Grupo Planalto de comunicação

Vocacionados à eternidade

Creio na vida eterna!

 

Celebramos hoje a memória de finados. A lembrança dos
entes queridos, marcada pela visita aos cemitérios e outros ritos
significativos, tem o acento da memória, da saudade e da prece. É um ato humano
e também um ato de fé.

A memória de
finados também lembra a toda humanidade algumas características marcantes da
sua trajetória. Duas estão entrelaçadas e muito próximas, a finitude e a fragilidade.
A finitude diz respeito ao horizonte físico-biológico. O corpo, matéria viva
inspirada pelo sopro divino (Gn 2,7)), não tem longa duração.  O corpo humano não é eterno. Com o passar dos
anos vai se fragilizando e perdendo o vigor. O horizonte da morte se faz mais
próximo. Se a ciência criou condições para o prolongamento da vida, não criou
condições para a sua extensão para além dos tempos.

A morte está no caminho de todo o ser vivo, mas
preocupa de modo especial o ser humano, porque este tem consciência dessa
realidade. A consciência da finitude assalta o ser humano todos os dias. A
resistência dada a esta condição a torna mais pesada ainda e advém o risco de
uma vida frustrada.

O reconhecimento da finitude ajuda a pessoa a ter uma
condição de vida mais humilde, sabendo do seu lugar no mundo. Sabe que segue
uma trajetória transitória, que durará o tempo que o Criador permitir. As
lápides dos cemitérios estão cheias de nomes e por trás dos nomes estão
existências que viveram por certo tempo no mundo e já não vivem mais. As
lápides denunciam a finitude humana.

A
fragilidade é outra condição humana. Está muito próxima à finitude. O ser
humano nasce frágil e permanece frágil. Ao longo da história foi buscando
instrumentais para compensar sua condição frágil. A inteligência e a
criatividade contribuíram. Contudo, permanece com essa limitação.

A criação de heróis pela indústria do entretenimento é
uma ilusão quanto à possibilidade da pessoa invencível e capaz de, inclusive,
vencer as forças da natureza, além de ser imortal. É uma quimera. O ser humano nasce
frágil e permanece frágil. É como a folha que voa guiada pelo vento. É
desafiado a assumir conscientemente a sua fragilidade e aprender a conviver com
ela.

A finitude e a fragilidade humana lembram a sua
mortalidade. O ser humano é mortal e esta é uma realidade imutável. Cada ser,
criado por Deus, passa pelo mundo, entretanto não permanece fisicamente neste
mundo. O texto bíblico afirma: como um sopro se acabam nossos anos. Pode durar setenta
anos nossa vida, os mais fortes
talvez cheguem a oitenta
(Sl 90,10). Hoje é possível chegar aos noventa ou cem anos. Mas ninguém
será eterno.  A morte está no horizonte do ser criado.

A morte como
fim de um projeto humano é relativizada pelo bem que se faz no mundo e pelo bom
testemunho dado. A pessoa será eterna se deixar sementes de eternidade na
sociedade e no coração dos que fizeram parte da sua história. A pessoa
permanece na memória dos seus porque deu sentido as suas vidas. Não percorreu
uma trajetória fechada, mas aberta e relacional. É um aspecto existencial
importante. Não existe dúvidas quanto à morte física. Entretanto, a memória do
que se fez permanece. Então a pergunta: o que estamos deixando neste mundo?

A tradição cristã lembra um segundo aspecto. Para os
cristãos a morte não é a última realidade do ser humano. Deus, que chamou à
vida, chama para a eternidade. O ser humano é chamado ao final da sua trajetória
a contemplar o rosto misericordioso de Deus glorificado na morada que Jesus
preparou (Jo 14,2).  Então a vida não é
perdida pela morte, mas transformada pela graça e amor de Deus. Em Jesus Cristo
chega para toda a humanidade a certeza da ressurreição (1Cor 15,21).

A certeza de nossa fé, na ressureição, deve levar a
cada cristã a uma verdadeira conversão em sua vida. A vida eterna é a meta de
um longo caminho, que percorremos durante nossa existência terrestre. Cada
pessoa, é chamada por Deus a corresponder ao seu amor, com gestos concretos em
sua vida. Deste modo, a fé na eternidade deve levar há um exame de consciência
pessoal, como eu estou vivendo minha vida hoje? Os caminhos pelos quais eu
tenho percorrido, são correspondentes a minha fé?

Ao olharmos as lápides de nossos entes queridos,
devemos fazer memória de suas vidas e escolhas, ao mesmo tempo que olhamos para
a nossa própria existência. A vida humana possui infinitos caminhos, mas o
tempo que nos é dado, limita nossas possibilidades de ação. Deste modo, recai
sobre nossa vida, o drama de nossas escolhas. Existem aquelas que decidem de
modo vital os caminhos que seguiremos, essas constituem e moldam toda nossa
vida. Deus chamou á cada pessoa a existência por puro amor, Ele nos sustenta, e
a cada instante nos ama. Deus pede uma resposta ao seu amor, que dá a todos
livremente. Que em nossa vida, saibamos trilhar os caminhos de Deus e
corresponder de modo maduro ao seu amor, e se por ventura cairmos neste
caminho, que possamos voltar ao Senhor, pois ele sempre nos espera.

A visita aos cemitérios assinala a finitude humana. A
visita aos cemitérios feita sob o estatuto da fé reitera a vocação do ser
humano à eternidade. Que animados pela fé na eternidade e na certeza do grande
amor de Deus por cada um de nós, possamos viver nossa existência debaixo do
bondoso olhar de nosso Pai. E neste dia em que fazemos memória de nossos irmãos
e irmãs que já partiram, possamos rezar por eles. E rezando por eles, possamos
preparar também nossa vida, para este belo encontro.

 

Pe. Ari Antonio dos Reis

Acadêmico Júlio Cesar da Silva
Sardá

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