Na data em que se completam 30 dias da morte do padre Eduardo Pegoraro, assassinado junto à casa paroquial Nossa Senhora da Pompéia, o município de Tapera, na região do Alto Jacuí, literalmente parou na manhã desta segunda-feira, dia 22. Foi o momento das homenagens para o sacerdote, contando com caminhada e celebração campal.
As escolas não tiveram aulas e grande parte do comércio fechou as portas em respeito. Uma caminhada pela paz foi realizada a partir das 9 horas, com saída do Seminário Sagrado Coração de Jesus, com destino à Paróquia, onde foi celebrada missa campal, presidida pelo arcebispo dom Antonio Carlos Altieri, acompanhado pelos padres e seminaristas.
Pelas ruas de Tapera, percebia-se o sentimento de luto demonstrado pela população nos 30 dias de falecimento do padre Eduardo Pegoraro. Em frente às lojas, supermercados e agências bancárias, os funcionários, vestidos de branco, conduziam balões brancos e faixas com o pedido de “paz”.
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Confira a Homilia de Dom Altieri na Missa de trigésimo dia de morte do padre Eduardo Pegoraro (22/06/2015)
Meus caros Irmãos e Irmãs na Fé, antes de consagrarmos o Pão e o Vinho rezaremos este trecho do Prefácio dos fiéis defuntos. Será a mesma consagração que inúmeras vezes o padre Eduardo realizou, será o mesmo prefácio que seguramente ele tantas vezes rezou por fiéis quando os sepultava. Hoje somos que nós rezamos por ele.
Senhor para os que creem em Vós a vida não é tirada, mas transformada – é nesta cruel realidade da morte do nosso irmão, o padre Eduardo que surge o convite para crermos com toda força neste misericordioso ciclo da vida e da morte, pois justamente é isto que estamos fazendo nesta Santa Missa.
Rezando a morte do padre Eduardo, rezamos também a vida: a vida dele, a nossa, a vida do mundo e por isso pedimos paz. Pois não há vida sem paz!
Hoje aqui em Tapera nós caminhamos, rezamos, cantamos, choramos…tudo isso realizado na presença de Deus ganha força maior ainda, pois homens e mulheres de fé queremos olhar para os acontecimentos da vida, ainda que desastrosos e desumanos como a perda de nosso padre Eduardo, não com ódio, não com sede de vingança, mas confiantes e certos de que Deus é o auxílio que podemos recorrer e Ele não ficará indiferente ao nosso clamor!
Todo este nosso movimento realizado hoje, se distingue de uma manifestação, de um protesto. Mas é sim um ato de fé, fé de que com Deus nós podemos enfrentar a dor, fé de que podemos pedir a Ele o dom da paz, fé de que podemos com Deus, mostrar aos homens e as mulheres, ao mundo…como os cristãos vivem e buscam a paz. Evidentemente nossa humanidade clama a justiça e esperamos e pedimos a quem de direito que a faça valer. Seja ela justa e eficaz. Pois também aos olhos da fé sabemos que não existe paz sem justiça.
Passados esses trinta dias de morte do padre Eduardo, é natural que nós ainda soframos, choremos. Tudo isso muito inesperado, ainda pouco esclarecido. Entre as muitas informações, muitas opiniões surgem aquelas que querem deturpar e ferir. Também a estes que não prestam o serviço à verdade, por vezes caluniam… e, sem a devida informação emitem seus juízos. Nós como bispos, padres e fiéis leigos queremos dizer que a nossa oração alcança também a estes…nos desejo sincero que construam a verdade, pois ela nos liberta e nos torna verdadeiramente humanos!
Não se trata aqui de fazer acusações, defesas, ataques ou condenações. Não, a Missa não serve para isto, e esta também não é a forma dos cristãos agirem. Se trata sm, de tributar, agradecer e homenagear a memória do nosso querido e estimado padre Eduardo. Mas como fazemos isto? O fazemos com aquela singela, porém grandiosa forma pela qual o padre Eduardo deixou tudo, mas amou tudo, doou-se por inteiro. A Tua Palavra, a Tua Palavra Senhor! Por esta Palavra um dia o padre encantou-se, por esta Palavra ele viveu, por esta Palavra ele morreu.
E eis o que hoje a Palavra nos diz: fala de uma categoria de pessoas, as chama de Bem Aventuradas, isto é, de pessoas felizes, de pessoas santas. É como se nesta palavra das Bem Aventuranças, Nosso Senhor elogiasse tais pessoas. Que belo receber de Nosso Senhor! Mais belo é o poder pensar e, graças à fé nós podemos pensar. O padre Eduardo encontrando Jesus, certamente terá ouvido de Jesus este elogio: Bem aventurado, feliz és tu Eduardo – Manso, Humilde, Pobre, Caluniado, Injustiçado, Perseguido.
Quanto elogio poderia ter escutado. Vejam, meus irmãos, só pela fé esta mansidão, esta humildade, esta pobreza, esta injustiça, estas calúnias e esta perseguição se tornam elogios. É difícil compreender, é sim, para todos nós. Mas nós conhecemos o padre Eduardo e por isso sabemos da mansidão, da sua humildade. E também na dor de sua morte conhecemos a injustiça, a perseguição e a calúnia. Mas tudo isso vivivo na perspectiva da fé torna-se mérito diante de Deus.
As Bem Aventuranças são um auto retrato de Jesus Cristo e daquilo que Ele veio comunicar a nós, como desejo mais íntimo de Seu Coração. De tal forma, que cada um de nós é convidado a viver e a buscar estes mesmos princípios. Penso que em muito agradaríamos ao padre Eduardo, eu como seu bispo e pai, os padres como seus colegas e irmãos, e vós como seus fiéis e amigos se nós empenhássemos firmemente na vivências destas bem aventuranças. Ele as viveu também e muito nos ensinou a vivê-las.
O mundo de hoje precisa tanto de paz, de solidariedade, de perdão, de valores, enfim, precisa de Deus. E nisto nós Cristãos podemos fazer toda a diferença, dando um autêntico testemunho de paz e de amor. Por isso que hoje quando rezamos o trigésimo dia do padre Eduardo também rezamos a vida desta nossa sociedade, marcada por estas mazelas e que precisa ser alcançada como os valores da fé. Estamos destruindo a nós mesmos, as nossas famílias a sociedade de forma geral. Ah, coo seria tão diferente se a humanidade compreendesse e vivesse esta receita evangélica das Bem Aventuranças de Nosso Senhor.
Irmãos e Irmãs, caros padres, religiosos, religiosas e seminaristas, sempre diante de tamanho mistério, a morte, ficará a nossa pobre capacidade humana de apenas tentar compreendê-lo. Por isso, ponhamos tudo isso sobre o Altar da Eucaristia que estamos celebrando, a caminhada que fizemos, a nossa oração, a justiça, o perdão, o descanso eterno do padre Eduardo, a quem pedimos de junto de Seus olhe por nós! Peça a Deus o conforto aos nossos corações, especialmente de seus pais e irmãs, a paz para nossa sociedade e…muitas bênçãos para nossa Arquidiocese, a qual amaste e serviste na tua vida. Que a tua partida possa ser uma oferta agradável a Deus em favor desta nossa Igreja particular… Já diziam os antigos pais da Igreja: sangue de mártir, semente de cristão. Seja o teu sangue derramado padre Eduardo, unido a Sangue de Jesus na Eucaristia e revertido em graça para a santificação dos seminaristas dos padres, homens e das mulheres que ainda peregrinam nesta porção de Igreja que configura a Arquidiocese de Passo Fundo. Amém!!!
Dom Antonio Carlos Altieri
Arcebispo de Passo Fundo.
Fotos: Luiz Carlos Carvalho (Rádio Planalto).