No dia em que Igreja celebra a solenidade os apóstolos São Pedro e São Paulo somos convidados a ter a atitude dos primeiros cristãos: “a Igreja rezava continuamente a Deus por ele (Pedro)” (Atos 12,1-11, Salmo33, 2 Timóteo 4,6-8.17.18 e Mateus 16,13-19). A missão que Jesus confiou primeiro a Pedro e depois a Paulo é sustentada pela oração da comunidade. Pois a missão de Pedro e hoje de seu sucessor Leão XIV não se baseia nas suas qualidades humanas, mas na fé e nas graças divinas.
Desde os primeiros séculos do cristianismo a solenidade dos dois apóstolos acontece no mesmo dia. O martírio deles aconteceu em tempo e locais próximos na cidade de Roma. Por causa disso, Santo Irineu de Lião, em meados do século II, falava da “Igreja fundada e constituída em Roma pelos dois gloriosos apóstolos Pedro e Paulo”. O sangue deles fundiu-se num único testemunho a Cristo. Os dois estavam em Roma dedicando inteiramente a vida ao Evangelho recebido de Jesus e por causa da Igreja que lhes foi confiada edificar e conduzir. Os dois testemunham que os sofrimentos oriundos da dedicação pastoral resultam em bem-aventurança, alegria e glória. Os dois foram mártires porque construíram a sua vida sobre a rocha, que é Jesus Cristo.
Os dois textos bíblicos da liturgia da solenidade que falam da pessoa e da função de São Pedro apontam claramente para a missão dele dentro na Igreja. Ele faz a solene profissão de fé: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. Esta proclamação constitui o conteúdo fundamental que a Igreja recebeu e deve transmitir. O anúncio da fé em Cristo é a contínua surpresa do ministério apostólico, é também a raiz da ação missionária da Igreja. O primeiro a proclamá-la deve necessariamente ser Pedro para conduzir a Igreja. Depois de proclamar a fé, Jesus disse: “Feliz és tu, Simão, Filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu”. A fé proclamada por Pedro é fruto da revelação divina e não produto da razão humana.
A seguir Jesus proclama: “tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja”. O símbolo usado é a pedra que indica solidez e estabilidade. Em Pedro e na Igreja manifesta-se o Evangelho a ser oferecido de forma contínua e sólida a toda humanidade. A leitura de Atos relata a solidez do fundamento quando Pedro é libertado de forma extraordinária. Ele testemunha: “Agora sei, de fato, que o Senhor enviou o seu anjo para me libertar”.
Do mesmo modo, toda vida e missão de São Paulo está vinculada à Igreja. Na autobiografia escreve: “Mas o Senhor esteve ao meu lado e me deu forças; ele fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente, e ouvida por todas as nações”. O começo desta missão evangelizadora de Paulo é relatado no livro de Atos dos Apóstolos (9,1-22). Estava indo a Damasco com o objetivo de prender cristãos para serem julgados em Jerusalém. No caminho tem um encontro com Cristo ressuscitado, que lhe pergunta: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” Saulo perguntou: “Quem és tu Senhor?”. A voz respondeu: “Eu sou Jesus, a quem estás perseguindo”. Jesus se identifica com a Igreja tornando-se um só sujeito. Ressuscitado Jesus não se afastou da terra retirando-se para o céu, mas fica visível na Igreja como Corpo de Cristo, no qual Ele é a cabeça da Igreja. “Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo?” escreve Paulo ao Coríntios (1 Cor 6,15).
Recordo a homilia de Leão XIV no início do ministério que a Igreja lhe confiou: “Amor e unidade: estas são as duas dimensões da missão que Jesus confiou a Pedro. […] A Pedro, portanto, é confiada a tarefa de “amar mais” e dar a sua vida pelo rebanho. O ministério de Pedro é marcado precisamente por este amor oblativo, porque a Igreja de Roma preside na caridade e a sua verdadeira autoridade é caridade de Cristo. Não se trata nunca de capturar os outros com a prepotência, com a propaganda religiosa ou com os meios do poder, mas trata-se sempre e apenas de amar como fez Jesus”.
Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo