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Teófilo

Quem está nos conduzindo neste ano litúrgico é o evangelista São Lucas. Ao escrever o Evangelho ele o dedica a Teófilo, nome grego que significa “amigo de Deus”. Portanto, é um escrito dedicado a todos os amigos de Deus e para quem quiser se tornar amigo de Deus. “Já não vos chamo de servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor. Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai” (João 15,15). Escreve São Lucas: “Muitas pessoas já tentaram escrever a história dos acontecimentos que se realizaram entre nós, como nos foram transmitidos por aqueles que, desde o princípio, foram testemunhas oculares e ministros da palavra. Assim sendo, após fazer um estudo cuidadoso de tudo o que aconteceu desde o princípio, também eu decidi escrever de modo ordenado para ti, excelentíssimo Teófilo” (1,1-4).

Lucas está escrevendo para pessoas que não conheceram pessoalmente Jesus Cristo e nem as testemunhas diretas, principalmente os apóstolos. Diante disso, o cuidado deve ser redobrado para escrever a história de Jesus Cristo com fidelidade. Em primeiro lugar, insiste na historicidade do acontecimento Jesus Cristo. Foi um fato acontecido “entre nós”, passível de documentação testemunhal, os fatos podem ser reconstruídos através da investigação e pesquisa atenta, se pode compor o quadro cronológico e geográfico, possibilitando “contar de modo ordenado” todo o acontecimento.

O “amigo de Deus” não tem relação com um “amigo imaginário”, “um fantasma”, “um mito”, “um símbolo” revestido de história, mas se relaciona com alguém real, uma pessoa, um personagem dentro do tempo, inserido na nossa história, centro e explicação da ligação entre o passado e o presente. A fundamentação histórica é o sustento da fé cristã. O ano jubilar, com o tema “Peregrinos de Esperança”, ressalta a ligação histórica de 2025 anos do evento Jesus Cristo. Os ensinamentos, as parábolas, as atitudes de Jesus Cristo são o referencial para o comportamento dos discípulos de hoje. Ao recordar o evento histórico não se pretende fazer uma simples aula de história, mas se faz memória para suscitar uma resposta de fé, uma resposta existencial e ética.

Para Lucas é muito querida a expressão “hoje” relacionando sempre com o Salvador. No nascimento os anjos anunciam aos pastores: “hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor” (2,11). Quando Jesus inicia a vida pública afirma: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir” (4,21). Diz a Zaqueu “hoje chegou a salvação a esta casa”.

Ressaltando a importância do hoje está-se afirmando que Jesus não é somente passado e nem somente futuro. É no tempo presente que ele atua e no qual se constrói a história de cada cristão fundamentada sempre no evento histórico. Cada momento é tempo propício de conversão. Cada dia é tempo propicio de salvação que o Senhor proporciona.

Quando Jesus afirma que “hoje se cumpriu esta passagem da Escritura” não está fazendo um comentário sobre a promessa de Deus, mas se apresenta como a realização da promessa. A Escritura se cumpre “hoje” nos ouvidos de quem a escuta. Todo Evangelho de Lucas será um ouvir a sua palavra que nos torna contemporâneos de Jesus Cristo. Ser cristão é fazer-se contemporâneo de Cristo, o Salvador. 

Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo

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