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30 anos de dedicação para salvar uma espécie inteira: A importância da preservação do Papagaio-Charão

Uma das melhores formas de se refrescar no verão é com sombra e árvores. Mas já imaginou como seria se você tivesse sua casa invadida ou ‘arrancada’ de lugar? Esse é um dos problemas que o Projeto Charão, um projeto de extensão desenvolvido pelo Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Passo Fundo (ICB/UPF), juntamente com a Associação Amigos do Meio Ambiente (AMA), de Carazinho, tenta evitar há mais de 30 anos.

O Projeto Charão iniciou suas atividades em 1991, inicialmente focando nas pesquisas para conhecer a biologia, ecologia e comportamento do papagaio-charão e do papagaio-de-peito-roxo. A presença dessas aves chamou a atenção e também trouxeram muitas dúvidas como: De onde vieram? Como chegaram até aqui? Para onde vão? Do que se alimentam? Como se reproduzem?

Para obter essas respostas o coordenador do projeto, professor Dr. Jaime Martinez, contou com a colaboração de muitos voluntários e alunos. Com uma ampla pesquisa concluiu-se que o papagaio-charão era mesmo um visitante da região, e que costumava transitar por vários locais e se quiséssemos a permanência da espécie muitas ações precisavam ser feitas.

Para aumentar a população da espécie é preciso primeiro preservar a árvore araucária, isso se dá pelo fato de que a principal fonte de alimento do papagaio-charão é o pinhão, que provém de pinhas das araucárias. Sem as árvores e o alimento as aves irão migrar para outros lugares, correndo o risco de serem capturadas em regiões desconhecidas.

Desde o início o projeto vem desenvolvendo atividades que buscam diminuir o risco de extinção do papagaio-charão, são elas:

1) Instalação de caixas-ninho: cerca de 400 caixas-ninho foram instaladas nas regiões de reprodução do papagaio-charão, muitas delas em propriedades particulares, todas são monitoradas ao longo do ciclo reprodutivo do papagaio-charão. Esta estratégia tem o envolvimento dos proprietários de terra que se comprometem na preservação de suas matas. Tal comprometimento envolve a proibição da retirada dos filhotes de charões ainda nos ninhos, manutenção de árvores velhas com cavidades que poderão ser os futuros locais de reprodução da espécie, evitar a presença do gado bovino no interior dos fragmentos florestais garantindo o processo de regeneração da floresta. O enriquecimento das matas nativas através do plantio de espécies é também uma atividade conservacionista desenvolvida pelo Projeto Charão.

2) Guarda-ninho: mesmo com as inúmeras campanhas de conscientização, infelizmente a captura de filhotes para comercialização ainda é grande. Por isso, alguns ninhos ocupados pelo papagaio-charão são protegidos integralmente através da participação do guarda-ninho, que permanece em uma cabana camuflada observando o comportamento do papagaio-charão desde a ocupação da cavidade até a saída dos filhotes no ninho.

3) Radiotelemetria: é uma técnica utilizada para acompanhar as rotas de deslocamentos da população. Consiste na instalação de rádios-transmissores preferencialmente em filhotes ainda em seus ninhos. O rastreamento é realizado com auxílio de um automóvel e têm início com o despertar dos papagaios nos dormitórios, sua movimentação diária e o seu retorno no final da tarde ao dormitório-coletivo. Desta forma, pode-se obter informações precisas do papagaio-charão, como a extensão de seus deslocamentos diários, a área de uso e suas rotas da migração, buscando ampliar a eficiência das medidas conservacionistas adotadas em prol da espécie.

4) Programa de Reprodução: o Projeto Charão, em parceria com a Universidade de Passo Fundo, realiza estudo com o papagaio-charão em cativeiro no Centro Reprodutivo de Psitacídeos — William Belton (CREP). No CREP a reprodução do papagaio-charão foi obtida a partir de 1996. Porém, esta espécie é extremamente exigente. É necessário aplicar conhecimentos sobre seu comportamento e ecologia para o bom manejo das aves. No CREP os filhotes que nasceram, hoje estão em atividade de reprodução.

5) Educação Ambiental: o projeto também busca fazer palestras em escolas do RS E SC. O principal objetivo é conscientizar alunos e professores sobre a situação problemática do papagaio-charão e o ambiente florestas com araucárias. Folders e cartazes são materiais que auxiliam nas campanhas conservacionistas.

Para o professor responsável pelo projeto, ter todas essas ações de comprometimento e também conseguir conscientizar pessoas e obter apoio e ajuda é algo fundamental dentro da área acadêmica e da pesquisa. “É uma ação que converge tudo que a Universidade permite. Pesquisas a campo, leituras, publicações, troca de experiências, vivências, elaboração de novos métodos e levantamentos que permitem mudar uma realidade. Isso somente é possível com a união de muitos esforços”, relata.

O objetivo é manter o projeto sem data limite, a preservação da espécie é um desafio diário e que deve ser mantido de forma contínua, se não vitalícia. Para Jaime Martinez os jovens, futuros e atuais acadêmicos são muito importantes para que o papagaio-charão continue se reproduzindo.

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