Como rezar? Quando rezar? Jesus responde dizendo: “sempre, e nunca desistir”. A oração é um dos temas preferidos do evangelista Lucas. Apresenta a vida de oração de Jesus, principalmente em momentos decisivos da sua missão, além de ensinar repetidas vezes sobre o tema. Ao tratar com tanta frequência sobre a oração, revela que se trata de uma dimensão fundamental da vida cristã. Os textos bíblicos da liturgia acentuam alguns aspectos da oração cristã (Êxodo 17,8-13, Salmo 120, 2 Timóteo 3,14-4.2 e Lucas 18,1-8).
O ensinamento de Jesus termina com uma pergunta: “Mas o Filho do homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?” Fé e oração estão intimamente unidas. Se é verdade que para orar é preciso crer, também para crer é necessário rezar. A oração perseverante é expressão e alimento da fé em Deus. Dirigir-se explicitamente a Deus é ato de fé nele, na sua bondade, na sua presença e atenção.
A viúva, da parábola, se dirige ao juiz para que seja feita justiça. Ela é imagem de quem reza com fé. A viúva é insistente, não recua porque confia na justiça. É o exemplo de quem “reza sempre, e nunca desiste” e daqueles “escolhidos, que dia e noite gritam” por Deus. Ela tem certeza de alcançar a justiça que busca. A qualidade fundamental da viúva é a sua irredutível insistência que não aceita o silêncio do juiz, a amargura da sua indiferença e a sua maldade. Na parábola o juiz se apresenta assim: “Eu não temo a Deus, e não respeito homem algum”. Considerando estas características do juiz, mesmo assim faz justiça, não porque quer fazer justiça, mas porque a viúva o “está aborrecendo” e pelas possíveis consequências, que ela “não venha a agredir-me”. Se um juiz assim faz justiça, muito mais “Deus fará justiça aos seus escolhidos?” Deus é bom, generoso e misericordioso, por conseguinte, nunca devemos desesperar, mas insistir sempre na oração.
A oração cria responsabilidade. O orante questiona Deus sobre tantas situações de sofrimento, males, guerras e sobre o silêncio divino. Deus não fica indiferente. Por isso, a oração permite colocar-se diante de Deus com franqueza e na verdade. Não como servos medrosos, mas com a audácia e a confiança de filhos que falam com os pais com serena franqueza sobre todos os temas. A oração responsabiliza o orante por envolvê-lo totalmente nos conteúdos apresentados na oração. Também sobre ele recaem perguntas: são necessidades justas o que está sendo pedido? São desejos legítimos?
A oração de Moisés no alto da colina é modelo de intercessão pelas necessidades dos outros. Durante a oração ele tem na mão a “vara de Deus” através da qual, Deus operou maravilhas no caminho do êxodo. Moisés representa a fraqueza do povo sem a presença de Deus. A vitória na batalha não está nas estratégias de guerra e na força dos guerreiros, mas no poder de Deus.
A oração de Moisés aponta para o que caracteriza a oração bíblica: o reconhecimento da própria fragilidade. O ser humano chama e grita, porque não se basta a si mesmo. Reconhecer-se pelo que se é e reconhecer a própria vulnerabilidade é o início da sabedoria que conduz à oração. O homem não é autossuficiente. Ele tem necessidade do outro e sobretudo de Deus. Toda oração é um ato de confiança, de gratidão, de adoração ou de sofrimento que se coloca diante de Deus. Cada oração mostra a nossa dependência do Senhor da vida.
A oração cristã sempre deve ser alimentada pela Bíblia. Paulo exorta Timóteo a ter muito proximidade com as Sagradas Escrituras, pois “elas têm o poder de te comunicar a sabedoria que conduz à salvação pela fé em Jesus Cristo. Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, para argumentar, para corrigir e para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e qualificado para toda boa obra”. A escritura é repleta de orações que nos ensinam a rezar.
Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo