Neste domingo celebramos a Solenidade da Ascensão do Senhor Jesus aos céus como ressuscitado, portanto, vitorioso, deixando para os discípulos a tarefa de continuarem a sua missão. O texto do Evangelho que fundamenta a reflexão desta Solenidade é extraído de Lucas (Lc 24,46-53).
É importante refletir este momento histórico na vida de Jesus e do discipulado em continuidade à missão iniciada na Galileia onde ele se apresentou na sinagoga, manifestando a disposição de cumprir a vontade do Pai como assim explicitou: “o espírito do Senhor está pobre mim porque ele me ungiu para anunciar a boa notícia aos pobres” (Lc 4,16). E a boa notícia se configurava de diferentes formas: “enviou-me para anunciar a libertação aos presos, e recuperação da vista aos cegos, para dar liberdade aos oprimidos e para anunciar o ano da graça do Senhor” (Lc 4,18-19).
Para dar conta da missão compôs o grupo do discipulado os convidando a serem “pescadores de homens” (Lc 5,1-11) ficando um tempo com eles e enviando posteriormente para visitarem as pessoas para anunciar a boa notícia do reino curando as pessoas. Os discípulos deveriam, basicamente, fazer o bem e para tanto não deveriam levar nada que atrapalhasse este compromisso primordial (cf. Lc 9, 1-6). Segundo Lucas, Jesus ampliou o grupo missionário para outros setenta e dois, aos quais deu as mesmas tarefas antes delegadas aos doze para que o que fizessem se configurasse um sinal do Reino (Lc 10 1-12). O grupo também era enriquecido pela presença de mulheres. E cada uma conheceu Jesus de forma diferenciada. Entretanto, para elas, a experiência deve ter sido tão válida ao ponto de se tornarem seguidoras do Mestre de Nazaré (Lc 8,1-3).
O contato com o povo era verdadeiramente transformador e eles viam, na presença de Jesus, Deus visitando a sua gente, uma visita boa e restauradora da vida. Assim expressavam: um grande profeta apareceu entre nós. Deus visitou o seu povo (Lc 6,16).
E Jesus foi semeando o bem, mas também enfrentando as consequências das suas opções. A decisão de ir para a cidade de Jerusalém (Lc 9,51) não foi para fazer turismo ou uma peregrinação religiosa. Era necessário chegar ao centro do poder econômico, político e religioso, que interferia direto na vida do povo. Não foi uma decisão tranquila para Jesus e o discipulado. A estadia na cidade, exceto a acolhida festiva por alguns discípulos e a multidão (Lc 19, 28-40), foi marcada por tensões e embates com as autoridades, culminando com a prisão e crucificação. Lembremos que a morte de Jesus não foi algo inusitado. Ela foi planejada. Lucas descreve como algo planejado pelos chefes dos sacerdotes e doutores da lei (Lc 22,1).
O tempo pós crucificação foi de medo e insegurança e dispersão para o discipulado. O que fazer? Lucas relata as aparições de formas diferenciadas como pedagogia de Jesus para ajudar o grupo a se convencer que não havia derrota. Ele havia ressuscitado e vencido a morte.
Primeiramente aconteceu um enfrentamento. As mulheres vão ao túmulo de madrugada procurar Jesus morto. Ele não estava lá. Não era seu lugar. Ele estava vivo. Por que procurar entre os mortos quem está vivo? Deveriam anunciar que Jesus estava vivo, ressuscitado com convicção e coragem. As mulheres, que foram discípulas de Jesus, seriam as portadoras deste grande anúncio. Todavia, ali deu-se o primeiro conflito. Os homens, também discípulos, não acreditaram no anúncio. Estavam ainda mergulhados na morte e não confiaram no testemunho feminino. Pedro foi conferir o relato e viu os sinais da ressurreição (Lc 24,12).
Em seguida, o próprio Jesus se manifestou a duas pessoas que iam para uma cidade chamada Emaús (Lc 24,13-32). De forma didática e com muita paciência os ajudou a compreenderem a nova realidade à luz dos fatos da História. Eles, que se retiravam do projeto, voltaram para Jerusalém. Deveriam continuar a missão sob outra perspectiva.
Por fim Jesus, crucificado-ressuscitado se manifestou a toda a comunidade reunida (Lc 24,36-49). Desejou ao grupo a paz. Questionou a perturbação e as dúvidas que tinham no coração. Apresentou-se como crucificado-ressuscitado, mostrando o corpo chagado, porém vivo e vitorioso. Pediu algo para comer e os convidou a partilhar do alimento, como fizera tantas vezes durante a jornada missionária. Em seguida situou o grupo, como fizera com os discípulos de Emaús, na História da Salvação, segundo as Escrituras e os convidou a serem testemunhas de tudo o que havia acontecido sob a força do Espírito Santo, ou seja, não estariam sozinhos.
Jesus, crucificado-ressuscitado, deu ao grupo dos discípulos o que eles careciam naquele momento de medo e incerteza: a sua presença como ressuscitado, a sua presença na palavra, a sua presença no alimento eucarístico. Mas deu também ao grupo uma responsabilidade, a continuidade da sua missão. Não fariam isso sozinhos. Receberiam a força do alto (Lc 24, 49), o Espírito Santo, para levarem para frente aquela obra. Feito isso, subiu aos céus. Era a sua Ascensão.
Os discípulos teriam a tarefa de continuarem aquela obra maravilhosa, começando por Jerusalém e se espalhando por todo o mundo. Somos continuadores dessa missão. E fazemos isso a partir de algumas condições: o Batismo que nos faz membros do povo de Deus e nos lega o compromisso de testemunharmos Jesus; a Palavra de Deus, escutada e refletida, que vai nos alimentando, fortalecendo na vida de fé e indicando os caminhos do testemunho cristão; a Eucaristia, alimento do cristão, compromisso com a missão de Jesus e alerta de ser sempre sinal de comunhão na Igreja; vida de Oração que permite nos aproximar de Deus a partir do chão da nossa vida.
Sejamos continuadores da obra de Jesus sob a inspiração do Espírito Santo.
Pe. Ari Antonio dos Reis