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Toda amizade é social

Repercutimos, nesta coluna semanal, interessante reflexão sobre o tema da Campanha da Fraternidade da CNBB 2024. Esta reflexão foi publicada no site neipies.com na data de 10/02/2024.

Recomendamos leitura!

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“Aparenta evidente dizer que a amizade é social. Porém, também o óbvio precisa ser reafirmado, sobretudo em tempos de tendências crescentes aos preconceitos, intolerância, privatização, indiferença e isolamento. Situações essas que facilmente vão se naturalizando e massificando. De pronto, vale ressaltar que toda amizade tem caráter social, uma vez que sempre implica relações entre duas ou mais pessoas.

À primeira vista, o conceito amizade traz a compreensão de uma relação virtuosa e humanizadora. Contudo, nem sempre as amizades têm como objetivo o bem comum e coletivo. Daí a importância de distinguir as intencionalidades, os conteúdos e as ações que decorrem das relações de amizade. Pode haver amizades com vistas a lesar, explorar, violentar, destruir, enfim conspirar a favor do mal. De outra parte, pode-se alimentar amizades voltadas para o cuidado mútuo e/ou de outros, para a fraternidade, a promoção da vida e da humanização.

Aristóteles, filósofo grego da Antiguidade, trata a philia como o conjunto dos laços e relações afetivas que caracterizam de modo particular os seres humanos. Philia pode significar ao mesmo tempo amor, amizade, bondade, solidariedade e irmandade. Para Aristóteles, a amizade “é uma virtude ou implica virtude, sendo, além disso, sumamente necessária à vida. Porque sem amigos ninguém escolheria viver, ainda que possuísse todos os outros bens” (Livro VIII de Ética a Nicômaco).

A amizade social é o tema da 60ª edição da Campanha da Fraternidade (CF) promovida pela Igreja Católica. Trata-se de uma grande utopia da Igreja e da sociedade que se quer vivendo relações saudáveis no sentido mais amplo do termo. É um ideal de vida plena, muitas vezes concretizado em algum grau no curso da existência. Acerca disso, é sugestivo o dito de Jesus de Nazaré e registrado pelo evangelista Mateus (23, 8): “Vós sois todos irmãos e irmãs”. Desejo esse assumido como lema da CF/2024.

Uma campanha para que haja fraternidade é sempre algo sintomático. De algum modo, expressa que ela, na prática, anda com dificuldades de se afirmar. De se instalar nos seres humanos socializáveis, mas nem sempre socializantes. É retrato da presença de barreiras, de divisões, de cadeias que isolam, de extremismos que afastam. Mas, ao mesmo tempo, é insistência de quem se sente no dever de estimular a unidade na pluralidade, relações verdadeiramente fraternas e não meramente toleráveis.

Surgida no conturbado contexto do golpe militar de 1964, a Campanha da Fraternidade pretendia desde o princípio chamar a atenção para questões cruciais que afetam toda sociedade. Na época, a preocupação central era o elevado grau de autoritarismo e violência social. A proposta partiu de dom Eugênio Sales visando promover a solidariedade e a dignidade humana. Objetivava também ser uma maneira de recepcionar as inovações do Concílio Vaticano II, realizado entre 1962 e 1965.

Amizade social é o oposto da guerra, do individualismo, da indiferença, do ódio e de comportamentos que a esses se alinham. A grande questão, nos tempos atuais marcados por tantos reveses políticos, sociais, econômicos, religiosos e ambientais, é como garantir que a amizade social se concretize de forma duradoura. Por certo, não é obra do acaso, nem tarefa fácil ou apenas de alguns. É desafio colocado para toda a sociedade.

A amizade social requer compreensão da realidade e diálogo; respeito às diferenças e unidade naquilo que é essencial. A amizade social com conteúdo humanizador é uma virtude a ser buscada de maneira pessoal, coletiva e contínua. Segundo o livro do Eclesiástico (6, 14): “amigo fiel é proteção poderosa, e quem o encontrar, terá encontrado um tesouro”. É sábio quem cultiva boas amizades e é capaz de propagar socialmente os seus frutos”.

Autor: Dirceu Benincá.

FONTE: https://www.neipies.com/toda-amizade-e-social/

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