No próximo dia 03 de fevereiro celebramos a memória facultativa de São Brás, bispo e mártir. Segundo os critérios da liturgia a memória é facultativa, ou seja, sem obrigatoriedade de celebração. Celebra-se considerando-se oportuno. Todavia, o povo, frente a tantas necessidades existenciais, adotou alguns santos como intercessores ou protetores. É convicção que brota a fé e dá consistência ao peregrinar humano. Nesta perspectiva adotou São Brás, como protetor contra os males da garganta.
São Brás viveu no século IV na região de Sebaste, atual Armênia. Formou-se em medicina e uniu o serviço de cuidado da saúde aos cuidados espirituais das pessoas do lugar onde vivia. Em obediência à Igreja assumiu a missão de bispo, se responsabilizando pelo pastoreio do povo da sua região e dando atenção especial aos mais necessitados. Na missão enfrentou grandes dificuldades, pois a fé cristã era considerada ilícita. O seguimento a Jesus Cristo legou para ele a perseguição e a morte. Ele assumiu este caminho corajosamente, como tantos mártires do seu tempo.
Quando foi levado para a prisão encontrou uma mãe desesperada, com seu filhinho nos braços, que estava sendo sufocado por um espinho ou isca de peixe cravado em sua garganta. O bispo abençoou-o e a criança recobrou imediatamente a saúde. Mesmo humilhado com a prisão e com a vida ameaçada não deixou de fazer o bem. Lembra Jesus, que no caminho do calvário, abençoou quem o acompanhava e até quem o maltratava.
Daí vem a tradição de invocá-lo contra os males da garganta. É um órgão humano extremante importante. Serve para a nutrição e para a comunicação. Sem a garganta sadia podemos nos fragilizar pela falta de alimento ou tornar difícil a comunicação pela deficiência do uso da voz. Sejamos capazes de invocar a sua proteção contra os males da garganta como sugere a memória celebrada e também das palavras que proferimos. Peçamos a proteção para que da garganta brotem palavras boas e positivas, jamais palavras de afastamento ou destruição. Como nos lembra o Papa Francisco. Sejamos capazes, no uso da voz, de construir pontes e não muros (EG).
No texto de Marcos 7,21 debatendo com os fariseus a questão da pureza/impureza Jesus afirma o ódio e calúnia como algo impuro que sai da boca do homem. Está em sintonia com outra expressão que diz “que a boca fala do que o coração está cheio”. Faz-se necessário nos precavermos contra os males físicos da nossa garganta de onde sai a voz, mecanismo de comunicação. Também é necessário nos precavermos dos males morais que por vezes nos assaltam, muitas vezes pronunciados através da nossa voz.
Em outro momento, durante sua missão, Jesus encontrou-se com um homem surdo e que falava com dificuldade. Deu uma atenção toda especial àquele ser humano o retirando da multidão, oferecendo-o a Deus e abrindo seus ouvidos e destravando sua língua utilizando-se de elementos da natureza. Com isso devolveu a ele a capacidade de ouvir e falar, interagir com seus semelhantes, sobretudo pronunciar-se sobre a verdade de Deus.
Ainda como iluminação vale lembrar o pedido de Paulo à comunidade de Éfeso, no contexto da busca da unidade na comunidade. Assim o apóstolo se expressa: que da boca de vocês não saia nenhuma palavra que prejudique, mas palavras boas para a edificação no momento oportuno, a fim de que façam o bem para aqueles que as ouvem (EF 4,29). Busquemos, usando nossa voz, construir processos de aproximação, dignificação humana e uma verdadeira amizade fraterna. Deus deu ao ser humano este dom. Seja bem utilizado.
O rito de bênção no qual utiliza-se duas velas cruzadas tem uma finalidade de saúde e de conversão permanente pela intercessão de São Brás. Acolhamos no dia 03 a bênção da garganta para nos libertar dos males possíveis. Acolhamos também o compromisso evangélico de usarmos nossa voz a serviço da verdade e da fraternidade.