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Todo racismo é abominável

 

Transcrevemos, para esta coluna,
uma genuína e interessante reflexão produzida pelo professor universitário
Dirceu Benincá, também publicada no site www.neipies.com

 

Segue a reflexão.

         

“O racismo é histórico e vigora intenso na
sociedade brasileira. Ele se multiplica de muitas formas, desde as mais veladas
e dissimuladas até as mais escancaradas e violentas, que asfixiam, sufocam e
matam. Nos últimos anos, esta prática parece ter se evidenciado ainda mais. O
racismo é um vírus perigoso e abominável que precisa ser estudado com
profundidade e combatido pela raiz. 

 

A pessoa racista discrimina, segrega, exclui
e barbariza as relações sociais. Ela vê o diferente como ameaça ou incômodo,
como incapaz, sem valor, sem direito ou sem dignidade. O racismo faz mal não só
para quem é atingido por ele, mas também para quem o pratica, embora o racista
nem sempre o perceba. Toda expressão de racismo vem acompanhada de algum grau
de perversidade.

 

Segundo Jessé Souza, “o aspecto principal de
todo racismo é a separação ontológica entre seres humanos de primeira classe e
seres humanos de segunda classe”[1].
Para o autor, no Brasil o racismo está associado à escravidão, questão essa que
nos caracteriza enquanto nação e explica a existência de muitas mazelas,
desigualdades e violências. Escravidão e racismo são dois lados da mesma moeda
que ainda seguem impactando diretamente no funcionamento da nossa sociedade.

 

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O racismo nega a identidade e fere a
integridade do outro e o seu direito de ser do jeito que é. Não se trata de um
acontecimento ocasional, mas de um fenômeno estrutural. É um problema social
que se manifesta também por meio da indiferença diante do sofrimento do outro,
da naturalização da miséria e da exclusão pelo fato desse outro ser de outra
cor ou de outra origem étnica.

 

Não há racismo ingênuo ou de brincadeira. O
que efetivamente acontece é que, muitas vezes, pela via da brincadeira ele
também se consolida como se fosse algo natural. O racismo se sustenta na
ideologia da supremacia racial, no mito da raça pura, nas tendências nazistas e
neonazistas, na política de branqueamento e em outras expressões higienistas.

 

Existe o racismo ambiental, científico,
cultural, institucional, pré-moderno, pós-moderno, neoliberal e com várias
outras configurações. 

O racismo não é um assunto a ser tratado de
forma isolada, mas como um problema sistêmico. Não adianta usar máscara e fazer
isolamento social para enfrentar o racismo. Igualmente, não há medida mágica ou
vacina pronta para imunizar-se contra ele. A questão é muito mais complexa.

 

Não basta não ser racista. É preciso ser antirracista. Não é suficiente
não ser violento. É necessário lutar pela construção da paz como sinônimo de justiça
e equidade social. A luta para superar o racismo precisa ser diária por parte
de todas as culturas, etnias, credos, idades, gêneros, línguas, classes, enfim
da sociedade em geral.

 

O avanço para um estágio em que haja
respeito efetivo às diversidades identitárias requer o combate constante ao
racismo e a promoção das políticas de igualdade racial. Para tanto, a educação
é o principal caminho. As Leis nº 10.639/03 e 11.645/08 assim o exigem,
estabelecendo diretrizes de uma educação para o respeito às relações
étnico-raciais.

 

Ademais, é preciso também garantir que os
racistas sejam responsabilizados por suas práticas, segundo a lei, em qualquer
situação que o racismo venha a ocorrer. Se é possível aprender a ser racista,
pode-se do mesmo modo aprender a ser antirracista. Mais que uma possibilidade,
esta é uma necessidade, pois o racismo é abominável sob todos os aspectos!”

(Autor: Dirceu Benincá)

 

FONTE: https://www.neipies.com/todo-racismo-e-abominavel/

 

 



[1]. SOUZA,
Jessé. A elite do atraso: da escravidão a Bolsonaro. Rio de Janeiro: Estação
Brasil, 2019, p. 19.

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