A Palavra de Deus, deste domingo do Mês da Bíblia, torna ainda mais evidente a importância que a Sagrada Escritura deve ter na vida do cristão. Os textos que a liturgia dominical propõe, (Isaías 55, 6-9, Salmo 144, Filipenses 1,20-24.27 e Mateus 20,1-16) quando escutados com ouvidos de discípulos, nos deixam encantados e constrangidos. Encantados pela sabedoria neles contidos e por revelarem o modo de Deus pensar e agir; constrangidos pela dificuldade que temos de mudar nosso modo de pensar e agir.
Através do profeta Isaías Deus fala em primeira pessoa: “Meus pensamentos não são como os vossos pensamentos, e vossos caminhos não são como os meus caminhos”. O salmista reconhece a grandeza de Deus e o bendiz: “Misericórdia e piedade é o Senhor, ele é amor, é paciência, é compaixão. O Senhor é muito bom para com todos, sua ternura abraça toda criatura”.
Estas palavras da escritura introduzem de forma solene o Evangelho que faz ver os caminhos e pensamentos de Deus. Jesus conta a parábola do dono da vinha (Deus) que sai contratando trabalhadores durante várias horas do dia. Precisa deles para fazer a colheita e ao mesmo tempo há gente procurando serviço. Ao final paga o salário combinado, isto é faz justiça. Ele concede a todos os trabalhadores o mesmo pagamento. Os trabalhares contratados no começo dia vão reclamar. A resposta que recebem é esta: “estás com inveja, porque estou sendo bom?”
A bondade vai além da justiça. A justiça está na medida do mérito, da retribuição do benefício recebido. A bondade foca a necessidade do outro. Podemos exemplificar com o que está acontecendo com as vítimas das grandes enchentes e desastres naturais. Toda a ajuda de alimentos, roupas, dinheiro, trabalho voluntário é fruto da bondade. Está-se olhando a necessidade dos atingidos. Toda tragédia provoca a nossa sensibilidade. O desafio é fazer da bondade um modo de viver cotidiano. Ir além de uma compreensão “econômica” e de interesse em relação ao próximo e nem esperar o reconhecimento, o elogio e a publicidade do bem feito.
Mauro Orsatti refletindo sobre os textos bíblicos em questão escreve: “Um Deus à medida do homem, compreensível, lógico e claro, não é Deus, é somente a nossa projeção. Pode acontecer a qualquer um de nós encontrar-se tão envolto nas próprias seguranças, que nos permite julgar e condenar os outros, inclusive Deus. Por vezes não nos damos conta de sermos prisioneiros de nós mesmos, de uma mentalidade, ou pior ainda, de prejuízos. (…) Procuremos o dom da luz do Evangelho, a fim de que possamos promover a verdadeira justiça, respeitosos de tudo e de todos, que se conjuga felizmente com o amor, aquele que provem do Senhor e que inflama a nossa vida, aquecendo a quem está à margem. Compreenderemos um pouco mais de Deus, aceitaremos de acolhê-lo na sua estupenda diversidade, nos tornaremos um pouco mais acolhedores também dos outros”.
São Paulo revela como sua vida foi transformada por Deus. Ele conseguiu viver e pensar como Deus. Seu testemunho aos Filipenses é comovente. “Cristo vai ser glorificado no meu corpo, seja pela minha vida, seja pela minha morte. Pois, para mim, viver é Cristo e o morrer é lucro”. Depois confessa que deixa sua vida e seu futuro na mão de Deus. Se Deus quiser e seu trabalho apostólico for frutuoso para o bem da pessoas, vai trabalhar com empenho. Também sente-se livre para partir para eternidade. E conclui com um desejo: “Só uma coisa importa: vivei à altura do Evangelho”.