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Ser cristão

Neste tempo litúrgico denominado Tempo Pascal estamos tendo a oportunidade de acompanhar pela reflexão bíblica proposta para as celebrações das comunidades cristãs o nascimento do cristianismo. A referência são os processos ocorridos após o fato da ressurreição testemunhado pelos discípulos de Jesus. A certeza da ressurreição de Jesus tirou o grupo dos seguidores do medo e da insegurança e os impulsionou à tarefa missionária como o mestre havia pedido (Mt, 20,16-20; Mc 16, 15; Lc 24, 52-53; Jo 20,21).
Conjunturalmente não havia mudado muita coisa, sobretudo no que diz respeito às perseguições impetradas pelos adversários judeus e romanos. Entretanto as perseguições não eram impedimento para a tarefa missionária. Era uma questão de fidelidade a Jesus continuar testemunhando seu nome e projeto, como afirmaram Pedro e João diante dos seus acusadores: não podemos nos calar sobre o que vimos e ouvimos (At 4,20), também expresso pelos cristãos da comunidade Joanina: o que vimos e ouvimos anunciamos a vocês (1Jo 1,3). A fidelidade ao homem de Nazaré era maior e mais urgente que qualquer dificuldade do caminho trilhado na fé.
A partir do testemunho corajoso dos seguidores de Jesus, especialmente da primeira e da segunda geração, foi se estruturando a comunidade cristã. Não foi, como escrito acima, um processo marcado por facilidades. Eles precisaram muita coragem e determinação para continuarem a missão em tempo de grande adversidade, colocando a própria vida em risco (cf. At 11,19). A fé no ressuscitado e a força no Espírito Santo permitiam que superassem qualquer empecilho para continuarem anunciando a Palavra (cf. At 11, 20-24).
O texto de Atos dos Apóstolos relata que na cidade de Antioquia, espécie de polo irradiador de missão, foram pela primeira vez denominados cristãos (At 11,26). Todavia cabe colocar-se a pergunta sobre o que significa ser cristão. Ou quais as exigências de assumir este nome. Vejamos alguns elementos.
O ser cristão é uma identidade. A expressão identidade diz respeito a algo que é próprio de cada pessoa, que a distingue de outras pessoas. No caso do cristão a identidade é individual, mas com forte acento comunitário. Por isso às vezes se usa a expressão “cristãos”, o conjunto dos seguidores de Jesus Cristo.  A identidade cristã é inaugurada no rito do Batismo. No Batismo, quando mergulhada, em Cristo a pessoa humana recebe uma identidade, assumindo o sentido mais profundo dessa condição, como afirma Bento XVI:  “no início do ser cristão não há uma decisão ética, ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo” (Deus caritas est n. 1). Tal identidade, assumida no Batismo extrapola da denominação das igrejas se faz também elemento de unidade, pois a condição que une as diferentes Igrejas cristãs é o batismo em Cristo.
Ser cristão é uma graça. No sentido de dom herdado do amor imensurável de Deus manifestado pelo Filho: “da mesma forma como o Pai me amou, eu também amei vocês. Permaneçam no meu amor” (Jo 15,9). O amor une a humanidade a Cristo porque Ele mesmo nos escolheu (Jo 15,16) fundado em um amor sem limites. Acolher o amor do Pai em Cristo e viver nesse amor na condição de cristão é verdadeira graça. O fato de sermos amados de Deus em Cristo é um grande alento em nossas vidas. É a graça de Deus atuando e nos movendo.
Ser cristão é também compromisso com a proposta de Jesus, aquilo que Ele sempre pregou e defendeu como um bem para toda a humanidade. Tal compromisso diz respeito à vida toda da pessoa. Não se é cristão em algumas horas, por alguns momentos, ou certo tempo. É um compromisso que envolve todo o ser humano e em todo o seu percurso existencial. Tem implicâncias no seu agir cotidiano. A pessoa deveria agir no mundo como uma pessoa cristã. Foi o que o Apóstolo Paulo pediu à comunidade dos Filipenses: “tendes os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus” (Fil 2,5). É também a responsabilidade assumida pela comunidade dos cristãos, a Igreja como expressa um trecho da Oração Eucarística para as Diversas Circunstâncias VI c: “fazei que todos os membros da Igreja, à luz da fé, saibam reconhecer os sinais dos tempos e empenhem-se, de verdade, no serviço do Evangelho. Tornai-nos abertos e disponíveis para todos, para que possamos partilhar as dores e as angústias, as alegrias e as esperanças, e andar juntos no caminho do vosso reino”.
Ser cristão é assumir corajosamente a cruz. Não tomemos esta expressão como sugestão de sofrimento inútil. A partir de Jesus a cruz deixou de ser vista como um instrumento de tortura para ser assumida como um sinal de responsabilidade compartilhada com a causa do Filho de Deus. Ele deixou este pedido aos discípulos: quem quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a cruz e siga-me (M 16,24). A cruz assumida como compromisso herdado da fé é identificação do compromisso e responsabilidade de todo aquele que se diz cristão. Segundo o Papa Francisco, assumir a cruz em nossos dias:  “não se trata de uma cruz ornamental, ou ideológica, mas é a cruz da vida, do próprio dever, do sacrificar-se pelos outros com amor, pelos pais, pelos filhos, pela família, pelos amigos e também pelos inimigos, é a cruz da disponibilidade a ser solidários com os pobres, a empenhar-se pela justiça e a paz. ” (Francisco, Angelus do dia 16 de junho de 2016). Implica em ofertar-se àquele que ofertou a sua vida por nós.
Por fim lembramos que o ser cristão ser fortalece na vida comunitária. A comunidade é o lugar que sustenta e expressa com fidelidade “o ser cristão”. A fé cristã não é cultivada de forma isolada ou individualista mas junto aos irmãos que têm a mesma identidade e por isso cultivam os laços de vida comunitária porque consideram importante na sua trajetória.
Possamos viver esta graça e compromisso.
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