Compartilhamos
aqui uma instigante reflexão do professor universitário Dirceu Benincá, editada
no site www.neipies.com
no dia 22/04/2023.
Recomendamos
leitura!
“O olho que foi feito
para enxergar bem, já não vê. O ouvido criado para ouvir cuidadosamente e com
atenção a todos, escuta só o que e a quem convém. A boca que deveria falar
palavras respeitosas, verdadeiras e construtivas, já não se abre para
comunicar. A cabeça colocada sobre o corpo para pensar, já não pensa de acordo
com a razão.
O coração onde deveriam
residir sentimentos de amor, já não é capaz de amar. O corpo inteiro que se
queria saudável, está doente. A doença que se resolvia com remédio ou bênção parece
que já não tem cura.
O médico que se preparou
com muita dedicação para tratar dos pacientes, está ele mesmo doente. O psicólogo
que se formou para cuidar da psique ferida e traumatizada, está também ele
transtornado. O professor que se esmerou nos estudos por longos anos para
ensinar, foi agora desprezado em seu saber. O político que foi eleito para
promover o bem comum, acabou por incitar a nação ao ódio. O juiz que foi escolhido
para praticar a justiça, passou a cometer crimes contra a democracia.
A escola que tinha por
finalidade desenvolver uma educação humanizadora, com visão crítica e
compromisso social passou a vender uma espécie de mercadoria de baixa
qualidade. A família que foi criada para ser ambiente de afeto e aconchego, tornou-se
espaço de difícil convivência e de relações conflituosas.
Assista
também conteúdo sobre a mudança do papel dos pais na educação de seus filhos e
filhas: https://youtu.be/LJTBoRNPkBU?list=PLDwf2YrZZoEeucIGZqaoL85hi78NKncC2&t=101
A religião que acompanha
a trajetória humana desde a sua origem e que visa o amor, a paz e a vida,
encheu-se também ela de sinais de violência e dominação.
A política que, conforme
Aristóteles, tem por finalidade primeira garantir a felicidade das pessoas em
sociedade, converteu-se em pesadelo só de falar nela, porquanto induz à
intolerância agressiva.
Os meios de comunicação
e, mais recentemente, as redes sociais que foram inventados para comunicar,
estabelecer conexões e facilitar a nossa vida em todos os aspectos, transformaram-se
em canais propagadores de mensagens falseadas ou falseantes, intoleráveis e
intolerantes.
A
sociedade que se pretendia caminhava num processo evolutivo, parece estar em
franca decadência.
O planeta que se almejava
fosse a Casa Comum, bem cuidada por todos, dá sinais de cansaço e pedidos de
socorro devido à sanha privatista, consumista e inconsequente de muitos. O céu
parece ter se rebaixado e as utopias terem se encolhido no tamanho e diminuído
de intensidade.
Porém, ainda somos os
mesmos, embora não o somos do mesmo jeito, mesmo porque não se pode banhar-se
duas vezes no mesmo rio, como dizia Heráclito de Éfeso. Sentimos em nós as
metamorfoses, enquanto a vida passa. Metamorfoses nem sempre evolutivas.
Na medida em que o corpo de
cada ser individual se modifica em sintonia ou dessintonia com o corpo social,
nossa alma ainda pode sonhar. Nosso espírito ainda pode ressurgir. Nosso sonho
ainda pode se alçar. Nossa esperança ainda pode se esperançar. Enquanto a vida pulsa, é possível mudar a
direção dos sentidos e dar aos sentidos nova direção!”
Autor: Dirceu Benincá, Professor da Universidade
Federal do Sul da Bahia (UFSB), Campus Paulo Freire – Teixeira de Freitas,
Bahia.
FONTE:
https://www.neipies.com/sobre-a-inversao-dos-sentidos/