jesus chamava atenção: a sua relação com o Deus Pai. Nela está a resposta às perguntas das pessoas sobre a sua origem: donde vem tanta sabedoria? e autoridade? Ele é transparente revelando a sua origem divina. Nos ensinamentos diz que sempre está em comunhão com o Pai e faz o que é da vontade dele. Porém, são as longas e frequentes horas de oração que revelam a relação de confiança, de afeto e amor que o unia com o Deus Pai. 

Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo 

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